Levantamento da Exchange 4 Change Brasil para o estudo ‘Educação Profissional para a Economia Circular’ mapeou 151 cursos em quatro municípios e concluiu que só 15 atendem a profissionais dos setores de resíduos, saneamento, têxtil e eletroeletrônicos
Uma pesquisa realizada pela organização Exchange 4 Change Brasil (E4CB) apontou que há uma demanda crescente por capacitação em economia circular entre profissionais da gestão de resíduos, da área de saneamento e dos setores têxtil e de eletroeletrônicos no Estado do Rio, mas a oferta educacional para atender a esses grupos permanece escassa.
O levantamento faz parte do estudo “Educação Profissional para a Economia Circular: Estudo exploratório do mercado de resíduos sólidos no Estado do Rio de Janeiro”, publicado pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK Rio) e realizado no âmbito da cooperação Brasil-Alemanha na área de educação
profissional, através do diálogo entre o Ministério Alemão de Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) e o Ministério da Educação (MEC) brasileiro.
Tendo como base amostral os municípios Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Niterói e Nova Friburgo, cerca de 35% dos respondentes do questionário sobre as barreiras para o desenvolvimento profissional em economia circular destacaram a falta de cursos como um impeditivo.
O ensino da economia circular a profissionais que estão em áreas e posições estratégicas para o redesenho das cadeias de valor tem como objetivo estimular a transição para esse novo modelo econômico, que rompe com a lógica linear de exploração, produção, consumo e descartes.
Algumas competências consideradas fundamentais para isso são: saber utilizar resíduos como recursos; aplicar design para a circularidade; ter habilidades com tecnologias digitais; projetar produtos para a durabilidade e a modularidade; priorizar insumos circulares; e focar no trabalho colaborativo para criar interações entre indústria, governo e sociedade.
Nos quatro municípios, foram mapeados 151 cursos do Ensino Superior, do Ensino Técnico e de Formação Inicial e Continuada (FIC) com o escopo setorial de resíduos, saneamento, têxtil e eletroeletrônicos, que poderiam gerar competências intrínsecas ao trabalho circular para o futuro, de acordo com critérios da pesquisa Circular Jobs, da organização holandesa Circle Economy.
No entanto, apenas 15 cursos – 8 de nível superior, 5 técnicos e 2 FICs – demonstraram, após o levantamento, alto potencial de ensino aos profissionais sobre as particularidades da economia circular.
Não existem, no Estado do Rio, cursos de formação que trazem o tema da economia circular com destaque já no nome.
A formação profissional em economia circular é fundamental para que empresas e governos possam compreender as oportunidades da nova economia. Inicialmente, fica a perspectiva de que o mais Gestão de importante para a empresa é dizer o quanto ela já é circular; entretanto, o que realmente importa é a reflexão sobre as oportunidades que podem ser alcançadas com a transformação da cadeia para o mindset circular.
Ficamos cada vez mais distantes desta nova cultura de negócios ao não investirmos em um modelo de educação capaz de mostrar aos profissionais a amplitude do tema, estimulando o trabalho em equipe, o redesign de produtos e serviços, a integração da cadeia produtiva e o olhar para além do setor de resíduos – explica Beatriz Luz, diretora e fundadora da E4CB.
A E4CB produziu o conteúdo do primeiro curso digital e gratuito de Economia Circular oferecido pelo SENAI-SP, que já conta com mais de 40 mil acessos. No Rio de Janeiro, a Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS) lançou recentemente o primeiro curso de introdução à economia circular para gestores públicos, com aulas ministradas por Beatriz Luz e pela cientista ambiental Nathalia Geronazzo, que também integra a equipe da E4CB.
As inscrições para o curso da SEAS encerraram em menos de 24 horas, demonstrando o interesse que os profissionais do setor público no estado tiveram pelo tema.
Para Beatriz Luz, uma das questões primordiais é a falta de homogeneidade na abordagem educacional do tema:
– É por meio de uma educação de qualidade certificada e com um currículo mínimo definido que garantimos que os princípios circulares sejam materializados em ações práticas, transformando a nossa sociedade. Isso demanda um envolvimento geral das instituições de ensino do estado.
Na Holanda, por exemplo, 15 universidades se reuniram e assinaram um Manifesto Circular para a Educação, comprometendo-se a inserir princípios circulares nos seus currículos e a priorizar o tema em programas relevantes, o que precisa ser feito aqui. Do contrário, corremos um risco real de banalização e simplificação do tema, ou de cursos que se dediquem a falar de pequenos recortes sem trazer a abordagem sistêmica necessária.