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O combate à grilagem, a proteção de terras indígenas e a transição para uma economia decrescente são essenciais para enfrentar a crise climática e as injustiças sociais

Nos últimos anos, a ciência climática tem reiterado que o aumento da temperatura média global está prestes a ultrapassar o limiar de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, conforme estabelecido pelo Acordo de Paris. Esse limite, embora pareça modesto, carrega profundas implicações para a estabilidade climática e a resiliência dos ecossistemas globais. Sua superação exacerbará os eventos extremos como secas, ondas de calor, inundações e tempestades, ameaçando vidas e ecossistemas, especialmente em comunidades vulneráveis.

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A crise climática também está inextricavelmente ligada à injustiça social, agravando problemas como racismo ambiental, injustiça climática, insegurança alimentar e energética. Grupos historicamente marginalizados, particularmente populações negras, indígenas e de baixa renda, são os mais afetados pela poluição, desastres climáticos e deslocamentos forçados – um fenômeno que podemos chamar de “gentrificação climática”, onde mudanças no clima deslocam comunidades para regiões menos habitáveis, enquanto áreas mais seguras são reservadas para as elites.

A importância de uma economia decrescente

A ideia de uma economia decrescente é fundamental para abordar esses desafios, porque coloca em cheque o paradigma dominante de crescimento econômico ilimitado, que tem sido um motor da degradação ambiental e da desigualdade. A economia decrescente propõe que o bem-estar humano e a equidade global sejam priorizados acima do crescimento econômico tradicional, que muitas vezes aumenta a concentração de riqueza, intensifica a extração de recursos naturais e agrava a injustiça social e ambiental.

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O conceito busca reduzir o consumo e a produção em regiões que já excederam os limites planetários, ao mesmo tempo em que fortalece economias locais e circulares. Isso permite que nações e comunidades vulneráveis tenham maior autonomia sobre suas necessidades energéticas e alimentares, o que é essencial para mitigar os efeitos da crise climática.

Injustiça climática e o racismo ambiental

A injustiça climática reflete a disparidade entre aqueles que causam a maior parte das emissões de gases de efeito estufa e aqueles que sofrem mais com as suas consequências. Países do Sul Global, que historicamente contribuíram muito menos para o aquecimento global, enfrentam os impactos mais severos. Da mesma forma, o racismo ambiental expõe comunidades minoritárias a níveis desproporcionais de poluição e degradação, desde lixões tóxicos até inundações e secas que prejudicam a produção agrícola, exacerbando a insegurança alimentar.

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Essas realidades demonstram que a economia decrescente é uma ferramenta poderosa para lidar com a desigualdade, ao passo que orienta a humanidade em direção a um modelo de desenvolvimento que respeite os limites planetários e ofereça maior justiça social.

Transição para uma economia ecológica

Um modelo que está ganhando tração é o da transição para uma economia ecológica ou ecossocialista, que vai além da economia verde. Enquanto a economia verde tende a focar em tecnologias limpas e no uso eficiente dos recursos, uma economia ecológica aborda as raízes estruturais do sistema econômico e seu impacto no meio ambiente. A ecossocialista, por sua vez, propõe a superação do capitalismo, com o controle democrático dos recursos e uma redistribuição equitativa para atender às necessidades humanas sem destruir o ambiente natural.

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Esses modelos de transição têm um enfoque claro na redução das desigualdades, garantindo que todos, independentemente de sua origem socioeconômica, tenham acesso aos recursos básicos – desde alimentos e energia até água potável e moradia. Além disso, eles promovem a segurança alimentar por meio de práticas agrícolas regenerativas e agroecológicas, que são vitais para a preservação dos ecossistemas e para garantir que as futuras gerações possam desfrutar de um planeta habitável.

Insegurança energética e a crise climática

Com o aquecimento global ameaçando a estabilidade dos sistemas energéticos – que dependem fortemente de combustíveis fósseis – a transição para fontes renováveis descentralizadas é urgente. A insegurança energética é uma ameaça crescente em regiões onde os impactos climáticos já estão prejudicando a infraestrutura e a produção de energia. Assim, uma economia decrescente e ecológica pode acelerar a transição para um sistema energético baseado em fontes renováveis, como solar e eólica, gerido localmente para garantir que as comunidades tenham controle sobre suas necessidades energéticas, sem dependência de grandes corporações ou infraestruturas frágeis.

Demarcação de terras indígenas

Para lidar de forma eficaz com a crise climática, é importante combater a grilagem de terras, uma prática ilegal que muitas vezes recorre a incêndios criminosos para desmatar grandes áreas de forma rápida e barata. Essas ações devastam ecossistemas inteiros, liberando grandes quantidades de carbono e agravando o aquecimento global.

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Além disso, a demarcação de terras indígenas é uma medida essencial para a preservação ambiental, pois estudos mostram que áreas sob gestão indígena têm taxas muito menores de desmatamento. Povos indígenas possuem conhecimentos ancestrais sobre a convivência harmoniosa com a natureza, atuando como guardiões das florestas e dos recursos naturais.

Nesse contexto, é igualmente importante combater as mudanças propostas pelo marco temporal no Brasil, que restringem o direito à terra apenas às áreas ocupadas pelos indígenas até a promulgação da Constituição de 1988, desconsiderando as violências históricas que causaram o deslocamento dessas populações. A proteção dessas terras é vital para a manutenção da biodiversidade e para frear o avanço das mudanças climáticas.

À medida que nos aproximamos do limiar de 1,5°C de aquecimento global, a necessidade de uma mudança sistêmica se torna clara. A adoção de uma economia decrescente, em combinação com uma transição para uma economia ecológica ou ecossocialista, oferece soluções reais para mitigar os efeitos da crise climática, enquanto confronta questões de injustiça, desigualdade e a destruição ambiental. A mudança é não só possível, mas também necessária para garantir um futuro justo e sustentável para todos os habitantes do planeta.


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