“Nossa posição é clara: nós queremos ser capazes de continuar comprando ou investindo na indústria da soja brasileira, mas se a Moratória da Soja na Amazônia não for mantida, isso colocará em risco nossos negócios envolvendo o produto”. A frase é um recado a produtores, governo e grandes investidores (traders) operando no Brasil, e não deixa dúvidas: sem a Moratória da Soja, as portas da Europa – um mercado de US$ 5 bilhões/ano – podem se fechar para o principal produto agrícola de exportação do país.
A mensagem faz parte de uma carta aberta de mais de 80 investidores e empresas consumidoras da soja brasileira, em reação a uma campanha contra a Moratória da Soja iniciada em outubro deste ano por produtores do grão do Estado do Pará. Eles afirmam ser apoiados pelo governo Bolsonaro, que, por sua vez, tem trabalhado para enfraquecer órgãos e políticas fundamentais de combate ao desmatamento.
O Greenpeace entende que, no contexto atual, onde a governança ambiental foi fortemente reduzida no Brasil, a postura das empresas compradoras da soja brasileira é fundamental. A Moratória da Soja, vigente desde 2006, tem se mostrado eficaz em reduzir a participação da cadeia de soja no desmatamento direto na Amazônia. Essa importante ferramenta reduziu em quase 80% o desmatamento nos 95 municípios produtores do grão.
No entanto, isso não basta: as empresas signatárias da moratória na Amazônia são as mesmas que operam sem controle no Cerrado, onde a expansão acelerada da cultura da soja traz uma série de impactos negativos, incluindo violência contra comunidades locais e desmatamento de um bioma já altamente ameaçado, como mostra o relatório recém-lançado “Cultivando Violência”, do Greenpeace Internacional.
“Vivemos em um período de emergência climática, política antiambiental e escalada de violência do campo. É inexplicável e inaceitável que as traders signatárias da Moratória na Amazônia mostrem tanta resistência em expandir o acordo para outras regiões sensíveis, como é o caso do Cerrado”, questiona Paulo Adário, estrategista sênior de florestas do Greenpeace. “Elas devem oferecer a seus clientes apenas produtos que tenham origem comprovada e livre de desmatamento e violência”.
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