Enchente, inundação e alagamento: entenda as diferenças

Enchente, inundação e alagamento são três fenômenos distintos, causados por chuvas intensas e relacionados ao poder destrutivo que grandes volumes de água podem causar. 

Enchentes e inundações são fenômenos naturais, que ocorrem com a subida do nível da água de rios ou canais. Em áreas metropolitanas, esses eventos causam estragos e prejuízos, sendo agravados pela falta de planejamento urbano e por construções que não consideram as regiões de várzea dos rios ou drenagem de águas. Do mesmo modo, os alagamentos, causados pelo acúmulo da água e deficiência de escoamento, também evidenciam a ineficiência na infraestrutura das cidades.

Qual a diferença entre enchente, inundação e alagamento?

Enchentes

De acordo com Carlos Tucci, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as enchentes podem ocorrer tanto em áreas urbanas quanto em áreas ribeirinhas. 

Enchentes em áreas ribeirinhas são consideradas processos naturais, consequência de chuvas intensas. Nessas ocasiões, por conta do grande volume de água, os rios extrapolam sua calha (leito menor) e seu leito maior é inundado (várzea ou planície de inundação). Essas regiões, quando conservadas, mantêm vegetação adaptada à umidade, formando a mata ciliar.

Por outro lado, rios situados em áreas urbanas também sofrem o processo de cheia natural, mas com um agravante: as mudanças do uso do solo. Áreas de várzea são desmatadas e ocupadas pela população.

O grande problema, principalmente nas grandes cidades, é a falta de planejamento urbano. A infraestrutura das regiões metropolitanas acaba invadindo as áreas de várzea dos rios. As construções, realizadas nessas áreas, são comumente atingidas por enchentes, onde a água causa estragos e dissemina doenças. 

Por outro lado, em dias de chuva, a infiltração da água pelo solo é mínima, pois ele está impermeabilizado com asfalto ou concreto. Além disso, as próprias construções funcionam como barreiras para a drenagem. A água, então, corre pelas galerias pluviais, desaguando e sobrecarregando o leito de córregos e rios. Dessa forma, a enchente não ocorre por meio natural e sim por conta da urbanização.

Inundações

Inundações ocorrem principalmente em centros urbanos. Nesses casos, as enchentes se somam ao transbordamento de galerias pluviais, córregos, e outros cursos d’água que têm uma capacidade de escoamento menor do que o necessário. Ou seja, os sistemas de drenagem e escoamento acabam não sendo suficientes para a quantidade de água gerada pelas chuvas. 

As inundações não atingem apenas as várzeas dos rios, se estendendo e afetando um maior número de áreas dentro do perímetro urbano, de acordo com o volume de água. Segundo Tucci, as inundações podem ter origem natural nos rios, mas são potencialmente amplificadas por ações antrópicas, como a canalização de rios e a impermeabilização do solo. A água acumulada passa a ocupar ruas, comércios e moradias, causando muitos prejuízos socioeconômicos.

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Alagamentos

Os alagamentos também representam o acúmulo de água, principalmente em regiões em que o escoamento fica comprometido pela topografia do local, além de um sistema urbano de drenagem ineficiente.

Esse fenômeno ocorre, geralmente, pelo excesso de chuvas. Regiões de vale, áreas planas e mais baixas geralmente são as mais afetadas. Zonas urbanas com deficiência no sistemas de drenagem de águas pluviais, em eventos de chuvas extremas, também não dão conta de escoar o grande volume de água, que se acumula e toma conta de ruas e construções.

A impermeabilização do solo, somada ao crescimento urbano desenfreado e ao desmatamento das matas ciliares, contribui de forma desastrosa para o aumento do número de enchentes, inundações e alagamentos. Outra tendência, causada pelas mudanças climáticas, é que a proporção e as ocorrências desses fenômenos nos centros urbanos aumente.  

