Estudo revela que detritos florestais são responsáveis por 75% das emissões de incêndios na Amazônia e no Cerrado

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A combustão lenta de madeira morta e detritos lenhosos é responsável por grande parte das emissões de poluentes gerados pelos incêndios na Amazônia e no Cerrado. Essa descoberta, fruto de um estudo internacional liderado pela Universidade de Tecnologia de Dresden (TUD), revela que os resíduos de madeira representam até 75% da biomassa queimada nesses biomas, contribuindo de forma desproporcional para a liberação de monóxido de carbono e outros poluentes atmosféricos. A pesquisa, publicada na revista Nature Geoscience, integra dados de satélite e modelos de incêndio para analisar a temporada de queimadas de 2020, oferecendo novas perspectivas sobre os impactos ambientais e climáticos desses eventos.

A análise mostrou que, apenas em 2020, os incêndios na Amazônia consumiram cerca de 372 milhões de toneladas de biomassa seca, liberando aproximadamente 40 milhões de toneladas de monóxido de carbono na atmosfera. Esse processo de combustão lenta, típico de florestas tropicais, produz quantidades significativamente maiores de poluentes em comparação com incêndios em ecossistemas de savana. Segundo Matthias Forkel, principal autor do estudo, a queima de madeira morta em florestas tropicais é um fator-chave para entender as emissões de incêndios e seus efeitos nos ciclos globais de carbono.

O estudo utilizou observações da missão Copernicus Sentinel-5P, processadas pelo Instituto Meteorológico Real da Holanda (KNMI), para validar as estimativas de emissões. Esses dados reforçam a importância de considerar as características do combustível, como tipo de biomassa e condições de umidade, nos modelos climáticos e nos inventários de emissões. Stephen Plummer, cientista da Agência Espacial Europeia (ESA), destacou que os detritos lenhosos têm um papel central na intensificação das emissões e da poluição do ar em regiões como a Amazônia e o Cerrado, onde incêndios causados pelo homem e o desmatamento são cada vez mais frequentes.

Além de impactar a qualidade do ar, a queima de biomassa lenhosa afeta a biodiversidade e os ciclos de carbono globais. A pesquisa, parte do projeto Sense4Fire, contou com a colaboração de instituições como a BeZero Ltd. e outros centros de pesquisa, e seus dados estão disponíveis no repositório OPARA da TUD. As descobertas reforçam a necessidade de políticas públicas e ações de conservação que considerem a dinâmica dos incêndios florestais e seus efeitos de longo prazo.

A Amazônia e o Cerrado, biomas essenciais para o equilíbrio climático global, enfrentam desafios crescentes com o avanço do desmatamento e das queimadas. Compreender os mecanismos por trás das emissões de incêndios é um passo fundamental para mitigar seus impactos e proteger esses ecossistemas vitais.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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