Por Banco Interamericano de Desenvolvimento | Embora o Brasil se encontre em um estado avançado no que se refere à transição energética, o desenvolvimento e maturação de novas tecnologias será fundamental para alcançar a neutralidade líquida em gases de efeito estuda (GEE) até 2050. A conclusão é de um estudo feito em parceria entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Centro de Economia Energética e Ambiental (Cenergia) da Coppe/UFRJ.
A publicação ‘Neutralidade de carbono até 2050: Cenários para uma transição eficiente no Brasil‘ explora diferentes opções para a redução de emissões. Um dos pontos destacados é que, para chegar a emissões líquidas neutras no prazo estabelecido na Contribuição Nacionalmente Determinada do Acordo de Paris, será necessário alcançar emissões negativas de CO2 já entre 2035-2040.
Para dar uma ideia do tamanho do desafio, os cenários de descarbonização analisados no relatório indicam que as emissões de CO2 devem se tornar negativas por volta de 500 milhões de toneladas. Eliminar o desmatamento ilegal contribuiria enormemente para alcançar essa meta, já que evitaria o lançamento na atmosfera de 21 bilhões de toneladas de GEE até 2050. Caso isso não aconteça, o Brasil terá que arcar com um custo de compensação de até US$ 3,4 trilhões para atingir os compromissos assumidos.
O relatório é produto da cooperação técnica ‘Programa de Transição Energética’, estabelecida entre o BID, a EPE e o Cebri. “O Programa de Transição Energética é importantíssimo para a EPE e para o Estado brasileiro, pois contribui para formar consensos sobre dilemas, incertezas, desafios e oportunidades para os stakeholders e a sociedade como um todo. Ao adotar uma abordagem com múltiplos participantes, permite também ratificar ou contestar condicionantes ou informações específicas para o processo de delinear cenários e trajetórias”, afirma o presidente da EPE, Thiago Barral.
No mundo, o setor energético representa 76% das emissões totais líquidas de gases de efeito estufa. No Brasil, o cenário é diferente, com as emissões do setor energético representando 31%, enquanto as atividades relacionadas com as mudanças no uso da terra geram mais emissões. Isso ocorre porque as fontes renováveis têm uma participação importante na matriz energética brasileira.
Segundo o estudo, a redução de emissões nos setores de difícil descarbonização (transporte, industrial e residencial) enfrenta três grandes desafios: a tendência de crescimento na demanda por serviços energéticos, refletindo o crescimento populacional e econômico; o fato de algumas soluções tecnológicas para mitigar emissões ainda precisarem de desenvolvimento e escala; e o fato de os custos de implantação das soluções ainda serem elevados e os mecanismos de financiamento e incentivo ainda se mostrarem incipientes.
O relatório ressalta a importância de adotar uma agenda de política energética e desenho de mercado que crie as condições para habilitar caminhos flexíveis para a descarbonização, harmonizando os objetivos de desenvolvimento sustentável, transição e segurança energética. Esses elementos integram as propostas apresentadas pelo documento, que menciona ainda a necessidade de aproveitar as vantagens competitivas atuais do Brasil para construir e financiar vantagens competitivas futuras, cumprir os objetivos já estabelecidos, em linha com o compromisso de neutralidade climática, e assegurar que a transição energética seja justa, inclusiva e custo-efetiva.
Aprofundar estudos sobre resiliência climática e aperfeiçoar ou estabelecer arcabouços institucional, legal e regulatório que promovam o desenvolvimento e adoção de tecnologias e modelos de negócio com foco na redução de emissões são outras ações que podem contribuir para uma transição energética eficiente.
“Os resultados do Programa mostram que o Brasil pode se posicionar como um hub energético global, liderando uma transição energética justa, inclusiva e eficiente. Para isso, será necessário aprimorar e criar marcos legais e regulatórios adequados e mobilizar grandes investimentos. O BID está pronto para continuar apoiando técnica e financeiramente nesses dois eixos fundamentais para catalisar esse processo”, destaca Morgan Doyle, representante do Grupo BID no Brasil.
O relatório identificou uma queda na utilização de combustíveis fósseis em 2050 e aumento do uso de fontes renováveis. Em todos os cenários, projeta-se um forte crescimento da demanda por eletricidade, respondida predominantemente pelas fontes eólica e solar.
No caso dos biocombustíveis, o relatório indica que biocombustíveis avançados como o diesel verde, o bioquerosene de aviação, a gasolina verde e os biocombustíveis para uso marítimo ganharão destaque a partir de 2040, como resultado da descarbonização de segmentos do setor de transportes mais difíceis de serem eletrificados, como o aéreo, o marítimo e o transporte de cargas, e da captura e armazenamento do CO2, que permite abater emissões de outros setores.
O estudo explorou ainda um cenário em que se projeta um potencial de exportação de hidrogênio verde da ordem de 4 milhões de toneladas em 2050, o que pode representar 10% das exportações globais desse elemento. O Brasil tem uma vantagem competitiva nesse contexto, por figurar entre os países mais bem posicionados para a produção de hidrogênio de baixo carbono, inclusive renovável, a partir de eletrólise.
O consumo de derivados de petróleo no Brasil também apresentará forte queda. Contudo, a produção brasileira de óleo e gás poderá continuar sendo relevante, para se manter como um potencial exportador de petróleo e atender a demanda remanescente. “Com um petróleo de baixa intensidade de carbono e baixo custo, a riqueza gerada pela indústria de O&G contribuirá para financiar a transição energética e as inovações necessárias para a neutralidade de carbono no Brasil até 2050” afirma Jorge Camargo, Vice-Presidente do Cebri e coordenador do núcleo Energia.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento tem como missão melhorar vidas. Fundado em 1959, o BID é uma das principais fontes de financiamento de longo prazo para o desenvolvimento econômico, social e institucional da América Latina e do Caribe. O BID também realiza projetos de pesquisa de vanguarda e oferece assessoria sobre políticas, assistência técnica e capacitação a clientes públicos e privados em toda a região.
Este texto foi originalmente publicado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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