O trabalho premiado foca no potencial químico e biológico de plantas pouco conhecidas para o controle do estágio larval do Aedes aegypti
Por Juliana Palmeirim em UFF | Com foco na conservação de produtos naturais que poderiam servir como matéria-prima bruta para a obtenção de substâncias medicamentosas, o trabalho do pesquisador e ex-aluno da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal Fluminense, Francisco Paiva Machado, intitulado “Nanoemulsão larvicida de Ocotea indecora (Shott) Mez para Aedes aegypti”, foi um dos destaques do 2° Simpósio Regional Sudeste de Farmacognosia. A premiação de farmacognosia — área do conhecimento que aborda os princípios ativos de origem natural — tinha como temática o desvendamento do potencial bioeconômico da Mata Atlântica. Nesse sentido, possibilita-se extrair, identificar, descrever e avaliar o potencial das substâncias orgânicas para, por exemplo, o controle de doenças causadas por vírus transmitidos principalmente por mosquitos que assolam a população brasileira.
Apesar de o Brasil ser o país que abriga a maior biodiversidade do mundo, estima-se que em território nacional encontrem-se de 10% a 15% das espécies de todo o planeta, de acordo com dados da UNESCO. “Este fato nos levou a buscar a natureza para desenvolvermos novos inseticidas mais efetivos e menos tóxicos para o ser humano e o ambiente. Como principal alvo, decidimos avaliar as suas atividades frente às larvas do mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zika, que tantos males vêm causando à nossa população, que é o Aedes aegypti. Para isso, desenvolvemos um produto possível de aplicar diretamente na água, local onde os mosquitos se desenvolvem na fase inicial de vida. Para avaliar se esse produto causaria impacto negativo na natureza, tomamos o cuidado de testá-lo primeiro em abelhas e, para nossa alegria, elas não foram afetadas”, explica o professor Leandro Rocha, orientador da pesquisa.
De acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, em 2022 ocorreram 832.947 casos prováveis de doenças causadas por insetos e aracnídeos, como a dengue e a zika, no Brasil. Nesse cenário, apesar dos esforços para introduzir métodos ambientais e biológicos de controle, a falta de recursos e de capacidade operacional, o uso de inseticidas de pouca qualidade ou adulterados, assim como a emergência da resistência a inseticidas não são suficientes para combater o vetor.
O professor Leandro Rocha afirma que essas espécies vegetais, que milenarmente têm convivido com os outros seres vivos do seu habitat, podem ter desenvolvido mecanismos naturais de combate aos insetos e, desse modo, podem ser fontes de inseticidas naturais. Além disso, como explica Francisco, “desenvolver produtos com espécies nativas da biodiversidade brasileira é uma forma de mostrar que as florestas têm mais valor vivas e preservadas do que destruídas para venda de madeira, criação de gado ou investimento imobiliário”.
Segundo pesquisa realizada em 2022 pelo IBGE, no território brasileiro existem mais de 46.000 tipos conhecidos de vegetais. Para Leandro, esse é o maior tesouro que o país possui, pois nessas plantas é possível encontrar as soluções para a melhoria da qualidade de saúde da população, seja encontrando a cura ou a melhora das doenças que afligem a população, seja encontrando soluções para o combate de pragas agrícolas que aumentariam a produção de alimentos. “A gente só defende aquilo que conhece. Por isso, nos sentimos no compromisso de realizar estudos com as espécies nativas de nosso país. Mostrar que uma molécula isolada de uma planta pode ser mais valiosa do que ouro e ainda contribuir com a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Assim, contribuímos com a preservação”, afirma o professor.
Os inseticidas utilizados comercialmente acarretam na seleção de mosquitos predispostos geneticamente à resistência a estes agentes químicos e, por esse motivo, muitas vezes eles não têm a eficiência desejada. Além disso, são nocivos em humanos e, também, em pequenos mamíferos, pássaros, peixes e insetos polinizadores. Com isso, a vantagem da dinâmica do uso de bioprodutos seria a sua menor nocividade ao meio ambiente e maior racionalidade, com aplicação na fase de desenvolvimento em meio aquoso do mosquito, permitindo um futuro com mais saúde e sustentabilidade.
Este texto foi originalmente publicado pela UFF de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.