Espécies ameaçadas

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Por Paiva Rebouças em Portal da UFRN | Estudo conduzido por pesquisadoras da UFRN, em associação com outros pesquisadores, indica um futuro alarmante à biodiversidade brasileira se nada for feito para frear as mudanças climáticas no planeta. Por meio de modelos de adequabilidade climática e medição das alterações potenciais nas áreas de distribuição como efeito das mudanças climáticas, a pesquisa realizada no Centro de Biociências (CB/UFRN) concluiu que um grupo de 14 espécies de primatas da Mata Atlântica pode perder mais 50% de sua distribuição até 2100. A situação deve ser ainda mais drástica para nove dessas espécies com previsão de redução de 75% de seu espaço na natureza.

São espécies de bugios, muriquis, guigós, saguis, micos-leões e de macacos-prego, todos predominantemente, embora não exclusivos, da Mata Atlântica, que precisarão lidar com deslocamento espacial das áreas climaticamente mais adequadas para sua sobrevivência e com potenciais reduções de suas distribuições. 

De acordo com a pesquisadora Míriam Plaza Pinto, professora do Departamento de Ecologia da UFRN e orientadora do trabalho, as perdas são ainda maiores quando se olha para a mudança na cobertura florestal. “A Mata Atlântica possui menos de 70% de cobertura florestal, o que aumenta o isolamento dos grupos e populações, restringindo as possibilidades de dispersão. As mudanças aceleradas no clima, associada a uma realidade em que a perda de habitat é altíssima, podem comprometer ainda mais a viabilidade populacional dessas espécies, aumentando o nível de ameaça de extinção. Atualmente, mais da metade das espécies avaliadas se encontra Em Perigo (EN) ou Criticamente em Perigo (CR) de extinção”, explica.

Macaco-prego-galego (Sapajus flavius) é uma espécie considerada “Em perigo” pela União Internacional para Conservação da Natureza – Foto: Bruna Bezerra – IucnRedList

Desenvolvido durante o doutorado de Adriana Almeida de Lima, no Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRN, o estudo publicado na Scientific Reports avaliou os efeitos das mudanças climáticas sobre 19 espécies de primatas. Dessas, dois gêneros, Brachyteles (com duas espécies) e Leontopithecus (quatro espécies), ocorrem exclusivamente na Mata Atlântica. 

Usando dados de ocorrência das espécies e do clima do tempo atual e projetados para o futuro, a equipe ajustou os modelos de adequabilidade climática com informações de temperatura e precipitação projetadas para 2060 e 2100. A partir dessas projeções compararam a área da distribuição das espécies, medindo perda e ganho, bem como o deslocamento espacial das áreas observadas. A partir disso, foi detectada a mudança na localização espacial das distribuições geográficas dessas espécies entre o tempo atual e o futuro. O que se observou como previsão é um deslocamento principalmente para o sul.

Segundo os pesquisadores, os resultados reforçam que a perda de florestas na Mata Atlântica não é aceitável. Além disso, a redução da emissão de gases do efeito estufa é fundamental para diminuir a velocidade das mudanças climáticas e aumentar as chances de adaptação ou aclimatação das espécies. “A restauração florestal (com matas ciliares ou aumento da área dos remanescentes florestais, por exemplo), a instalação de pontes de dossel entre matas isoladas por estradas, subsídios políticos e econômicos para agrossistemas mais ‘amigáveis’ são algumas estratégias para garantir processos de dispersão e uso do habitat”, complementa Adriana.

A pesquisadora conta ainda que existem algumas investigações em andamento aprofundando a dinâmica dos limites geográficos das distribuições dos primatas como resposta às mudanças climáticas, investigando como e se as unidades de conservação (importantes áreas de proteção legal) poderão ajudar a preservar essas espécies em cenários de mudanças climáticas. Essas e outras pesquisas, sob supervisão de Míriam, observam espécies específicas ou avaliam o efeito de características da paisagem (cobertura florestal, nível de conectividade estrutural e etc.) sobre ocorrência e densidade de macacos.

Além de Míriam Plaza Pinto e Adriana Almeida de Lima, o estudo contou com a colaboração de Raone Beltrão Mendes, pesquisador no Pós-Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Sergipe (UFS), e Maurício Talebi, docente da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-Diadema) – todos membros da Sociedade Brasileira de Primatologia. A pesquisa recebeu suporte da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).


Este texto foi originalmente publicado pelo Portal da UFRN de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Carolina Hisatomi

Graduanda em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo e protetora de abelhas nas horas vagas.

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