Empreendedores do mercado internacional de biogás ouvidos pelo projeto GEF Biogás Brasil em missão na Europa indicam principais desafios para a consolidação do país como líder mundial no setor.
Por Nações Unidas Brasil | Projeto GEF Biogás Brasil é liderado pelo MCTI, implementado pela UNIDO, financiado pelo GEF e conta com o CIBiogás como principal entidade executora.
Em junho, a equipe do Projeto GEF Biogás Brasil compareceu ao World Biogas Summit em Birmigham, na Inglaterra, durante uma missão técnica a empresas do Reino Unido, da França e da Bélgica que otimizam seus negócios por meio da produção de biogás e biometano. Na missão, a equipe conversou com empresários ligados à cadeia de valor global do biogás para entender como esse mercado no Brasil é visto pelo setor privado fora do país.
O Projeto GEF Biogás Brasil é liderado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), implementado pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e conta com o CIBiogás como principal entidade executora.
Entre os principais desafios elencados pelos empresários ouvidos pelo Projeto estão o acesso a financiamentos para projetos executivos de biogás e informações mais claras sobre as possibilidades de investimento internacional no aproveitamento energético de resíduos no Brasil.
Para Sidnei Vital Guimarães, gerente de Desenvolvimento de Negócios para o Setor de Bioenergia na empresa Aggreko, apesar de o mercado brasileiro de biogás ter avançado nos últimos anos, ainda há um longo caminho a ser percorrido.
“Esse mercado precisa de maior engajamento das instituições e conscientização pública, regulação dos atributos do biogás e opções de financiamento. O mercado energético tem muitos benefícios que ajudarão o Brasil no compromisso de redução de emissões de metano, então são muitas as oportunidades para o desenvolvimento estruturado o setor”, diz o empresário.
Guimarães também enfatiza que o aumento nos preços do petróleo, gás natural, carvão e eletricidade deve favorecer a expansão do setor de biogás. Ele reforça que o biogás traz diversos benefícios socioambientais, contribui com o desenvolvimento econômico regional, colabora com a segurança energética do país e pode reduzir a dependência brasileira em relação aos combustíveis fósseis, o que torna o biogás uma alternativa competitiva.
“Muitas empresas assumiram o compromisso de reduzir as emissões de carbono equivalente, portanto o biogás é a escolha mais adequada, visto que este energético possui atributos ambientais de descarbonização e ajudarão nos compromissos de redução de gases do efeito estufa”, conclui o gerente da Aggreko.
Já Lily Bernadet, gerente de negócios para o desenvolvimento do setor de biogás no Reino Unido na Storengy UK, acredita que a presença de demanda interna por energia é fator crítico para investimentos na produção e no escoamento de biometano e gás natural no Brasil, por isso o mercado ainda está apenas começando no país.
“Agora, vemos uma mudança nos projetos de biogás, com maiores projetos produzindo biometano. É um setor crescente que está se desenvolvendo rapidamente”, explica a gerente.
Lily Bernadet defende que a energia deve ter um preço acessível. “Para que a energia tenha um valor justo, o mercado tem que incentivar a produção de energia verde. Essa energia verde tem que ser valorizada no mercado”, finaliza.
Desafios
O especialista em biogás do Projeto GEF Biogás Brasil e consultor da UNIDO em parceria com o CIBiogás, Ricardo Müller, participou da missão técnica do Projeto pela Europa e destaca que as empresas internacionais ouvidas pela equipe ainda sabem pouco sobre o funcionamento do mercado brasileiro de biogás.
“As empresas estrangeiras, de uma forma geral, têm uma visão muito limitada do mercado nacional e, sem sombra de dúvidas, essa falta de informação do nosso mercado para o estrangeiro é uma barreira limitante para que sejam estruturados planejamentos estratégicos dessas empresas para atuar no mercado brasileiro”, explica Müller.
De acordo com o “Panorama do Biogás no Brasil de 2021”, elaborado pelo CIBiogás, o país tem potencial para produzir anualmente cerca de 85 bilhões de metros cúbicos de biogás. A produção atual, entretanto, é de cerca de dois bilhões de metros cúbicos por ano, o que representa pouco mais de 2% desse potencial.
Mesmo com essa vasta capacidade ainda inexplorada, é possível constatar um crescimento promissor nos últimos anos. Segundo o panorama revelado pelo CIBiogás, houve um aumento de 16% no número de novas plantas de biogás em operação no Brasil e de 10% no volume de biogás produzido em 2021 em comparação ao ano anterior. A plataforma BiogásMAP registra hoje 811 plantas de biogás em território nacional.
Programa de Tropicalização
A missão técnica do Projeto GEF Biogás Brasil pela Europa foi realizada pela equipe do Programa de Tropicalização, uma iniciativa do Projeto que promove a cooperação entre empresas brasileiras e estrangeiras para identificar oportunidades de negócios que atendam às demandas do mercado nacional.
A equipe realizou visitas técnicas a empresas estratégicas para o desenvolvimento do setor de biogás no Brasil, dentre elas: Top-Industrie (França), Dranco (Bélgica), Aggreko e Storengy (Reino Unido), além de ter realizado agendas com as empresas Qube Renewables (Reino Unido) e ANTEC (Noruega) durante o World Biogas Summit ,em Birmigham. O objetivo foi aprofundar o diálogo com essas empresas e consolidar oportunidades de parceria para investimentos em biogás no Brasil.
Após a missão, o Programa de Tropicalização trabalha para desenvolver uma ação estratégica em parceria com a Storengy UK para criar modelos inovadores de armazenamento de biogás para o mercado brasileiro. A meta é implementar no Brasil a tecnologia de estoque de gás natural e biometano em cavernas subterrâneas que a empresa utiliza em suas usinas na Europa e no Reino Unido.
Saiba mais sobre o Programa de Tropicalização no site do Projeto GEF Biogás Brasil.
Este texto foi originalmente publicado por Nações Unidas Brasil de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.