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Em novo artigo, o cientista de dados Sheldon Jacobson explica como as emoções interferem na avaliação dos riscos relacionados à pandemia

As pessoas tendem a superestimar ou subestimar o risco. A pandemia é um reflexo disso. Imagine alguém usando uma máscara N95 enquanto caminha com seu cachorro por um parque deserto. Agora compare essa cena com um evento bastante diferente: alguém entrando em um bar lotado, área fechada com altas taxas de transmissão do novo coronavírus, sem máscara.

O risco é a consequência de fatores lógicos e físicos, tanto qualitativos quanto quantitativos. Um computador pode combinar todos eles em uma medida que captura a probabilidade, os benefícios e o custo da ocorrência de um evento.

As pessoas, por outro lado, tendem a avaliar o risco emocionalmente. Essa tendência explica por que muitos acreditam que viajar de avião é mais arriscado do que dirigir, embora, estatisticamente, o inverso seja verdadeiro.

O que as pessoas costumam confundir com risco é a falta de controle. Essa é uma das razões pelas quais muitos se preocupam com os veículos autônomos, em que algoritmos de inteligência artificial controlam a direção e a frenagem.

As pessoas aceitam riscos quando avaliam favoravelmente os benefícios percebidos ou potenciais em relação aos custos associados. Essa compensação explica por que as pessoas apostam em jogos de cassino e loterias, embora o retorno esperado seja negativo.

Como um cientista de dados com experiência em tomada de decisão baseada em dados sob incerteza, venho observando como as pessoas reagem aos riscos associados ao novo coronavírus desde o início da pandemia. A escolha de se vacinar, por exemplo, envolve vários fatores, pessoais e públicos, que devem ser pesados ​​para basear as decisões. Para alguns, essa decisão é óbvia. Para outros, está envolta em uma névoa de dúvidas.

No centro de todas essas decisões está a maneira como você, como indivíduo, avalia o risco e toma decisões com base em suas avaliações. Quais são as diferentes perspectivas que levam a diferentes maneiras de avaliar os riscos? Construir pontes entre essas perspectivas é crucial para alcançar um compromisso social saudável.

Uma pandemia, diferentes perspectivas

Existem duas perspectivas gerais para a Covid-19: vamos chamá-las de “receptivas” e “céticas”. Uma ampla divisão de crenças de risco sobre o vírus e sobre as vacinas separa esses dois grupos.

No geral, as pessoas que fazem parte da fatia receptiva enxergam a pandemia cientificamente. Elas encaram a situação como uma grande crise de saúde pública, mas há uma enorme carga de emoção envolvida quando consideram seus impactos e o melhor caminho a ser seguido.

As pessoas receptivas sabem que muitas vidas foram perdidas nos EUA e apoiam as respostas da sociedade tomadas até agora: isolamento social, quarentena e fechamento de escolas ou restaurantes. Elas encaram a variante delta como a ameaça emergente mais recente, aceitam as recomendações para o uso de máscaras em público e acreditam que todos devem ser vacinados.

Por outro lado, a fatia cética tende a encarar o novo coronavírus com preocupação equivalente à de gripes sazonais ou resfriados comuns. Essas pessoas reconhecem o alto número de vidas perdidas, mas acreditam que as vítimas provavelmente morreram em virtude de outras comorbidades – e que o vírus, portanto, teria apenas acelerado o final trágico que tiveram. Além disso, elas questionam a eficácia e os benefícios das medidas de contenção da Covid-19.

Muitas delas creem que uma infecção anterior pelo novo coronavírus as protegerá contra a variante delta e que as máscaras são ineficazes para impedir a propagação do vírus. Elas também desconfiam das vacinas – exceto, talvez, para as pessoas estatisticamente mais afetadas pela pandemia, como os idosos –, defendendo que a imunidade natural seria a a melhor defesa.

