Estudo revela que usinas de conversão de lixo em energia podem emitir mais carbono do que termelétricas a carvão

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A energia gerada a partir de resíduos, conhecida como Waste-to-Energy (WtE), é frequentemente vista como uma solução sustentável para o gerenciamento de lixo e a produção de eletricidade. No entanto, um estudo recente liderado pela Universidade Monash, na Austrália, expõe uma realidade preocupante: algumas usinas de WtE na China emitem mais dióxido de carbono por unidade de energia gerada do que as tradicionais usinas movidas a carvão. A pesquisa, publicada na revista Nature Energy, destaca que o aumento do plástico no lixo e a falta de avanços tecnológicos são os principais responsáveis por esse cenário.

A China, que possui a maior capacidade de geração de energia a partir de resíduos do mundo, processa cerca de 700 mil toneladas de lixo por dia. Embora essas usinas tenham contribuído para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em comparação com aterros sanitários, sua eficiência varia significativamente. O estudo analisou quase 600 instalações ao longo de duas décadas e identificou que a composição dos resíduos e a tecnologia utilizada são fatores determinantes para o desempenho ambiental dessas plantas.

Um dos principais desafios é o crescente volume de plástico no lixo urbano, que, quando queimado, libera grandes quantidades de carbono. Além disso, a eficiência de conversão de energia nas usinas chinesas ainda está aquém dos padrões internacionais. Enquanto países como a Austrália e nações europeias possuem práticas mais avançadas de segregação de resíduos e tecnologias modernas, a China enfrenta dificuldades para implementar essas melhorias em larga escala.

O estudo propõe um roteiro para otimizar as usinas de WtE, com foco em três pilares: melhorar a segregação de resíduos, aumentar a eficiência de conversão de energia e implementar sistemas de captura de carbono. Segundo os pesquisadores, essas medidas poderiam reduzir pela metade as emissões das usinas até 2060, aproximando-as dos níveis de usinas movidas a gás natural.

A Austrália, que recentemente inaugurou usinas de WtE em Kwinana e East Rockingham, pode servir como exemplo. Com práticas consolidadas de classificação de resíduos e equipamentos modernos, o país tem potencial para equilibrar energia, meio ambiente e sustentabilidade. No entanto, especialistas alertam que a expansão dessas usinas deve ser cuidadosamente planejada para evitar a substituição de uma fonte de alta emissão por outra.

Victor Chang, vice-chefe do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Monash, ressalta que a energia a partir de resíduos tem um papel duplo: além de ser uma alternativa mais limpa aos aterros, é um componente importante do fornecimento de eletricidade. Para que essa tecnologia continue relevante, é essencial alinhar sua expansão com metas de energia limpa e investir em inovações que reduzam seu impacto ambiental.

O estudo conclui que, embora a WtE seja uma solução promissora, sua eficácia depende de políticas públicas bem elaboradas, investimentos em tecnologia e mudanças significativas na gestão de resíduos. Sem esses avanços, a energia gerada a partir de lixo pode se tornar mais um problema do que uma solução para a crise climática.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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