Por Sidney Rodrigues Coutinho em Conexão UFRJ | Pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) da UFRJ descobriram que a interação entre o macaco-prego (Sapajus nigritus) e a palmeira Juçara (Euterpe edulis) reduz a abundância e a riqueza de sementes trazidas por outros animais. Por outro lado, o excesso de frutos da planta também diminui a quantidade e a variedade de sementes dispersas pela fauna. Os cientistas revelaram como a harmonia e o equilíbrio entre a fauna e a flora são essenciais para regeneração de biomas ameaçados, como o da Reserva Biológica de Poço das Antas, localizado no município fluminense de Silva Jardim (RJ). O artigo foi publicado em janeiro, na Acta Oecologica.
Poço das Antas foi a primeira reserva biológica criada no país para resguardar o ecossistema de Mata Atlântica costeira, proteger a fauna nativa e preservar espécies ameaçadas de extinção, como, por exemplo, o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia). “Nós trabalhamos em três áreas dentro da Rebio Poço das Antas: uma onde o macaco já tinha comido todo o palmito, uma onde o macaco estava consumindo os palmitos e outra onde o macaco não consumia o palmito”, explicou Amanda Souza dos Santos, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia do IB e principal autora do estudo, sob orientação da professora Rita Portela.
Segundo ela, um importante passo para que a floresta exista é a regeneração, isto é, a capacidade de as sementes das plantas germinarem e crescerem. A natureza proporciona uma diversidade de estratégias para dispersão de sementes. Uma delas é por meio de animais que consomem os frutos e transportam as sementes ao circular pela floresta. Outro fator importante para a recuperação acontecer é os animais distanciarem as sementes das plantas-mãe, já que no entorno delas há grande disputa de nutrientes. A alta mortalidade de palmitos Juçara pode afetar a atração da fauna e a dispersão das sementes. As palmeiras são um importante atrativo de fauna por conta de seus frutos; alguns trabalhos reportam até 59 espécies de vertebrados se alimentando deles em áreas bem preservadas.
A predação de uma planta-chave como a Juçara pelos macacos-prego pode levar a uma série de impactos indiretos em cascata, afetando, potencialmente, a comunidade vegetal e a dinâmica de regeneração da floresta. Como não existem na reserva a harpia (Harpia harpyja), o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus), a jaguatirica (Leopardus pardalis) ou a onça-pintada (Panthera onca), predadores naturais dos macacos-prego, eles se tornaram consumidores superabundantes de palmito, impactando negativamente a fartura local da espécie. “Uma evidência disso é que os macacos demoram para descascar a coroa de folhas da palmeira, ficando muito tempo expostos. Se houvesse algum predador capaz de assustá-los na reserva, possivelmente não passariam tanto tempo expostos. Acreditamos que a ausência dos predadores influencia o desequilíbrio, tanto por conta do aumento no número de macacos-prego na reserva quanto por conta do comportamento desses animais, disse Amanda dos Santos.
De outro modo, os pesquisadores perceberam que muitos exemplares da palmeira concentrados também têm efeito negativo. “Verificamos também que, em parcelas onde havia muitos palmitos, havia uma menor quantidade de sementes trazidas pela fauna. Isso pode indicar que os animais se mantém nos arredores dessas parcelas se alimentando dos frutos do palmito. Além do mais, observamos o impacto da mortalidade da palmeira na abertura de dossel. Na área onde os macacos consumiam a Juçara, o dossel se apresentava muito aberto”, informou a pesquisadora.
A palmeira Juçara ocorre em manchas de agrupamento na floresta. “Em áreas onde há grande adensamento na reserva, registramos a presença de frutos durante 11 meses do ano. Ali, os animais podem ficar também concentrados. Entretanto, nas bordas dessas manchas muito adensadas ou em manchas com menor adensamento, há o favorecimento da chegada das sementes trazidas pela fauna. Assim, é preciso que a harmonia e o equilíbrio das interações entre espécies sejam preservados”, concluiu.
Este texto foi originalmente publicado pela Conexão UFRJ de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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