Essencialismo: o que é, origens e impactos sociais

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O essencialismo é um conceito filosófico que se relaciona com a ideia de “essência”. Fundamentada por filósofos como Platão e Aristóteles, a ideia determina que tudo e todos têm atributos definidos como essenciais para a sua identidade e existência. Por exemplo: a essência do ser humano é o que faz ele ser o que é. 

Onde surgiu o essencialismo?

O essencialismo foi definido pela primeira vez por Platão e Aristóteles, na Grécia Antiga. Ambos os estudiosos defendiam que todas as coisas existentes tinham uma essência, responsável por determinar o que elas eram. O principal objetivo do conceito era entender e explicar as ações humanas perante a sociedade.

De forma simples, a essência de algo é o que faz com que ele exista, permanecendo constante durante todo o processo de mudança. Para Aristóteles, o ser humano tinha como essência a racionalidade, que o fazia um ser vivo. Portanto, quando uma pessoa morre, ela deixa de ser um humano, já que sua racionalidade acaba.

Segundo o filósofo, toda a mudança física que ocorre durante o processo de envelhecimento do humano é apenas um “acidente”, algo que não determina a sua identidade e existência. Por esse motivo, apenas a racionalidade seria a essência do homem. 

O que diz a teoria essencialista?

O conceito de essencialismo é dividido em três ideias chaves. A primeira delas determina que a natureza é dividida em coisas distintas e únicas. Simplificando, os essencialistas defendem que os seres vivos são fundamentalmente diferentes daquilo que não está vivo, assim como os seres humanos divergem de maneira fundamental de outros animais. 

A segunda ideia determina que as diferenças entre as coisas são eternas, necessárias e imutáveis. Esse conceito de essencialismo foi fundamentado por Platão, que acreditava que formas eternas e imutáveis deveriam ter propriedades bem delimitadas. Ou seja, características únicas e intrínsecas à sua existência. 

Essa ideia chave do essencialismo também foi adotada por diversas doutrinas religiosas e propagada entre os seus fiéis. Se tratando de religião, o conceito pode ser encontrado no fato de que muitas delas pregam que Deus criou o mundo e todas as coisas de acordo com uma tipologia imutável. 

Por fim, a terceira ideia dentro do essencialismo sugere que todas as coisas possuem essência, como mencionado anteriormente. Sendo assim, elas se distinguem umas das outras através da forma que existem e agem de acordo com a sua natureza. Por exemplo:

  • Se Deus criou todas as coisas com distinções entre si, então essas divergências são consideradas sacrosantas (sagradas);
  • Ou, pelo ponto de vista de Descartes, em que a essência do ser humano o diferencia dos outros animais, colocando o homem como um ser superior por ter uma “alma”  (a senciência);

A partir dessas ideias chaves surgiram questionamentos éticos e morais a respeito do fundamento do essencialismo. Para algumas pessoas, o conceito pode facilmente contribuir para problemas sociais como o racismo, machismo, xenofobia e a homofobia.

Como o essencialismo pode ser nocivo para questões sociais?

O essencialismo, como um conceito intrínseco na cultura humana, contribui para que as pessoas e os seres vivos sejam colocados em categorias permanentes que não necessariamente são benéficas. Sendo assim, ele cria uma série de estereótipos e preconceitos que podem estar atrelados a certos grupos culturais, étnicos e sociais. 

Logo, o essencialismo é usado como uma forma de naturalizar preconceitos e desigualdades sociais. Por exemplo:

Senciência: o que é, importância e características

Essencialismo e especismo

Quando Descartes determinou que os humanos eram superiores aos animais por, supostamente, serem os únicos seres racionais e sencientes, ele deu abertura para o surgimento do especismo. O termo faz referência ao ato de reduzir a importância de uma espécie em detrimento de outra. 

O essencialismo de Descartes, que determinava a inferioridade imutável dos animais perante os humanos, foi derrubado pelo Darwinismo. Charles Darwin, pesquisador e naturalista, em seus estudos, teorizou que todos os seres vivos evoluíram de outras formas de vida. Ou seja, o desenvolvimento dos seres vivos não foi imutável. Muito pelo contrário, sofreu diversas mudanças até chegar ao que se é hoje em dia.

Enxergar a existência de animais e humanos através da lente do essencialismo pode ser perigoso para a proteção do meio ambiente. Afinal, quando o animal é tido como algo inferior, o homem se sente no direito de explorá-lo, maltratá-lo e matá-lo. 

Racismo, xenofobia e essencialismo

O preconceito com aquilo que é diferente também pode ser considerado uma ação essencialista. Colocar pessoas de raças, etnias e nacionalidades diferentes em uma única caixa permanente abre espaço para a perpetuação do preconceito e dos estereótipos raciais. 

Um exemplo prático dessa situação é a escravidão. Ao entrar em contato com pessoas de outras etnias durante o período de colonização, brancos europeus entenderam que esses indivíduos eram inerentemente inferiores a eles — devido às suas divergências culturais e estéticas. O essencialismo que colocou o homem branco como superior tinha como objetivo fragilizar certas sociedades, enquanto beneficiava a branquitude. 

Desta forma, não é incorreto afirmar que o racismo, a desigualdade racial, e outros tipos de problemas sociais com base nas origens étnicas de um indivíduo, são resultado de centenas de anos de pensamentos embasados no essencialismo.

Opressão de gênero baseada no essencialismo

O essencialismo está presente na religião quando um grupo de pessoas dessa crença defende que a identidade de gênero e a sexualidade humana são imutáveis. Essas ideias não precisam estar necessariamente ligadas à religião para que sejam essencialistas, porém elas comumente estão.

Ao determinar que um ser humano só pode ser mulher ou homem, cisgênero e heterossexual, o individuo está promovendo o essencialismo em sua forma mais pura. Assim, é colocado às pessoas que a única forma delas serem consideradas “seres normais” seria se atendessem às características citadas assim. Isso faz com que todos aqueles que se identificam com algo minimamente fora da linha sejam considerados inferiores ou anormais.

Aristóteles foi um dos filósofos que contribuiu para que o conceito de gênero binário (homem e mulher) fosse uma ideia essencialista. Isso porque, segundo o estudioso grego, a diferença na estrutura metafísica do homem e da mulher colocava o primeiro em uma posição de superioridade e poder. Sendo assim, sua teoria foi fundamental para o embasamento de conceitos como o machismo e a LGBTfobia.

Existencialismo 

Em contrapartida ao essencialismo, surgiu o existencialismo, a partir da ideia de Jean-Paul Sartre de que “a existência precede a essência”. Sendo assim, os existencialistas defendem que o que faz o ser humano ser o que ele é, é a subjetividade, identidade e consciência de ser.

O existencialismo lembra ao homem que ele é formado por sua criatividade, seus pensamentos e iniciativas. Logo, a existência não é algo fixo, já que as ideias são coisas mutáveis e que podem divergir com o passar do tempo. 

Ana Nóbrega

Jornalista ambiental, praticante de liberdade alimentar e defensora da parentalidade positiva. Jovem paraense se aventurando na floresta de cimento de São Paulo.

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