Participantes com mais microplásticos em suas amostras de gordura apresentavam níveis mais elevados de biomarcadores de inflamação, indicando como as partículas podem contribuir para problemas de saúde
Os plásticos estão presentes em embalagens de alimentos, pneus, roupas, tubulações de água e em muitos objetos do dia a dia. Eles liberam partículas microscópicas, mais conhecidas como microplásticos, que acabam no meio ambiente, podendo ser ingeridas ou inaladas pelas pessoas e animais.
Um estudo publicado ontem (6) na revista Nature revelou uma correlação entre esses microplásticos e a saúde humana. Conduzida com mais de 200 pacientes submetidos à cirurgia, a pesquisa revelou que quase 60% deles apresentavam microplásticos, inclusive nanoplásticos, em uma artéria principal. Aqueles que os tinham apresentaram 4,5 vezes mais chance de sofrer um ataque cardíaco, AVC ou óbito aproximadamente 34 meses após a cirurgia em comparação com aqueles cujas artérias estavam livres de plástico.
Contudo, os pesquisadores alertam que o estudo não estabelece uma relação causal entre as pequenas partículas e os problemas de saúde. Fatores não investigados, como o status socioeconômico, podem estar contribuindo para tais problemas, e não os plásticos em si.
Os cientistas encontraram microplásticos em praticamente todos os lugares que pesquisaram: nos oceanos, em frutos do mar, no leite materno, na água potável, pairando no ar e precipitando-se com a chuva. Esses contaminantes não apenas estão ubíquos, mas também são duradouros, muitas vezes levando séculos para se decompor. Como resultado, as células encarregadas da remoção de resíduos têm dificuldade em degradá-los, resultando no acúmulo de microplásticos nos organismos.
Em humanos, essas partículas foram encontradas no sangue e em órgãos como pulmões e placenta. Contudo, o acúmulo não implica necessariamente em danos. Os cientistas têm se preocupado com os efeitos dos microplásticos na saúde há cerca de 20 anos, mas avaliar rigorosamente tais efeitos tem sido desafiador, conforme observa Philip Landrigan, pediatra e epidemiologista do Boston College em Chestnut Hill, Massachusetts.
Giuseppe Paolisso, médico de medicina interna da Universidade da Campânia Luigi Vanvitelli em Caserta, Itália, e seus colegas, sabendo que os microplásticos são atraídos por moléculas de gordura, investigaram se essas partículas se acumulariam em depósitos de gordura, chamados placas, que podem se formar no revestimento dos vasos sanguíneos. A equipe acompanhou 257 pacientes submetidos a um procedimento cirúrgico para reduzir o risco de AVC, removendo placas de uma artéria no pescoço.
Os pesquisadores examinaram as placas removidas sob um microscópio eletrônico. Observaram bolhas irregulares – evidências de microplásticos – misturadas com células e outros resíduos em amostras de 150 participantes. Análises químicas revelaram que a maioria das partículas era composta por polietileno, o plástico mais comum no mundo, frequentemente encontrado em embalagens de alimentos, sacolas de compras e tubos médicos, ou cloreto de polivinila, conhecido como PVC ou vinil.
Em média, participantes com mais microplásticos em suas amostras de placas também apresentavam níveis mais elevados de biomarcadores de inflamação, indicando como as partículas podem contribuir para problemas de saúde. Se elas ajudam a desencadear a inflamação, podem aumentar o risco de ruptura da placa, liberando depósitos de gordura que podem obstruir os vasos sanguíneos.
Comparativamente aos participantes sem microplásticos nas placas, aqueles com microplásticos eram mais jovens, mais propensos ao sexo masculino, mais propensos a fumar e mais propensos a ter diabetes ou doenças cardiovasculares. Como o estudo incluiu apenas pessoas submetidas à cirurgia para reduzir o risco de AVC, não se sabe se essa associação se mantém em uma população mais ampla.