Grupo de vigilância em saúde de cidade norte-americana encontrou cerca de 98 produtos que continham a substância quimíca cocamida DEA em sua fórmula
Annie Leonard (a mesma que fez o vídeo “A História das Coisas”, sobre a obsolescência programada e que virou sensação na internet) produziu, em 2010, em parceria com a Campaign for Safe Cosmetics, o vídeo “A História dos Cosméticos” (veja abaixo). Nele, Leonard afirma que a indústria de cosméticos utiliza alto número de substâncias tóxicas, que, além de serem prejudiciais para quem consome esses produtos, são danosas aos trabalhadores envolvidos na extração de matérias-primas e à natureza. No curta metragem, a autora afirma que “menos de 20% dos químicos dos cosméticos foram testados pelo Comitê de Segurança da Indústria [órgão americano similar à Anvisa]”.
Um novo caso envolvendo uma substância bem problemática, a dietanolamina, mostra como Leonard estava correta, já que um centro de pesquisa está processando fabricantes de cosméticos e varejistas por utilizarem a substância (potencialmente cancerígena, como já foi alertado pela eCycle) em um nível muito elevado.
Um grupo de vigilância em saúde da cidade norte-americana de Oakland resolveu investigar as substâncias que compunham a fórmula de alguns xampus. Para isso, o Centro de Saúde Ambiental (Center for Environmental Health – CEH), comprou xampus e outros produtos em lojas próximas à baía de São Francisco e em varejistas online, e os testaram em um laboratório independente. A análise mostrou que nada menos que 98 produtos continham dietanolamida de ácido graxo de coco (cocamida DEA), inclusive os comercializados para crianças e os que vinham com o rótulo de “produto biológico”.
Essa substância foi adicionada, em 2012, à lista da Prop 65, que contém os componentes químicos considerados, pelo Estado americano da Califórnia, cancerígenos ou tóxicos. A cocamida DEA foi adicionada depois que a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer a considerou um agente químico com potencial cancerígeno em humanos. Após sua adição, o estado da California estabeleceu, então, o prazo de um ano, para os fabricantes de cosméticos e de produtos de higiene pessoal retirarem a dietanolamida de ácido graxo de coco da fórmula de seus produtos.
O CEH constatou, por meio da pesquisa descrita acima, que alguns fabricantes e varejistas ainda não obedeceram a decisão. A partir desse fato, o centro está processando quatro empresas e planeja processar outras dezenas (veja a lista aqui) por fabricarem ou venderem xampus, sabonetes e outros produtos de higiene que contenham a cocamida DEA em sua fórmula.
Apesar de o estado da Califórnia já ter incluído a cocamida DEA na lista das substâncias químicas prejudiciais à saúde, ainda não foi declarado um limite específico para o seu uso na fabricação de produtos higiene pessoal. O Centro de Saúde Ambiental declarou que os testes mostraram que os produtos identificados com cocamida DEA tinham essa substância num nível “muito acima” do padrão geral estabelecido pelo Estado para os agentes cancerígenos. Em muitos casos, os produtos continham mais do que 10 mil partes por milhão (ppm) de cocamida DEA, e um xampu testado tinha mais de 200 mil ppm (20%) da mesma substância. Para efeito de comparação, o limite máximo permitido para o formol, substância tóxica e também associada ao câncer, é de 0,75 ppm em oito horas. Para exposições curtas de 15 minutos, o limite é de 2 ppm.
O CEH também garante que o que grupo está pedindo não é algo impossível, pois já existem diversos produtos similares que já foram testados e não continham as substâncias químicas perigosas.
Clique aqui para acessar a página do Center for Environmental Health (em inglês) e ter mais informações a respeito do caso.
Dicas de consumo
No Brasil, o site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não indica restrições ao uso da dietanolamina e de seus derivados em xampus, sabonetes e outros itens de higiene, até o momento.
Portanto, para evitar transtornos, alguns cuidados devem ser tomados na hora de comprar um produto de higiene pessoal. A própria Anvisa recomenda os seguintes procedimentos: verificar se o produto possui registro na Anvisa ou no Ministério da Saúde; comprar produtos que tenham a embalagem limpa e em bom estado; verificar o prazo de validade do item; ler as informações presentes no rótulo da embalagem e observar as advertências e restrições de uso; em caso de contato do produto com os olhos, lave a área imediatamente com água corrente; para as crianças, é aconselhável o uso de linhas infantis.
Fora isso, também é importante evitar produtos que contenham produtos que sejam potencialmente contaminantes, como dioxinas, ftalatos e dietanolamina (veja mais aqui). Veja se a nomenclatura de substâncias está em inglês ou português. Caso esteja em inglês, redobre a atenção para não se confundir.
No site da Campaign for Safe Cosmetics também é possível encontrar informações importantes sobre algumas marcas de cosméticos e de higiene pessoal, bem como de elementos tóxicos contidos neles – o site é voltado para produtos norte-americanos, mas muita coisa também serve para nós, brasileiros.
Outra opção é a plataforma online desenvolvida pela organização norte-americana Enviromental Working Group (EWG), que também facilita a pesquisa sobre a composição de alguns produtos de higiene pessoal. Saiba mais aqui.