Garimpos ilegais de ouro geram impactos devastadores no meio ambiente e na saúde pública. Além de liberar até 3,5 toneladas de carbono por hectare para a atmosfera, essas atividades aumentam em até 70% a concentração de mercúrio no solo, de acordo com um estudo conduzido por pesquisadores da USP e colaboradores. A pesquisa, que analisou amostras de solo em quatro biomas brasileiros, destaca a urgência de políticas públicas que mitiguem os danos causados por essa prática.
Com dados obtidos em regiões de mineração ilegal no Pará, Mato Grosso e Minas Gerais, os cientistas utilizaram técnicas avançadas como espectroscopia e termogravimetria para medir as alterações químicas e físicas no solo. Os resultados revelaram que o mercúrio, usado em excesso para separar o ouro dos sedimentos, não só contamina o solo, mas também pode atingir corpos d’água, tornando-se uma ameaça para comunidades indígenas, ribeirinhas e ecossistemas inteiros. Estima-se que apenas na Amazônia 19 mil pessoas estejam expostas aos efeitos tóxicos do metal.
A pesquisa aponta que a transição entre as estações seca e chuvosa agrava ainda mais o problema, potencializando a liberação de mercúrio no meio ambiente. Essas mudanças sazonais podem intensificar o transporte do metal para rios e lençóis freáticos, expondo seres humanos e animais a compostos altamente tóxicos. Estudos prévios mostram que a contaminação por mercúrio em comunidades indígenas, como os Yanomami, causa danos neurológicos, imunológicos e cardiovasculares graves, além de comprometer recursos alimentares como peixes.
No contexto da mineração, o mercúrio é utilizado para formar amálgamas com o ouro. Durante o processo de queima ou lavagem, o metal é liberado no ambiente e pode sofrer metilação, uma transformação química que o torna ainda mais tóxico. Nas áreas analisadas, a concentração de mercúrio no solo pode alcançar até 39 quilos por hectare, com impactos significativos nos biomas estudados.
A pesquisa também evidenciou que áreas abandonadas há décadas mostram sinais de recuperação ambiental, embora em ritmo lento. Técnicas como a fitorremediação e o aumento da matéria orgânica no solo são algumas das alternativas sugeridas para acelerar o processo de restauração. Essas medidas, aliadas à fiscalização rigorosa e à educação ambiental, podem reduzir os danos causados pela mineração e diminuir a emissão de gases de efeito estufa.
O estudo reforça a necessidade de ações coordenadas para proteger biomas brasileiros e as populações vulneráveis. Sem essas iniciativas, o garimpo ilegal continuará a representar uma das maiores ameaças à biodiversidade e à saúde no país.
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