Uma fazenda de camarão é um produto da aquicultura que ampliou a disponibilidade e acessibilidade do fruto do mar. Ela é uma resposta à alta demanda do alimento em países desenvolvidos e acredita-se que seja responsável pela produção de 55% de todo o camarão consumido globalmente.
A criação comercial de camarão teve início durante a década de 70 e ocorria, principalmente, em partes da América Central e do Sul da Ásia. Atualmente, a maior parte da aquicultura de camarão ocorre na China, seguida pela Tailândia, Indonésia, Índia, Vietnã, Brasil, Equador e Bangladesh.
O camarão é o produto marinho mais valioso comercializado no mundo. Dados apontam que a produção do alimento sofreu com um aumento de nove vezes entre 1982 e 1995, resultando na expansão das fazendas de camarão, que desde então, continua crescendo.
Inicialmente, as fazendas de camarões eram vistas como uma solução à elevação do nível do mar e tempestades que invadiam culturas de outros alimentos. Frente a isso, muitos agricultores, principalmente em Bangladesh, começaram a investir na aquicultura.
Com o apoio do governo, mais de 275 mil hectares foram inundados durante a década de 80, principalmente no sudoeste do país, para aquicultura intensiva.
“A aquicultura do camarão tem sido considerada uma estratégia de adaptação às mudanças climáticas. Algumas agências de desenvolvimento dizem que é a única opção para áreas que já estão submersas. Mas contribui para muitos dos problemas sociais e ecológicos que afirma evitar”, afirma Kasia Paprocki, geógrafa da London School of Economics e autora de Threatening Dystopias: The Global Politics of Climate Change Adaptation in Bangladesh. (1)
Assim como outros países afetados pelas mudanças climáticas, Bangladesh foi impactada pela elevação do mar, ciclones, enchentes extensas e calor extremo — que possibilitou uma oportunidade econômica para o país, mas ao mesmo tempo comprometeu a vida de parte da população.
Agricultores locais que não investiram em fazendas de camarões sofrem com as consequências dessas instalações, que danificam as plantações através do vazamento de água salobra e de fertilizantes decorrentes da indústria.
As fazendas de camarão possuem um grande impacto socioambiental. Veja os principais efeitos dessa indústria:
Para suprir a demanda mundial, muitos aquicultores injetam hormônios nos camarões, contribuindo para a poluição. Um fluxo constante de resíduos orgânicos, produtos químicos e antibióticos provenientes da indústria pode poluir as águas subterrâneas e estuários costeiros.
Além disso, o sal derivado das fazendas de camarão também pode impactar plantações locais, afetando a qualidade do solo e produções agrícolas.
Aproximadamente 80% dos camarões cultivados são criados a partir de apenas duas espécies – Penaeus vannamei e Penaeus monodon. Ambas as monoculturas são muito suscetíveis a doenças.
As lagoas utilizadas em fazendas de camarão são repletas de fertilizantes, criando um ambiente propício para o crescimento e proliferação de doenças como a síndrome da mancha branca, que ataca os corpos dos camarões e pode destruir uma colheita em uma semana.
Além de prejudicar a própria produção do alimento, a infecção de outras doenças pode afetar o resto da biodiversidade local. Quando os camarões são infectados, eles começam a nadar perto da superfície da água, atraindo gaivotas e outras aves que consomem o animal doente.
Consequentemente, as aves acabam espalhando o patógeno para outras áreas.
Segundo um relatório da Oceana, a maioria das fazendas de camarão no Sudeste Asiático e na América Central estão localizadas em locais que já foram manguezais — um ambiente essencial para diversas espécies nativas. Por outro lado, os camarões se reproduzem rapidamente, portanto, qualquer deslize pode fazer com que as espécies invadam os habitats locais que fazem fronteira com as fazendas.
O alimento dos camarões é extremamente importante para a biodiversidade, sendo considerado a base da cadeia alimentar marinha. O esgotamento desses recursos pode resultar na extinção e desaparecimento de camarões selvagens enquanto impulsiona o monopólio criado pelas fazendas de camarões.
Como já mencionado, as fazendas de camarões podem afetar diretamente o investimento agrícola das regiões próximas. Porém, além disso, existem outros impactos socioeconômicos resultantes dessa aquicultura.
Segundo uma investigação da Association Press, por exemplo, as fazendas de camarão na Tailândia foram acusadas de tráfico humano, abuso infantil e escravidão por migrantes de Mianmar, Laos e Camboja. Essas alegações foram amplamente disseminadas pela mídia local durante 2014 e 2015 e, desde então, relatos de abusos semelhantes foram vistos.
Em comparação, a pesca não é melhor que uma fazenda de camarão. Embora esses animais tenham uma reprodução rápida, a alta demanda do alimento contribui para a sobrepesca — que possui um grande impacto ambiental.
Adicionalmente, a pesca também pode resultar em capturas acidentais, além de contribuir para a pesca fantasma — afetando grande parte das espécies marinhas.
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