Emergência climática: causas e consequências

A emergência climática está diretamente ligada ao aquecimento global, às mudanças climáticas e todas as consequências geradas a partir disso. As mudanças climáticas tornam o clima instável, aumentando e intensificando o risco de desastres, atingindo toda a população mundial. 

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), está mais do que comprovado que o aquecimento global e a mudança do clima estão sendo desencadeados pela atividade humana, ao longo das décadas. 

O que significa ‘emergência climática’?

O dicionário Oxford elegeu emergência climática como o ‘termo do ano’, em 2019, devido à sua relevância e significado cultural. De acordo com a publicação, a expressão significa “uma situação em que se faz necessária uma ação urgente para reduzir ou cessar as mudanças climáticas e evitar, como resultado, danos ambientais potencialmente irreversíveis”. 

Com um número cada vez maior de eventos climáticos extremos, que devem ocorrer de forma intensa ao longo do século 21, esse não é um evento futuro, o planeta já está em estado de emergência climática.

Alerta da ciência

Ainda em 1992, mais de 1700 cientistas assinaram o World Scientists’ Warning to Humanity, um relatório que, desde o início, alertava sobre os efeitos da emissão de gases de efeito estufa (GEE) no aumento da temperatura global. 

Foto de Chris LeBoutillier no Unsplash

Já em 2022, um artigo, publicado pelo Oxford University Press, destacou o 30º aniversário do documento, reforçando que houve um aumento de 40% nas emissões de GEE desde então, fazendo com que o planeta atingisse o ponto de emergência climática. Segundo a publicação, com base nas políticas atuais, a Terra deve aquecer 3°C até 2100.

Para os mais leigos, um aumento de 3°C na temperatura pode parecer pouco, mas esse valor pode causar um enorme impacto negativo no planeta. Entre 2023 e 2024, a temperatura global aumentou metade desse valor, 1.5°C. Esse fator foi o suficiente para desencadear uma série de eventos climáticos extremos por todo o mundo.  

No Brasil, por exemplo, em 2024, o Rio Grande do Sul foi devastado por chuvas extremas e inundações que deixaram praticamente todo o estado debaixo d’água. No Norte do País, uma seca histórica somada a uma forte onda de calor, em setembro de 2023, aqueceu a água do rio Amazonas e causou a morte de mais de 100 botos e tucuxis. Desastres que antes eram considerados raros, segundo os cientistas, tendem a se tornar mais frequentes e intensos.     

Aumento da temperatura global

Dados do Copernicus Earth Observation Programme mostram que a temperatura global vem se superando continuamente. O mês de junho de 2024 foi o 13º mês consecutivo a bater recorde de temperatura, registrando o aumento de 1.5°C acima da era pré-industrial. 

De acordo com os pesquisadores, o período entre junho de 2023 e junho de 2024 foi considerado, até então, mais quente do que qualquer outro período de 12 meses já registrado. Junho de 2024 foi 0.14 °C mais quente do que no ano anterior.

O aumento de temperatura atingiu 0.76 ºC acima da média, considerada entre 1991 e 2020. Em relação à média calculada para o período pré-industrial, tomando como base os anos entre 1850 e 1900, a temperatura média global subiu 1.64 ºC.

Na Europa, as temperaturas atingiram um valor médio de 1.57°C acima da média, causando ondas de calor. Além disso, o mês foi mais úmido do que o normal em alguns locais, causando fortes chuvas e inundações em regiões da Alemanha, Itália, França e Suíça. 

Por outro lado, períodos de secas acima da média atingiram grande parte da América do Sul, partes da América do Norte e algumas regiões da Ásia. O período também foi agravado por incêndios florestais e queimadas, na Rússia e em vários países da América do Sul, incluindo o Brasil.

Algumas regiões da América do Norte enfrentaram um mês de junho mais úmido do que a média, com tempestades extremas, acompanhadas do furacão Beryl, de categoria cinco.

Além disso, a temperatura média da superfície do mar nas regiões dos círculos polares atingiu 20.85 °C, a temperatura mais alta já registrada, batendo recorde pela 15ª vez. Com isso, a extensão de gelo marinho da Antártida ficou 12% abaixo da média.

Como lidar com a emergência climática?

A melhor forma de lidar com a emergência climática é limitar o aquecimento global. Segundo a ONU, evitar que a temperatura aumente mais do que 1.5 °C é uma prioridade e para que isso aconteça é fundamental reduzir as emissões de GEE.

Dados do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) mostram que o dióxido de carbono (CO2) representa mais de 65% dos GEE. A maior parte de CO2 é emitida a partir da queima de combustíveis fósseis

Além disso, segundo o International Methane Emissions Observatory (IMEO), o gás natural, muitas vezes apontado como uma alternativa mais ecológica dentre os combustíveis fósseis, é rico em metano, que tem um potencial deletério 80 vezes maior do que o CO2, podendo persistir por 20 anos na atmosfera, após sua emissão. 

Optar por uma transição energética justa, diminuindo a dependência dos diversos setores por combustíveis fósseis, optando por fontes renováveis e sustentáveis de energia, é uma das ações mais importantes para evitar consequências ainda mais graves, causadas pelo aumento da temperatura do planeta.

A conservação do meio ambiente é também essencial para lidar com a emergência climática, tanto de ecossistemas terrestres quanto aquáticos, pois ajuda a mitigar o desequilíbrio, limitando também as emissões de carbono.

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Adaptação, resiliência e justiça climática

De acordo com o Banco Mundial, as ameaças geradas pela mudança do clima existem e não podem mais ser contornadas. Por outro lado, os impactos podem ser atenuados, principalmente por parte do poder público. 

É importante destacar também a necessidade de garantir a justiça climática. Isso porque a crise gerada pelo clima escancara ainda mais as desigualdades sociais já existentes. Quanto menos recursos tem a população, maior é o impacto sofrido com os eventos climáticos. 

Nesse sentido, ações que estabeleçam políticas públicas funcionais, voltadas aos serviços básicos de saúde, infraestrutura, proteção social e econômica, são o primeiro passo para fortalecer essa parcela da população.

A criação de políticas voltadas para a adaptação e a resiliência climática podem contribuir para a redução da pobreza, a diminuição da desigualdade climática e o aumento do bem estar e da qualidade de vida da população. Além disso, o Banco Mundial defende que é possível sustentar um desenvolvimento econômico que seja capaz de suprir as exigências determinadas pelo panorama climático atual. 

Na verdade, toda a sociedade desempenha um papel fundamental na busca pelo equilíbrio do planeta. O consumo desenfreado de bens com obsolescência programada causa, de muitas formas, degradação ambiental e contribui para o avanço das alterações no clima e para a desigualdade climática. Nesse aspecto, os cidadãos, enquanto consumidores, têm um papel fundamental com suas escolhas.

Além disso, analisar planos de desenvolvimento urbano e uso da terra também é essencial. Repensar o desenvolvimento das cidades e sua infraestrutura pode evitar calamidades e proteger a população. Se antecipar às catástrofes, tendo em mãos planos de ação para gestão de emergências, podem auxiliar na recuperação de toda uma comunidade atingida.

Bruna Chicano

Cientista ambiental, vegana, mãe da Amora e da Nina. Adora caminhar sem pressa e subir montanhas.

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