Luciano Nakabashi diz que o objetivo da medida, utilizada no Brasil desde 1929, é reduzir gastos e conter a inflação
Por Simone Lemos em Jornal da USP | A inflação segue em alta no Brasil. Isso pode ser notado pelo valor dos alimentos, que têm seus preços em uma constante gangorra. Para o próximo ano, a previsão da taxa básica de juros para o País é de uma elevação de 2% e o objetivo é conter a inflação crescente entre 2021 e 2022. O governo brasileiro, buscando reduzir gastos, pode vir a utilizar o estoque regulador de alimentos. Luciano Nakabashi, professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP de Ribeirão Preto, explica que essa medida não é nova, sendo realizada desde o governo Vargas. Na época, ela servia como preço mínimo, para sustentar os produtores do café, principal setor da economia no período, quando ocorreu a grande crise de 1929, o que reduziu a demanda em vários lugares do mundo.
Foi uma questão de política econômica para tentar sustentar a economia. Hoje em dia, a manobra tem um novo perfil. “Estoque regulador são estoques de alimentos locais para fazer estocagem. Compra normalmente quando o preço está baixo, geralmente no preço mínimo, porque, quando o preço está baixo, é porque tem um excesso de oferta para segurar o preço para o produtor de diversos alimentos como soja, café, milho, feijão…”
Segurança alimentar
O estoque regulador de alimentos serve como uma reserva de segurança alimentar, mas existem custos para manter esses estoques. Há gastos com o capital, que fica parado, com os silos, armazéns, mão de obra, transporte. Como o alimento fica parado, pode ocorrer a perda, porque há risco dele estragar.
Atualmente, o estoque regulador de alimentos está mais voltado para o social do que para sustentar preço e ter impacto em setores fundamentais para a economia brasileira. O professor explica que “a população se beneficiará em momentos em que o preço está mais alto. Ela também é beneficiada quando há falta de alimentos. Você pode fazer políticas, acho que é uma das ideias neste momento. Pode-se fazer uma cesta básica com parte desses alimentos para, de fato, ajudar a população pobre. Esta seria uma política meio permanente, já que não se sabe quando realmente vai faltar, quando o preço vai aumentar. São ciclos que não são tão previsíveis. Pode haver uma quebra de safra num lugar, o que afeta o preço do produto, por questões climáticas, que não são muito previsíveis. O estoque regulador de alimentos serve para momentos pontuais”.
Este texto foi originalmente publicado pela Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.