A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou um livro que discute estratégias integradas para garantir a sustentabilidade agrícola. Com contribuições de 78 especialistas, o volume aborda desde demografia e pobreza rural até biodiversidade e escassez de água, apresentando exemplos viáveis para articular setores da produção de alimentos sem prejudicar o capital socioambiental existente.
Segundo a agência da ONU, um terço das terras agrícolas é avaliada como degradada em níveis de moderado a alto. A agricultura é responsável por 70% da coleta de água no mundo e está associada à poluição ambiental. A FAO também estima que a produção de alimentos responde por 75% da perda da agrobiodiversidade.
O organismo internacional ressalta ainda que os sistemas de produção agrícola, incluindo na conta o desmatamento, contribuem com 29% das emissões globais de gases do efeito estufa. Esses gases estão na origem das mudanças climáticas, que já têm impacto sobre os meios de subsistência das populações mais vulneráveis, especialmente nas áreas rurais.
“Não podemos continuar a produzir alimentos da mesma maneira”, contando com técnicas agrícolas intensivas, insumos químicos e mecanização, afirmou o chefe da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, por ocasião do lançamento do livro.
Na avaliação do dirigente, ações pontuais, que tentam encaixar novas técnicas em padrões produtivos já estabelecidos, são insuficientes para colocar a agricultura num caminho sustentável. Segundo Graziano, é necessário revisar políticas e orientações mais amplas, a fim de lidar com os conflitos de interesse que surgem com a necessidade de mudar o modo de cultivar alimentos.
“Precisamos mudar para uma abordagem mais interconectada da sustentabilidade”, enfatiza o especialista.
O livro Alimento Sustentável e Agricultura: Uma Abordagem Integrada apresenta evidências e experiências que mostram como a agricultura sustentável pode ser aprimorada em diferentes escalas. A obra reúne 48 capítulos de pesquisadores da FAO, universidades e outras organizações. Em quase 600 páginas, o leitor pode conhecer iniciativas de governança e políticas públicas para a resolução de questões nacionais e globais.
Editada pela FAO em parceria com a Academic Press Division, da Elsevier, a publicação é direcionada a formuladores de políticas, profissionais de pesquisa e extensão agrícola, de desenvolvimento e estudantes e professores de ciências biológicas, sociais e agrícolas.
“Governos, cientistas, sociedade civil e setor privado precisam de um entendimento comum de conceitos, métodos e estratégias, que não devem ser pensados separadamente, mas sim de forma interconectada por todos os setores”, defende Clayton Campanhola, editor-chefe da publicação e líder do Programa Estratégico da FAO para Agricultura Sustentável.
A seção final do livro se concentra em quatro áreas: pesquisa e inovação; políticas e incentivos; mobilização de recursos; e governança e instituições. Esses eixos são considerados críticos para promover transformações estruturais significativas nos sistemas alimentares. Também são propostas recomendações para atores envolvidos com a produção agrícola.
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