Exposição a pesticidas está relacionada ao aumento do risco de desenvolver diabetes, segundo estudos

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Os compostos químicos influenciam organismos desde a gravidez e aumentam em até 64% os riscos de surgimento de diabetes

Imagem: Wikimedia Commons / CC0

Diabetes é uma doença que atinge mais de 350 milhões de pessoas em todo o mundo. Ela é um verdadeiro desafio para a saúde pública global, pois pode ser desencadeada por fatores genéticos e ambientais. Uma dieta rica em açúcares e gorduras e hábitos como o sedentarismo e tabagismo são alguns motivos causadores da diabetes na vida adulta. Já uma dieta balanceada, rica em peixes e vegetais pode prevenir e auxiliar no tratamento da diabetes. Contudo, muitas vezes, esses produtos escondem compostos químicos perigosos. Traços de pesticidas são encontrados no tecido adiposo de vacas e em todo tipo de espécie que teve contato com um solo ou alimento contaminado. Cientistas descobriram que os pesticidas são mais uma causa que pode estar por trás de muitos diagnósticos de diabetes.

Recentemente, um grupo de cientistas apresentou na European Association for the Study of Diabetes 51st Annual Meeting uma análise de 21 pesquisas que estudaram a relação entre os pesticidas e a diabetes em mais de 66 mil indivíduos de diversos países. Eles descobriram que esses contaminantes ambientais desempenham um papel importante no desenvolvimento da resistência à insulina, a substância responsável por equilibrar o nível de glicose no sangue.

A maioria dos estudos não relatou o tipo específico de diabetes, contudo, após análises estatísticas, a conclusão é que a exposição a diversos pesticidas aumenta o risco de diabetes. A associação entre a exposição a qualquer pesticida e a todos os tipos de diabetes foi examinada. Alguns pesticidas são mais danosos do que outros.

“Nós ficamos surpresos com a consistência dos resultados em diferentes subgrupos e com a análise de sensitividade, onde o risco relativo permanece alto”, afirmou o pesquisador da Escola de Saúde Pública da Imperial College, de Londres, Evangelos Evangelou, um dos autores do trabalho comparativo, em entrevista ao Correio Braziliense.

Existem trabalhos experimentais feitos em animais e testes in vitro que mostram que pesticidas podem estimular a resistência à insulina em até 64%, o que leva ao desenvolvimento da diabetes tipo 2. Os pesticidas podem alterar a função das células beta que produzem a insulina. Dessa forma, a intoxicação ao longo prazo pode levar também à diabetes tipo 1.

De acordo com os cientistas, os compostos causam uma resposta imunológica que levaria ao problema metabólico. Como explica Juan Pedro Arrebola, especialista e pesquisador da Universidade de Granada: “Certos químicos podem exercer um efeito imunotóxico ao se ligarem aos receptores de estrogênio, o que induz uma inflamação crônica, reduz a função mitocondrial, leva à oxidação dos ácidos graxos e ao aumento da lipólise, todos fatores relacionados à síndrome de resistência à insulina”.

Pesticidas

Os pesticidas são grandes vilões, pois contaminam solo, lençóis freáticos, rios e lagos. Eles persistem por anos no solo e no organismo de animais e aumentam as chances de desenvolvimento de diversas síndromes metabólicas, sendo altamente danosos para a saúde humana (clique aqui e saiba mais sobre os impactos dos pesticidas).

Os pesticidas incluem um certo número de produtos químicos, incluindo herbicidas e inseticidas. Alguns dos pesticidas incluem organofosforados (incluindo malathion, diazinon, parathion, e clorpirifos), a atrazina (amplamente utilizada nos EUA, mas proibida na Europa), e muitos outros. Dentre as substâncias encontradas no organismo de pessoas que desenvolveram diabetes, destacam-se compostos como o DDT e o coordano. Ambos os compostos foram banidos em diversos países, mas permanecem em  animais e seres humanos. Eles levam um longo prazo para desaparecer, característica que os enquadra como poluentes orgânicos persistentes (POPs). Para sumir de solos e águas, o DDT leva até 30 anos e o clordano – muito utilizado para o extermínio de cupins – permanece por décadas após ser aplicado nas residências (para mais informações sobre poluentes orgânicos persistentes clique aqui).

Um produto que já  foi proibido é o veneno de rato Vacor. Ele destrói as células beta diretamente e algumas pessoas que tentaram se matar com o veneno nos anos 70 acabaram desenvolvendo diabetes.

Quem está mais vulnerável ao efeito?

Os pesticidas podem contribuir para as taxas crescentes de diabetes. Algumas pessoas podem ser mais suscetíveis aos efeitos dos pesticidas devido a uma variedade de fatores, como desnutrição, falta de acesso aos cuidados de saúde, predisposição genética, níveis de exposição elevados, e exposição durante períodos de desenvolvimento, como no útero e durante a infância.

Pacientes com grande índice de gordura corporal podem ser mais prejudicados pelos efeitos dos pesticidas. Os componentes nocivos são bioacumulantes, ou seja, ficam armazenados por um longo tempo no tecido adiposo de humanos e animais, e por isso eles estão mais suscetíveis a desenvolverem diabetes pela exposição aos compostos tóxicos.

A diabetes gestacional também está relacionada à exposição de pesticidas. Um estudo do cientista Arrebola analisou 107 mulheres que apresentavam histórico da doença. A pesquisa constatou a relação entre a concentração de poluentes e a resistência à insulina desenvolvida no organismo das pacientes.

Pessoas que tem alta exposição, como agricultores, aplicadores de pesticidas e pessoas que trabalham na indústria dessas substâncias, podem ter um risco 200% maior de adquirir a doença. A informação é oriunda de um levantamento feito pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH), e aponta o tricloforn como um dos piores vilões. De acordo com o estudo, aqueles que tiveram ao menos dez exposições à substância têm 250% mais chances de desenvolver a diabetes.

A exposição a pesticidas é prejudicial em prazos longos e curtos. Há estudos de casos documentados na literatura científica de pessoas intoxicadas por agrotóxicos que foram diagnosticadas erroneamente com cetoacidose diabética por apresentarem alguns dos mesmos sintomas. Um dos estudos relata o caso de um menino de 12 anos, internado seis horas após consumir sem lavar quatro tomates em um campo (na Índia). Os médicos pensaram inicialmente que ele ele possuía cetoacidose diabética por apresentar hiperglicemia e grande concentração de glicose na urina. Isso ocorre devido ao fato de os pesticidas organofosforados interferirem no metabolismo da glicose.

Como evitar?

A exposição a altos níveis de pesticidas é comum em países em desenvolvimento, especialmente os pesticidas organofosforados. É difícil ter noção clara dos níveis de POPs e de outros agrotóxicos presentes em produtos agrícolas. Por ser uma contaminação invisível, o consumidor tem dificuldade em reconhecer se está ou não ingerindo um produto contaminado.

Após a pulverização utilizada para aplicar os pesticidas, os resíduos se alocam na superfície dos alimentos, ou seja, na casca. Apesar do pesticida ser absorvido pelas plantas, lavar os alimentos com água morna ou descasca-los já ajuda bastante.

Uma possível saída é procurar conhecer o histórico dos locais de cultivo, ou, se isso não for possível, buscar produtos certificados de origem orgânica. Uma dieta de alimentos orgânicos reduz significativamente a exposição das pessoas aos pesticidas organofosforados.

Confira aqui nove dicas que como evitar a contaminação por pesticidas em sua comida.

Fontes: News MedBeyond pesticidesDiabetes and environment

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