Erosão fluvial: causas, impactos e riscos

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Erosão fluvial é um processo natural, de desgaste dos solos, rochas e sedimentos que compõem as margens e também o fundo dos rios. Com o tempo, a erosão fluvial acaba modificando a paisagem local, podendo aprofundar ou expandir os cursos dos rios.

Os desgastes são classificados como laterais ou verticais. A erosão lateral causa alargamento dos vales, atingindo as margens, enquanto a erosão vertical é responsável por aprofundar o leito dos rios, como explica o Serviço Geológico do Brasil (SGB).

Além disso, a velocidade dos cursos d’água é o principal fator para a erosão fluvial. Por outro lado, o fluxo dos rios é influenciado pelas alterações da altimetria ao longo de seu percurso, além do volume de água, linearidade e a rugosidade do leito.

Como ocorre a erosão fluvial?

De acordo com o SGB, algumas partes dos rios, regiões de curso superior e médio, são mais favoráveis a processos de erosão do que outras. Locais com a presença de cânions (vales profundos com paredões), quedas d’água, cataratas, vales mais rasos e abertos e locais que recebem afluentes, tendem a sofrer processos de erosão fluvial.

Sendo assim, regiões com uma maior tendência à erosão recebem um fluxo rápido de água, com cursos mais lineares e variação de altura, caracterizadas por turbulências e transporte de partículas grandes. O contrário ocorre em trechos mais sinuosos, que são mais lentos, carregam partículas diminutas e geralmente ocorrem no curso inferior dos rios.

Apesar da erosão fluvial ser um processo natural, eventos como chuvas extremas causam um duplo problema. Impactam diretamente no desgaste das margens e leito dos rios, por meio da erosão pluvial, além de aumentarem o volume das águas, causando enchentes e inundações, encharcando os solos das margens. A incidência cada vez maior de eventos climáticos extremos, causados pelas mudanças climáticas, geram uma série de problemas socioambientais.

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Erosão fluvial nos rios amazonenses

Uma pesquisa, realizada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), analisou as consequências das mudanças climáticas nas comunidades ribeirinhas da Amazônia. Períodos de seca ou cheia extremas alteram a dinâmica desses povos tradicionais, que tem seu modo de vida baseado na sazonalidade da região. 

Chuvas extremas

Entre outros percalços, a erosão fluvial, fenômeno regionalmente conhecido por “terras caídas”, foi apontado como um dos principais fatores prejudiciais à população local. De acordo com a pesquisa, o excesso de chuvas causa pressão hidrostática, que é a pressão exercida pela água, gerando o escorregamento do solo às margens dos rios. 

O fenômeno das terras caídas representa um grande perigo para a região, pois retira grandes porções de terra, levando consigo animais, árvores, ruas, casas e tudo que estiver ao alcance. O processo modifica a paisagem, traz riscos para a biodiversidade e para a comunidade como um todo.

Cheia no Amazonas em 2021 / Foto de Amazônia Real, sob CC BY-NC-SA 2.0 no Flickr

Os pesquisadores apontam que a intensidade dos eventos climáticos extremos, somada à ausência de estratégias e medidas adaptativas de resiliência climática, dificulta o gerenciamento das crises. Além disso, prejudica ainda mais as comunidades pobres, que representam a porção mais vulnerável e mais atingida pelos impactos provocados pelo clima. 

Além disso, o estudo reforça que os fenômenos extremos do clima transformam as relações e modos de vida dos povos tradicionais, em especial os ribeirinhos, que enfrentam o colapso de sua própria cultura.

Secas severas

Além do excesso de chuvas, períodos de seca extrema também podem causar o fenômeno das terras caídas. Um estudo, realizado pela SGB, analisou o desastre ocorrido na cidade de Beruri, no Amazonas, em setembro de 2023.

Na ocasião, a região localizada entre os rios Purus e Jari, na Vila Arumã, sofreu um desabamento de grande proporção, transformando-se em uma grande cratera. Mais de 40 casas foram soterradas, além de três igrejas, uma escola, um centro comunitário e um posto de saúde. 

De acordo com os pesquisadores, o fenômeno foi causado por uma série de eventos, incluindo erosão fluvial, afloramento de água subterrânea no talude (encosta) próximo à superfície, colapso, deslizamentos e ondas, algumas atingiram 5 metros de altura (tsunami fluvial). 

Eventos extremos

Em 2023, a Amazônia enfrentou eventos extremos, incluindo uma seca histórica, acompanhada de ondas de calor. Períodos de seca, no século 21, já haviam sido registradas entre 1997 e 1998, depois em 2005, em 2010, novamente entre 2015 e 2016 e, de forma mais recente, entre 2022 e 2023. Acompanhado à seca histórica, a região também enfrentou temperaturas recorde entre junho e outubro. 

Uma pesquisa, publicada pela Nature, destacou que os eventos de seca na Amazônia estão diretamente relacionados aos efeitos do El Niño, que ocorre durante o verão austral (no Hemisfério Sul), e também com temperaturas mais elevadas na região do Atlântico Tropical Norte, entre o inverno e a primavera.

A Amazônia é também fundamental para os sistemas de convecção terrestre, essenciais para o equilíbrio da circulação atmosférica e a ocorrência de chuvas e outros eventos. A Amazônia recebe cerca de 13% de toda a chuva que cai no planeta, sobre os continentes. No entanto, o desmatamento da floresta, em conjunto com os efeitos do aquecimento global, tem modificado o bioma de maneira desastrosa. 

Erosão fluvial em período de seca

De acordo com a SGB, a seca extrema que assolou a região de Beruri também rebaixou os rios, expondo até 30 metros do talude. Nesse ponto, houve um aumento dos desgastes causados pela erosão fluvial, pois a Vila Arumã estava situada numa região em que a margem do rio Purus apresentava característica erosiva. 

Apesar do período de seca, os pesquisadores destacam que durante períodos chuvosos e de cheias dos rios, é natural que a água encharque o talude. O terreno inclinado, saturado pela água, deixa o solo pesado, o que causa uma erosão subterrânea. A erosão é conhecida como piping (tubulação, em inglês), pois gera uma espécie de “encanamento” no subsolo, formando espaços ocos na base. Regionalmente, esses espaços são chamados de “olhos d’água”, pois minam a água para as margens. Nesse ponto, o talude não aguenta o próprio peso e colapsa.

Além disso, o evento da seca faz com que a água, ainda presente no solo, fique concentrada ali, aumentando sua saturação. Fatores como infiltração dos lagos locais, fossas e vazamentos da rede de água também contribuem para o solo encharcado.

Os pesquisadores reforçam que, apesar da erosão fluvial ser um processo natural, o desmatamento, o descarte inadequado de água residual (esgoto) e o uso de água subterrânea podem contribuir, de forma significativa, para processos erosivos. Além disso, outras comunidades amazônicas, que contam com o mesmo estilo de infraestrutura, também enfrentam os mesmos riscos. 

Bruna Chicano

Cientista ambiental, vegana, mãe da Amora e da Nina. Adora caminhar sem pressa e subir montanhas.

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