A luz solar, além de ser essencial para a vida na Terra, pode estar contribuindo para um problema ambiental grave: a produção de óxido nitroso (N₂O), um gás de efeito estufa 300 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO₂). Pesquisadores da Dinamarca e da Espanha descobriram um processo até então desconhecido, chamado fotoquimiodenitrificação, que ocorre em águas superficiais e é impulsionado pela radiação ultravioleta. Essa descoberta pode explicar por que os níveis atmosféricos de N₂O têm aumentado mais rapidamente do que o previsto pelos modelos climáticos atuais.
O óxido nitroso é um gás que, embora menos discutido que o CO₂, tem um impacto significativo no aquecimento global. Suas principais fontes conhecidas incluem o uso de fertilizantes sintéticos, a decomposição microbiana de compostos nitrogenados e processos químicos em solos e sedimentos marinhos. No entanto, o novo estudo, publicado na revista Science, revela que a luz solar pode desencadear uma via abiótica (não biológica) de produção desse gás em águas doces e marinhas.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores coletaram amostras de água de sistemas costeiros e de água doce, expondo-as à radiação UV em frascos de quartzo. Mesmo com a adição de um biocida para eliminar a ação de microrganismos, a produção de N₂O continuou, confirmando que o processo é independente de atividades biológicas. Além disso, ao adicionar traçadores isotópicos de nitrito e nitrato marcados com nitrogênio-15, os cientistas identificaram que o nitrito é o principal substrato envolvido diretamente na reação, enquanto o nitrato atua de forma indireta.
A intensidade da radiação ultravioleta também mostrou ser um fator determinante: quanto maior a exposição à luz solar, maior a produção de N₂O. Embora os mecanismos químicos exatos ainda não estejam totalmente esclarecidos, os pesquisadores sugerem que esse processo pode ser especialmente relevante em regiões como corpos de água doce eutróficos, zonas costeiras e áreas marinhas ascendentes, que já são consideradas pontos críticos de emissão de N₂O.
A inclusão dessa nova via de produção de óxido nitroso nos modelos climáticos pode melhorar a precisão das previsões sobre as emissões desse gás e, consequentemente, auxiliar no desenvolvimento de estratégias mais eficazes para mitigar seus efeitos. No entanto, para que isso ocorra em escala global, são necessários mais estudos em diferentes localizações geográficas e condições ambientais.
A descoberta ressalta a complexidade dos processos naturais e a importância de compreender como fatores como a luz solar podem influenciar o ciclo do nitrogênio e, por extensão, o clima do planeta. Enquanto o CO₂ continua no centro das discussões sobre mudanças climáticas, o óxido nitroso emerge como um protagonista silencioso, mas poderoso, que demanda atenção urgente.