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Abelha arapuá também consegue se dispersar por longas distâncias

Trigona spinipes é uma espécie de abelha sem ferrão nativa do Brasil. Ela é conhecida como irapuá ou arapuá, extremamente agressiva e está presente em praticamente toda a América do Sul, o que pode estar relacionado à capacidade de as abelhas reprodutoras dessa espécie se dispersarem por longas distâncias e colonizarem habitats degradados.

Os pesquisadores chegaram a tal constatação recentemente, por meio de um estudo realizado pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), em parceria com a University of Texas, em Austin, EUA.

Dessa forma, essa espécie de abelha pode sobreviver em ambientes fortemente alterados e atuar como um polinizador “de resgate”, compensando o declínio de outros polinizadores nativos. As irapuás se alimentam e polinizam flores de diversas espécies de plantas nativas, além de culturas como cenoura, laranja, girassol, manga, morango, abóbora, pimentão e café.

A fim de avaliar se a perda e a fragmentação de áreas de floresta influenciam na dispersão e dinâmica da população dessa espécie de abelha, os pesquisadores coletaram exemplares do inseto em fazendas de café associadas a fragmentos de Mata Atlântica e em áreas urbanas da cidade de Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais.

Por meio de ferramentas de sequenciamento genético de última geração, eles desenvolveram novos marcadores microssatélites – pequenas regiões do DNA, que variam de um indivíduo para outro – e utilizaram esses marcadores para genotipar as abelhas coletadas.

Com base em uma série de softwares disponíveis em um laboratório especializado em genética da paisagem na University of Texas, os pesquisadores estimaram o grau de relacionamento genético entre abelhas coletadas em ambientes com diferentes níveis de degradação.

Ao sobrepor os dados genéticos das abelhas coletadas em mapas com alta resolução de relevo, tipo de uso da terra e cobertura vegetal da região estudada, eles conseguiram avaliar a influência desses fatores sobre o fluxo gênico (troca da informação genética) entre as abelhas da região.O objetivo era avaliar se a cobertura florestal, o tipo de uso da terra ou a elevação influenciavam na dispersão e diferenciação genética das irapuás.

E os resultados mostraram que elas são capazes de se dispersar por longas distâncias, uma vez que não foi encontrada diferenciação genética entre as abelhas coletadas em uma faixa de 200 quilômetros – abelhas encontradas em São Paulo e Poços de Caldas pertenciam a uma mesma população, o fluxo gênico delas também não foi afetado pela cobertura florestal, o tipo de uso do solo ou a elevação, o que indica sua capacidade de se dispersar tanto por áreas preservadas quanto por áreas desmatadas.

“Essa espécie de abelha consegue manter um alto fluxo gênico em diferentes tipos de ambientes. Por isso, pode ser considerada um polinizador de resgate, ao compensar o declínio de outros polinizadores nativos mais sensíveis ao desmatamento”, explicou o autor do estudo.

Os pesquisadores encontraram evidências de uma expansão populacional recente das irapuás, e é muito provável que o motivo dessa dispersão seja, justamente, o desmatamento de áreas da Mata Atlântica juntamente com o fato de elas serem boas colonizadoras de áreas degradadas.

Um outro estudo recentemente publicado por outro grupo de pesquisadores brasileiros no início de setembro, apoiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), comparou redes de interação entre abelhas e plantas em todo o Brasil. E os resultados da pesquisa indicaram que as irapuás se dão melhor em ambientes degradados do que preservados. Os motivos dessa capacidade de dispersão e resistência ainda não são totalmente conhecidos


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