Dados do Atlas Digital de Desastres no Brasil mostram que inundações e alagamentos já causaram um prejuízo aproximado de 48 bilhões de reais, entre 1995 e 2023. Esses eventos afetaram mais de 25 milhões de pessoas.

É natural que os rios, em determinadas épocas do ano, por consequência das chuvas, tenham períodos de cheia (enchentes). Os rios, com suas características naturais preservadas, contam com as áreas de várzea e porções de mata ciliar. As áreas de várzea são espaços essenciais, que ficam às margens dos rios, formando planícies de inundação, por onde a água se expande em tempos de cheia.

Como a mata ciliar protege os rios?

A mata ciliar é uma barreira natural, formada por árvores, plantas rasteiras e outros tipos de vegetação, adaptadas à umidade do ambiente. Essa vegetação natural compõe o ambiente às margens de lagos, nascentes, rios e outros cursos d’água. 

Sua presença é fundamental, pois protege os ambientes aquáticos, retém sedimentos e poluentes que podem ser carregados pela chuva (contaminando as águas), mantém o solo conservado, evitando sua degradação, ajuda na infiltração e armazenamento da água nas bacias hidrográficas e auxilia no controle de enchentes.

Mudanças antrópicas no meio ambiente e seus impactos / Imagem de OpenEdition Journals, sob  CC BY-NC-SA 4.0

De acordo com a Embrapa, o tratamento de água de locais que tiveram suas matas ciliares desmatadas chega a custar até 100 vezes mais do que as áreas preservadas.

Além disso, a presença da vegetação beneficia a biodiversidade, pois funciona como um corredor ecológico. Com o desmatamento da mata ciliar, além da poluição das águas, aumentam também os riscos de deslizamentos de terra, ameaçando a vida da população.

Em tempos de mudanças climáticas, conservar o meio ambiente e adotar medidas de mitigação para a poluição é urgente. No entanto, com o aquecimento global, eventos climáticos devem ocorrer de forma mais frequente e intensa. Desse modo, o desenvolvimento de ferramentas para adaptação se torna questão de sobrevivência, principalmente para a população mais vulnerável, que tende a ser a parcela mais afetada por enchentes, inundações e alagamentos, além de outros fenômenos climáticos.

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Adaptação e resiliência climática

Segundo o Banco Mundial, as ameaças geradas pelas mudanças climáticas são reais e não podem mais ser contornadas. No entanto, os impactos podem ser atenuados e é responsabilidade dos governantes, além de grandes empresas do setor privado, encontrar saídas para as demandas que os eventos climáticos impõem.

A criação de políticas voltadas para a resiliência climática pode contribuir para a redução da pobreza, a diminuição da desigualdade climática e o aumento do bem-estar e da qualidade de vida da população. Além disso, é possível sustentar um desenvolvimento econômico que seja capaz de suprir as exigências que a resiliência climática determina. 

Além disso, os cidadãos, enquanto consumidores, desempenham um papel fundamental na busca pelo equilíbrio do planeta. O consumo desenfreado de bens com obsolescência programada causa degradação ambiental e contribui para o avanço das mudanças climáticas e para a desigualdade climática. 

Para o Banco Mundial, quanto menos recursos uma população tem, maior é o impacto sofrido com o aquecimento global. Ações que estabeleçam políticas públicas funcionais, voltadas aos serviços básicos de saúde, infraestrutura, proteção social e econômica, são o primeiro passo para fortalecer essa parcela da população.

Além disso, é necessário reanalisar os planos de desenvolvimento urbano e uso da terra. Aliar-se à ciência pode tornar as tomadas de decisão mais eficientes e adequadas frente à crise climática. Repensar o desenvolvimento das cidades e sua infraestrutura pode evitar calamidades e proteger a população. Se antecipar às catástrofes, tendo em mãos planos de ação para gestão de emergências, podem auxiliar na recuperação de toda uma comunidade atingida.

Bruna Chicano

Cientista ambiental, vegana, mãe da Amora e da Nina. Adora caminhar sem pressa e subir montanhas.

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