Ambas as percepções contêm uma mistura de observações válidas, crenças errôneas e desinformação. Por exemplo, a percepção receptiva reflete uma aversão ao risco. Aqueles que fazem parte desse grupo superestimam o risco do vírus no nível pessoal. Assim, eles consideram os piores cenários como resultados esperados. Para este grupo, os benefícios das medidas de isolamento superam seus custos.

Já a percepção cética reflete uma alta tolerância ao risco. Suas ações sugerem que eles subestimam o risco do vírus no nível coletivo. Por isso, as pessoas que se encaixam nesse grupo consideram os melhores cenários como resultados esperados. Esse grupo acredita que os benefícios já comprovados das ações contra a propagação do vírus não justificaram seus custos.

É preciso encontrar um meio-termo

O meio-termo é onde está a verdade e onde o risco pode ser avaliado. Mas o que exatamente seria esse meio-termo, baseado em fatos?

  • Até o momento, mais de 615 mil pessoas morreram nos EUA, sendo que 95% delas tinham mais de 50 anos. Essa vulnerabilidade ajuda a explicar por que grupos de idade mais avançada têm se mostrado mais receptivos à vacinação.
  • As máscaras e o distanciamento social são comprovadamente eficazes na redução da transmissão do vírus. Se não fossem, outras doenças infecciosas, como a gripe e o resfriado comum, não teriam praticamente desaparecido no ano passado.
  • Cada pessoa infectada apresenta uma nova oportunidade para o vírus sofrer mutação. Foi assim que surgiu a variante delta. As vacinas disponíveis fornecem a maneira mais confiável de prevenir hospitalizações e mortes pelo vírus.

Com tantos fatores revelando a relação de benefícios e de custos da vacina, a tomada de decisão informada requer uma avaliação de risco que, na melhor das hipóteses, é desafiadora e, na pior, é simplesmente esmagadora. Isso leva as pessoas a simplificarem seu processo de decisão a um único fator, restringindo efetivamente sua avaliação de risco. O campo da análise de decisão foi criado para informar esses processos complexos. Ele fornece um conjunto de ferramentas para equilibrar sistematicamente vários critérios ao se tomar uma decisão.

Mesmo com todos os dados disponíveis, as fatias receptivas e céticas baseiam suas avaliações de risco na emoção. Pessoas receptivas temem o impacto do vírus sobre si mesmas e sobre população, mostrando-se dispostas a aceitar intervenções recomendadas por funcionários de saúde pública para melhorar tais resultados. O resultado final são comportamentos que ajudam a reduzir, mas não interrompem, a propagação do vírus.

Pessoas céticas não confiam nas intervenções adotadas por agências governamentais, acreditando que são desnecessárias e ameaçam os meios de subsistência, o bem-estar pessoal e a escolha individual. O resultado final são comportamentos que não ajudam a reduzir a propagação do vírus, porque se acredita que a necessidade de interrompê-lo é exagerada.

Pessoas com percepções receptivas e céticas do vírus não foram capazes de encontrar muitos pontos em comum. Os mesmos conflitos existem em torno de soluções para as mudanças climáticas e outras políticas públicas nos EUA relacionadas a questões sociais, como crescimento econômico e criação de empregos.

Superar as divisões filosóficas exige que cada grupo se sinta seguro em sua posição e tenha a oportunidade de ser ouvido. Usar dados e fatos para construir consenso pode ser eficaz. Com vários critérios ponderados de forma diferente por cada perspectiva, todos podem ser analistas de decisão para ajudar a chegar a um lugar-comum.

Etapas como essas ajudariam a reduzir a divisão entre as reações ao novo coronavírus – e, possivelmente, até contribuiriam para acabar com o caos social que eclodiu em resposta à pandemia. É difícil imaginar, a esta altura do campeonato, um número suficiente de cidadãos deixando de lado as emoções para, em vez disso, calcular desapaixonadamente os custos e benefícios em torno da vacinação, uso de máscaras e todas as outras intervenções de saúde pública.

Há um caminho a se seguir. A chave para acabar com a pandemia é fazer os dois grupos caminharem juntos.

Sheldon H. Jacobson é cientista de dados e professor de Ciência da Computação na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, EUA.


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