Desde 2022, parte do mundo enfrenta uma escassez de ovos resultante do surto de gripe aviária detectado por especialistas em fevereiro. Em consequência à falta do alimento, os preços do produto aumentaram em diversos países, deixando parte da população sem acesso aos ovos, considerados partes da alimentação básica de muitas comunidades.
Só nos Estados Unidos, o preço dos ovos aumentou em cerca de 60% em dezembro de 2022 em comparação com 2021. No entanto, esse fenômeno também pode ser observado em outros países, como na Nova Zelândia e no Brasil.
Embora seja em parte resultante da gripe aviária, que de acordo com dados do The New York Times afetou 57 milhões de aves e resultou no “despovoamento” ou morte de 44 milhões de galinhas nos Estados Unidos, a escassez de ovos também reflete um grande problema da indústria alimentícia.
Grande parte das galinhas do mundo todo são mantidas em fazendas industriais, uma espécie de sistema de animais confinados em jaulas, que são utilizados exclusivamente pela sua carne ou ovos. Entretanto, a falta de espaço resultante do confinamento de diversos animais em um mesmo ambiente facilita a proliferação de vírus e outros patógenos, além de contribuir para o enfraquecimento do sistema imunológico das aves em consequência do estresse.
Por outro lado, muitas galinhas da indústria são criadas e manipuladas geneticamente para botarem mais ovos — até 300 por ano, enquanto uma galinha comum bota cerca de 10 anos anualmente —, o que resulta em uma baixa diversidade genética, que também contribui para o desenvolvimento de doenças.
“As fazendas industriais são incubadoras ideais para doenças — armazéns apertados e imundos para grandes bandos ou rebanhos de animais criados para possuir pouca diversidade genética. No entanto, os produtores continuam relutantes em criar planos efetivos para emergências”, disse Dena Jones, diretora do programa de animais de fazenda do Animal Welfare Institute, em um comunicado sobre o vírus no ano passado.
Na Nova Zelândia, os problemas consequentes das fazendas industriais foram resolvidos através de uma regulamentação proposta em 2012, que proibia essas instalações. Embora proposta em 2012, o país contou com um período de transição de 10 anos, que permitia que os produtores de ovos mudassem suas práticas.
Desse modo, a nova legislação só entrou em vigor em 1º de janeiro deste ano.
“[Com o período de transição] os produtores de ovos tiveram a opção de mudar para gaiolas, celeiros e sistemas de criação ao ar livre”, disse Peter Hyde, representante do Ministério das Indústrias Primárias da Nova Zelândia.
E, apesar da escassez de ovos ter sido prevista em relação a essa mudança, parte da população da Nova Zelândia, que consome mais ovos por pessoa do que a maioria dos países, tentou solucionar o problema por outros meios, como a compra de galinhas.
Em comunicado à CNN, o site de leilão popular do país, Trade Me, anunciou que a procura por galinhas e equipamentos relacionados ao cuidado desses animais aumentou em 190%.
“Desde o início de janeiro, vimos mais de 65 mil buscas por galinhas e outros itens relacionados à galinhas, como comedouros, galinheiros e alimentos”, disse Millie Silvester, porta-voz da empresa.
Essa tendência, no entanto, fez com que diversos defensores do bem-estar animal se pronunciassem contra essa prática. Afinal, quando livres e bem-tratadas, as galinhas podem viver até 10 anos e são um comprometimento vitalício.
Infelizmente, uma mudança estrutural na indústria pode demorar para acontecer. Além disso, muitas pessoas não têm condições de apoiar instituições mais éticas, que produzem ovos de galinhas livres ou de adotar algumas mudanças alimentares. Por isso, para que algo aconteça, é importante defender o bem-estar dos animais usados na agricultura, aumentando a conscientização sobre a causa, além de possivelmente apoiar pequenos produtores ou excluir o consumo de produtos animais da dieta.
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