Imagem: Wikimedia Commons
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Koppert do Brasil Sistemas Biológicos, empresa de origem holandesa especializada no controle biológico de pragas na agricultura, anunciaram, em 20 de dezembro, um acordo de cooperação para pesquisas, com foco no desenvolvimento de produtos que garantam o controle de pragas e doenças em diferentes culturas agrícolas, por meio do controle biológico.
Com duração de dez anos, o acordo é o primeiro assinado pela Fapesp voltado exclusivamente aos temas relacionados ao aprimoramento do controle biológico na produção agrícola. Este também é o foco de atuação da Koppert no Brasil, onde mantém em sua sede, em Piracicaba (SP), um departamento próprio de Pesquisa e Desenvolvimento que busca aperfeiçoar tecnologias de controle biológico para a agricultura tropical.
O acordo com a Fapesp prevê investimentos de R$ 20 milhões ao longo dos próximos dez anos, divididos entre os parceiros. A proposta é de que diferentes pesquisas ajudem a desenvolver um sistema voltado para soluções naturais, com o manejo integrado de pragas e doenças na produção agrícola, visando a saúde do cultivo, sua resistência e produtividade.
Para tanto, estão previstas a realização de uma chamada de propostas de pesquisas nos próximos meses e a criação de um Centro de Pesquisa Aplicada em Controle Biológico, no âmbito do Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), da Fapesp.
O acordo deverá impulsionar ainda o desenvolvimento de um modelo de controle biológico apropriado às características da agricultura brasileira, com plantios ininterruptos de diferentes culturas em grandes extensões, desenvolvimento de novas cultivares e o frequente surgimento de pragas.
A pesquisa e desenvolvimento em controle biológico avançaram no Brasil nos últimos anos. No entanto, diferentemente de países de clima temperado, no Brasil o controle biológico é feito em áreas abertas e extensas, fazendo com que sua utilização dependa de alta tecnologia – o que envolve conhecimento, produtos de alta qualidade e tecnologia de aplicação, características que serão desenvolvidas e coordenadas pelo Centro.
Nesse sentido, as pesquisas deverão resultar em maior conhecimento sobre os macrorganismos (insetos e ácaros) e os microrganismos (bactérias, vírus, protozoários e nematoides) presentes na biodiversidade brasileira com potencial de uso no controle de pragas e doenças em diferentes culturas.
“Na agricultura brasileira existem diferentes produtos para a resolução de diferentes problemas. Pretendemos, junto com as universidades, encontrar as soluções mais apropriadas, o que inclui não apenas o desenvolvimento de agentes biológicos específicos como as maneiras corretas de aplicá-los no campo”, diz o presidente mundial da empresa, Paul Koppert.
Para ele, a exemplo da parceria da Koppert com instituições de pesquisa e universidades em diferentes países, serão necessários de três a quatro anos até que os agentes de controle sejam identificados, adaptados quando necessário e estejam prontos para o uso em diferentes culturas agrícolas.
De acordo com o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, trata-se de um tema essencial para a agricultura do Estado de São Paulo, e no qual a pesquisa paulista tem muito a contribuir.
“O acordo com a Koppert permite à Fapesp criar oportunidade para que a comunidade de pesquisa em São Paulo, em universidades e institutos de pesquisa, se associe à empresa para descobrir novos conhecimentos e aplicações na área de controle biológico. O modelo de Centros de Pesquisa em Engenharia, criado pela Fapesp, é inovador e tem poucos paralelos internacionalmente, permitindo que a equipe de pesquisa da empresa se entrose e desenvolva uma real colaboração com a equipe da universidade ou instituto de pesquisa, dado o longo prazo do contrato”, diz.
A Fapesp já criou cinco Centros de Pesquisa em Engenharia no âmbito do PITE: o Centro de Pesquisa em Engenharia sobre Química Verde, em parceria com a GSK e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); o Centro de Pesquisa em Engenharia sobre Descoberta de Alvos Moleculares de Origem Natural para Drogas, também com a GSK e com sede no Instituto Butantan; o Centro de Pesquisa Aplicada em Bem-Estar e Comportamento Humano, junto com a Natura e o Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP); o Centro de Pesquisa em Engenharia para Inovação em Gás Natural, com o BG Group-Shell, na Escola Politécnica da USP, e o Centro de Pesquisa em Engenharia voltado ao desenvolvimento de motores a combustão movidos a biocombustíveis, em parceria com a Peugeot-Citröen e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Atualmente, a Koppert tem pesquisas em andamento com ácaros predadores, nematoides entomopatogênicos, parasitoides e diferentes microrganismos para controle de pragas e doenças. “Publicamos apenas pesquisas feitas em colaboração com universidades, uma vez que grande parte do que produzimos internamente tem um cunho técnico para gerar resultados de campo”, diz Danilo Scacalossi Pedrazzoli, diretor industrial da Koppert.
Para ele, o acordo com a Fapesp deve trazer proximidade e melhoria ao relacionamento empresa-universidade, realidade comum na Europa e nos Estados Unidos, sobretudo porque as tecnologias introduzidas no Brasil vieram de países com clima e culturas diferentes, o que as inviabiliza ou diminui suas possibilidades locais de exploração.
“O acordo trará retorno rápido no desenvolvimento de conhecimento focado em soluções sustentáveis em agricultura tropical, o que é inédito no mundo. O Centro Fapesp-Koppert trará ao mercado conhecimento prático no manejo de pragas e doenças, catalisando o conhecimento desenvolvido nos últimos 40 anos pelas universidades paulistas, precursoras no setor”, afirma.
Internacionalmente, a utilização de controle biológico na agricultura tem aumentado entre 15% e 20% ao ano. Dados da Koppert indicam que o Brasil apresentou crescimento da produtividade em mais de 200% nos últimos 30 anos, com apenas 45% de aumento da área cultivada. “O foco e o desafio atual são aumentar ainda mais esta produtividade, sem expansão de área. O manejo integrado, onde se encaixa o controle biológico, pode contribuir para este aumento de produtividade, promovendo o uso racional e mais eficiente de ferramentas de proteção de plantas e redução de custos”, finaliza.
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