A escuta profunda é uma técnica comumente praticada por povos indígenas há milhares de anos. Ela usa da audição como um instrumento para a compreensão da natureza — principalmente os comportamentos, relacionamentos e padrões de interação entre múltiplas espécies.
Foi através do conhecimento de povos indígenas que a escuta profunda foi popularizada. De fato, o assunto foi tema de uma pesquisa de doutorado escrita por Monty Nixon, da Universidade de Canberra, na Austrália.
Nixon acredita que, acompanhando detentores de conhecimento indígena do de Karulkiyalu, seria possível incorporar a abordagem da escuta profunda no sistema educacional.
Mas, afinal, o que é escuta profunda? Como o nome sugere, a prática significa apenas isso — escutar profundamente os sons da natureza e tentar entendê-los dentro de um contexto.
Nixon explica:
“Se você quiser tentar ouvir profundamente, reserve um tempo para visitar um lugar natural e encontre um lugar tranquilo onde você não será perturbado. Desligue seus dispositivos eletrônicos.
Feche os olhos e estenda seu sentido de audição para a paisagem ao seu redor. Tente focar sua audição em cada direção, depois acima e até abaixo. Quão longe você consegue ouvir?
No começo, você ouvirá as vozes de criaturas individuais, talvez uma e depois outra. Depois de um tempo, você pode começar a notar interações e padrões de comunicação entre elas. Seja curioso. Uma responde à outra? Como e por quê?”, diz ao The Conversation.
Acredita-se, assim, que identificando esses padrões e escutando os sons da natureza, seria possível entendê-la como um conjunto.
A prática da escuta profunda desafia a compreensão de “ouvir”. Pois, é apenas através do foco e concentração nos sons, que a natureza pode ser realmente compreendida. Ou seja, para colocar em prática o método, não se deve apenas ouvir, e sim conseguir distinguir os sons, escutando e buscando significados no meio ambiente.
Nesse sentido, escutar é conectar-se profundamente com os sons, tentando tirar algum aprendizado da natureza.
Na escuta profunda da natureza, muito se fala sobre a capacidade de compreender o meio ambiente. Mas, o que, realmente, se é entendido através da análise e escuta dos sons naturais?
É importante ressaltar que o entendimento da natureza, dentro da escuta profunda, não é baseado na compreensão científica. Em vez disso, ela usa o meio ambiente e a sua biodiversidade como um exemplo a ser seguido.
Um exemplo disso é que, ao seguir a prática, você pode encontrar sons de pássaros. Diversas espécies de pássaros se alimentam de forma eficiente e segura em bandos mistos, comunicando-se e alertando uns aos outros sobre informações sobre alimentos e ameaças.
“Ouvir o chilrear animado desses bandos – que continuamente comunica e afirma a localização de cada pássaro – nos lembra o quão benéfica a cooperação pode ser. Mais importante, a cooperação é mais vantajosa quando abraça a diversidade”, explica Nixon.
Na Austrália, o sistema de educação que engloba o aprendizado através da natureza já se mostrou eficiente e benéfico na formação de crianças.
“Neste sistema educacional, País e Parentes da Terra (como plantas e animais) eram ambos detentores de conhecimento central e professores. Humanos (principalmente avós) forneciam suporte para o aprendizado das crianças a partir desses detentores de conhecimento. Desta forma, as crianças passaram a conhecer, entender e cuidar da terra”, diz Nixon.
Foi a partir disso que a Austrália se tornou o lar das culturas mais duradouras da história da humanidade.
“Pesquisas estão demonstrando como esse antigo método de ensino e aprendizagem pode funcionar na escola moderna. Mais de 120 educadores em todo o ACT estão envolvidos no projeto Country as Teacher. Cultivar uma prática de escuta profunda para País e Parentes da Terra ajudou professores e alunos a desenvolver um senso melhorado de bem-estar, bem como conhecimento e compreensão dos lugares em que vivem”, continua o especialista.
Em geral, os sons da natureza já provaram ter diversos benefícios à mente humana. O canto dos pássaros, por exemplo, além de inspirar praticantes da escuta profunda, também pode contribuir para o bem-estar.
Em um estudo publicado na Nature, pesquisadores pediram a cerca de 1.300 participantes para coletarem informações sobre seus ambientes e bem-estar três vezes ao dia usando um aplicativo do celular. Embora os participantes não tenham sido informados sobre o potencial do efeito do canto dos pássaros, a análise desses dados ofereceu uma grande descoberta ao time.
O grupo de pesquisadores concluiu que existe uma associação entre escutar o canto dos pássaros, ou simplesmente observar os animais, e a melhoria do bem-estar mental dos participantes. Além disso, foi observado que esses efeitos podem durar horas após o contato com as aves.
Similarmente, uma enquete realizada na Inglaterra, durante o evento de observação de pássaros Big Garden Birdwatch, teve resultados parecidos. De acordo com a enquete da YouGov encomendada pela RSPB, responsável pelo evento, 91% dos adultos britânicos que participaram concordaram que ver pássaros e ouvir o canto dos pássaros teve um impacto positivo na saúde mental e no bem-estar.
Mas não são apenas os pássaros — os sons do vento farfalhando entre as árvores e as ondas do oceano quebrando têm o poder de induzir tranquilidade e relaxamento.
Estudos mostram que ouvir sons da natureza pode alterar as conexões do cérebro. Assim, reduzindo o instinto natural de luta ou fuga do corpo, ajudando a aliviar o estresse, diminuindo a ansiedade e melhorando a saúde mental e bem-estar.
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