: Polinização, decomposição e controle de pragas são serviços prestados por espécies que atuam nas sombras — e enfrentam ameaças crescentes
Enquanto cidades adormecem, um exército silencioso de insetos assume o controle de florestas, pastagens e jardins. Esses seres noturnos mantêm ecossistemas em equilíbrio ao polinizar plantas, decompor matéria orgânica e regular populações de pragas. Sua ausência desencadearia colapsos ambientais, mas a ação humana — como poluição luminosa e pesticidas — ameaça sua sobrevivência.
Vaga-lumes: luzes que regulam a natureza
Observar as pequenas luzes piscantes de vaga-lumes em noites quentes revela mais que um espetáculo visual. Esses besouros da família Lampyridae emitem luz através de reações bioquímicas entre luciferina e luciferase, um mecanismo usado para atrair parceiros. Na Austrália, as 25 espécies existentes controlam populações de caracóis durante a fase larval. Adultos, embora não se alimentem, garantem a continuidade de um ciclo que beneficia agricultores e ecossistemas.
Besouros: recicladores incansáveis
Besouros de esterco, como o espécime de cinco chifres (Onthophagus pentacanthus), revolvem o solo ao enterrar fezes de animais, acelerando a decomposição e fertilizando a terra. Já os besouros de Natal (Anoplognathus spp), antes comuns sob luzes urbanas, enfrentam declínio populacional. Sua redução afeta aves e mamíferos que dependem deles como alimento.
Mariposas: polinizadoras discretas e engenheiras do solo
Com 22 mil espécies na Austrália, as mariposas superam borboletas em diversidade e funções ecológicas. Enquanto adultas polinizam plantas como as árvores Phyllanthus — essenciais para florestas tropicais —, suas lagartas decompõem folhas secas em regiões áridas. Algumas larvas, como as da Trisyntopa neossophila, alimentam-se de fezes de papagaios, evitando acúmulo de resíduos em ninhos.
Crisopídeos e louva-a-deus: caçadores noturnos
Predadores como crisopídeos usam mandíbulas afiadas para sugar fluidos de pulgões e cochonilhas, tornando-se aliados naturais contra pragas agrícolas. Já as larvas de louva-a-deus, ainda pouco estudadas, suspeita-se de que devorem ovos de aranhas, equilibrando ecossistemas locais.
Ameaças invisíveis: quando a luz artificial vira inimiga
Lâmpadas urbanas desorientam insetos noturnos, que confundem luzes artificiais com a lua. Voando em círculos até a exaustão, tornam-se presas fáceis para morcegos e corujas. Estudos sugerem que a atração ocorre porque alguns insetos usam a luminosidade celestial para navegar, um sistema prejudicado pela interferência humana.
Como preservar os trabalhadores das sombras
Reduzir a iluminação externa, optar por sensores de movimento e evitar inseticidas são medidas simples para proteger essas espécies. Jardins com plantas nativas e áreas de folhagem seca oferecem abrigo e alimento. A sobrevivência desses insetos não só mantém ecossistemas funcionais como assegura serviços ambientais valiosos para a agricultura e a biodiversidade.