Especialistas fazem recomendações para evitar greenwashing

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Por IPAM | (Sharm El-Sheikh, Egito) As melhores práticas para evitar o greenwashing (termo em inglês que se aplica a informações que mascaram, por exemplo, os impactos ambientais de alguma atividade) embutido em promessas “Net Zero” tanto de governos como de empresas foram um dos destaques desta terça-feira (08/11) na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27).

O relatório produzido pelo Grupo de Especialistas de Alto Nível (HLEG), nomeado pela ONU (Organização das Nações Unidas) para dar mais transparência ao tema, apontou várias recomendações, como “empresas e regiões que utilizam muita terra devem assegurar que, até 2025, qualquer desmatamento seja interrompido”.

O documento se refere a promessas que ameaçam minar os esforços globais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa de acordo com a limitação do aquecimento a 1,5 grau. A presidente do grupo, ex-ministra do Ambiente e das Alterações Climáticas do Canadá Catherine McKenna, disse que o relatório fornece um roteiro crucial para trazer integridade aos compromissos líquidos zero por parte da indústria, instituições financeiras, cidades e regiões e para apoiar uma transição global e equitativa para um futuro sustentável.

“Planos de transição para net zero são uma peça-chave para viabilizar a implementação dos compromissos assumidos pelas empresas e pelos governos. Orientarão o redirecionamento de investimentos para a economia de baixo carbono e darão previsibilidade sobre as rotas de descarbonização da economia”, avaliou o coordenador do portfólio de Economia de Baixo Carbono do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Gustavo Pinheiro. “O Brasil é o país que tem o menor custo de transição entre as grandes nações, porém o investimento não tem fluído como poderia devido a falta de um plano de transição que oriente a implementação da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, sigla em inglês)”, completou.

Para Pinheiro, elaborar o plano de transição da economia brasileira para net zero até 2050 permitirá destravar investimentos em diversos setores da economia. “Estes investimentos são indispensáveis para colocar o Brasil na rota da descarbonização, gerar empregos verdes e retomar o crescimento desacoplado de emissões de gases de efeito estufa”, completou.

No Brazil Climate Action Hub

Público acompanha primeiro dia de eventos, com o tema ‘Justiça Climática’

As diversas perspectivas que envolvem a questão da Justiça Climática foram o tema do primeiro dia de atividades do Brazil Climate Action Hub, nesta terça-feira (8), durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), no Egito.

Com arquibancadas lotadas, o espaço reuniu especialistas para discutir ações, soluções e desafios sobre o papel das mulheres, dos quilombolas e das comunidades tradicionais no enfrentamento das mudanças climáticas e na conservação ambiental. E apontou as oportunidades para levar desenvolvimento social, ambiental e econômico aos 28 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia.

Na abertura, a liderança indígena Shirley Krenak entou um canto na língua de seu povo, hoje concentrado no leste de Minas Gerais: “Eu sou água, eu sou terra, eu sou bioma”.

Os eventos

Mulheres na Ação Climática

O evento reuniu lideranças femininas que estão fazendo a diferença na ação climática por meio de experiências à frente de movimentos jovens, comunidades tradicionais, povos originários, empresas e sociedade civil. Mulheres que atuam na linha de frente do cuidado e da preservação dos recursos naturais compartilharam suas visões e vozes. A importância de as mulheres, seja nos territórios ou nos centros urbanos, firmarem alianças em torno dos biomas esteve presente nas conversas.

Amazônia 2030: Como os maiores problemas da região também são a chave para seu desenvolvimento

O território da Amazônia é grande, heterogêneo e demanda um amplo portfólio de iniciativas para endereçar seus contextos específicos. Pesquisadores e especialistas apresentaram diferentes oportunidades de avanço social, ambiental e econômico a partir de três grandes problemas: as áreas desmatadas, a crescente emissão de CO² e os desafios sociais para a população que vive na floresta.

Ação de transformação por justiça climática: a luta social quilombola

O painel trouxe à tona a discussão sobre violação de direitos e territórios das populações tradicionais quilombolas. Deixando evidente o papel dos quilombolas na conservação ambiental, e também na discussão de mecanismos de justiça social como passo fundamental para se falar em justiça climática.

O racismo ambiental e a emergência climática no Brasil

A população negra está na linha de frente na luta pelo combate ao racismo ambiental. O evento discutiu como os territórios são alvos da destruição ambiental no Brasil, seja no campo ou na cidade. A falta de políticas públicas de mitigação às mudanças climáticas por parte do Estado também fez parte da agenda, que lembrou que é uma realidade não apenas no Brasil, mas em todo o Sul Global.

Filme ‘Terras que libertam – histórias dos Cupertinos’

A exibição do filme “Terras que libertam – histórias dos Cupertinos” fez parte da programação da Mostra Cine Brazil Climate Action Hub e encerrou as atividades do dia. A obra relata a trajetória de resistência da comunidade quilombola de Chapada Diamantina, na Bahia. A exibição do premiado documentário dirigido por Diosmar Filho contou com a participação online da família dos Cupertinos, entre eles o líder quilombola Jaime Cupertino.

Sobre o Brazil Climate Action Hub

Espaço coordenado pelo iCS (Instituto Clima e Sociedade), pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e pelo Instituto ClimaInfo com apoio de diversas organizações, o Brazil Climate Action Hub tem como objetivo desenvolver e dar escala a soluções para a crise climática a partir dos países do Sul Global. Foi criado para a COP25 de Madri, em 2019, quando, por decisão do governo Bolsonaro, o Brasil ficou sem estande oficial. O Brazil Hub se tornou uma referência nacional ao apresentar estudos, iniciativas, soluções e experiências de políticas públicas desenvolvidas pela sociedade civil brasileira para alcançar os objetivos do Acordo de Paris.

Em 2021, em Glasgow, pluralidade e diversidade foram as marcas do Brazil Hub, com a realização de mais de 50 eventos, reuniões bilaterais e encontros entre organizações ambientalistas, participantes dos movimentos negros, quilombolas, indígenas, das juventudes e de famílias, além de políticos, empresários, cientistas, artistas e jornalistas.

👁️De olho na programação do HUB (09/11/2022)

Tema: Financiamento e Implementação

A década perdida das emissões brasileiras: o que revelam 10 anos de estimativas anuais feitas pela sociedade civil | 10h às 11h (Egito) / 5h às 6h (horário de Brasília)

Taxonomias em Finanças ASG: lições internacionais e caminhos para o Brasil | 11h30 às 12h30 (Egito) / 6h30 às 7h30 (horário de Brasília)

#PhilanthropyForClimate: Um movimento global da filantropia para enfrentar a crise climática | 13h às 14h30 (Egito) / 8h às 9h30 (horário de Brasília)

Estratégias dos Estados Latino Americanos para alcançar os compromissos de Paris pela perspectiva das alianças climáticas | 14h45 às 15h45 (Egito) / 9h45 às 10h45 (horário de Brasília)

Transição (realmente) justa: a transformação energética acontece nas cidades | 16h às 17h30 (Egito) / 11h às 12h30 (horário de Brasília)

Racismo Energético e Ambiental – Soluções a partir da Transição Energética Justa, Popular e Inclusiva | 17h45 às 18h45 (Egito) / 12h45 às 13h45 (horário de Brasília)

Este texto foi originalmente publicado por IPAM de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Thaís Niero

Bióloga marinha formada pela Unesp e graduanda de gestão ambiental. Tentando consumir menos e melhor e agir para alcançar as mudanças que desejo ver na sociedade.

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