O Brasil enfrenta uma crise ambiental sem precedentes. Após as enchentes do Rio Grande do Sul, agora incêndios florestais criminosos atingem diversas regiões, causando não só a destruição de ecossistemas, mas também transformando a atmosfera do país em uma das mais poluídas do mundo. Em meio a esse cenário, um fenômeno tem chamado a atenção da população: o Sol está amanhecendo em tons intensos de laranja e vermelho, principalmente em áreas próximas aos focos de queimadas. Mas o que está por trás dessa coloração inusitada?
A resposta está no conceito físico conhecido como espalhamento Mie, que explica como a fumaça e outras partículas presentes no ar, provenientes das queimadas, interferem na forma como a luz solar chega até nossos olhos.
O espalhamento Mie ocorre quando a luz interage com partículas suspensas na atmosfera que possuem tamanhos semelhantes ao comprimento de onda da luz visível. Diferente do espalhamento Rayleigh, que é responsável pelo céu azul e ocorre com partículas muito pequenas (como moléculas de ar), o espalhamento Mie envolve partículas maiores, como fuligem, poeira e gotas de água, todas abundantes em situações de incêndios florestais.
Quando grandes concentrações de fumaça e fuligem se acumulam na atmosfera, elas afetam diretamente como a luz solar é dispersa. No caso do espalhamento Mie, os comprimentos de onda da luz são dispersos de forma mais uniforme, porém, como essas partículas ainda tendem a bloquear mais os comprimentos de onda curtos (como o azul e o violeta), o que sobra são os comprimentos de onda mais longos — o vermelho e o laranja —, que passam com mais facilidade pelas partículas. Assim, o sol, visto por meio de uma camada espessa de fumaça, adquire uma coloração alaranjada ou avermelhada.
Com o aumento das queimadas no Brasil, a quantidade de partículas poluentes na atmosfera cresce exponencialmente. Essas partículas são resultado da queima de biomassa, que libera fuligem e outros poluentes. Em regiões próximas aos focos de incêndio, a concentração de material particulado é tão alta que cria uma camada espessa de fumaça no céu, amplificando o espalhamento Mie e acentuando ainda mais a coloração laranja do sol durante o amanhecer e o pôr do sol.
Durante o amanhecer, o efeito é intensificado porque a luz solar precisa percorrer uma distância maior pela atmosfera, atravessando camadas mais densas de poluição antes de alcançar o observador. Isso faz com que a luz azul seja quase completamente dispersa e absorvida pelas partículas de fuligem, deixando apenas os tons quentes, como o vermelho e o laranja, visíveis.
Além de mudar a paisagem visual do Brasil, os incêndios e a poluição atmosférica têm consequências severas para a saúde pública e o meio ambiente. A inalação de partículas de fuligem está diretamente relacionada a problemas respiratórios, como asma, bronquite e aumento da mortalidade em grupos vulneráveis. Além disso, a densa camada de poluição acelera o aquecimento global, uma vez que essas partículas contribuem para o efeito estufa e a degradação de ecossistemas.
O Sol laranja visto no Brasil é um sinal das graves consequências ambientais que o país enfrenta devido aos incêndios florestais criminosos. O fenômeno óptico conhecido como espalhamento Mie, amplificado pela poluição, explica essa mudança na cor do sol, que é apenas um dos muitos efeitos negativos dessa crise. Para além da estética, esse cenário reforça a urgência de medidas ambientais que combatam as queimadas e a poluição, protegendo tanto o meio ambiente quanto a saúde da população.
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