Ao longo do tempo, a conexão entre fé e meio ambiente foi negligenciada através do impulsionamento de outras instituições na mitigação dos impactos ambientais criados pelo homem. No entanto, especialistas acreditam que líderes e instituições religiosas possuem um papel fundamental na disseminação de informações sobre a preservação e conservação do meio ambiente.
Foi através desse ideal que a ONU criou, em 2017, a Iniciativa Fé pela Terra (ou Faith for Earth, em inglês). O projeto tem o objetivo de envolver-se estrategicamente com organizações religiosas e fazer parceria com elas para alcançar coletivamente os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e atingir as metas da Agenda de 2030.
Cerca de 84% de toda a população mundial identifica-se com algum tipo de religião, um número que deverá aumentar para 87% até 2050 — segundo uma análise de 2015. Portanto, encontrar a relação entre fé e meio ambiente pode inspirar boa parte da população em tomar ações em prol à sustentabilidade.
Uma pesquisa realizada pelo portal The Conversation comprovou que a fé tem o potencial de inspirar mudanças socioambientais. De acordo com a publicação, a religião pode ter “uma influência significativa e positiva no comportamento das pessoas no que diz respeito ao meio ambiente”.
A conclusão foi feita a partir da resposta de participantes ao Livro da Quaresma de 2020 do Arcebispo de Canterbury, Saying Yes to Life, de autoria de Ruth Valerio. O livro apresenta a perspectiva teológica em “como cuidar do meio ambiente” e do planeta, focando em temas como escassez de água, poluição atmosférica, degradação dos solos, perda de biodiversidade e utilização de energia.
Os pesquisadores entrevistaram 133 pessoas de diversas faixas etárias e origens religiosas antes e depois de lerem o texto e conduziram grupos focais. A intervenção, segundo os especialistas, ofereceu mudanças positivas na perspectiva e comportamento dos participantes ao meio ambiente.
“Após o envolvimento com o texto, as pessoas tiveram atitudes mais positivas em relação ao meio ambiente. A maioria relatou, pelo menos, um aumento de curto prazo nos comportamentos pró-ambientais, particularmente em torno do uso de energia, escolhas alimentares e reciclagem.
“Enquadrar as questões ambientais em termos teológicos também influenciou as atitudes ambientais dos participantes. Eles relataram perceber a natureza como sagrada, sentirem-se mais conectados ao mundo natural e adotarem a crença de que os humanos deveriam cuidar da criação”, disse Christopher Ives, professor associado de Ciências da Sustentabilidade da Universidade de Nottingham e autor da pesquisa.
Além de ter a capacidade de inspirar as pessoas a cuidarem do meio ambiente, existe uma outra associação entre fé e meio ambiente — os locais sagrados.
Muitos ambientes considerados sagrados para uma específica religião ajudam na preservação da biodiversidade. Segundo Piero Zannini, da Universidade de Bolonha, os lugares naturais sagrados são “a forma mais antiga de proteção de habitat na história da humanidade”.
Não se sabe ao certo quantos desses locais existem e qual a porcentagem ainda restam de locais religiosamente protegidos. Porém, em muitos lugares, são os únicos refúgios para espécies ameaçadas e ecossistemas raros.
Um exemplo disso ocorre na Etiópia, onde as florestas de igrejas e monastérios são quase as únicas árvores que restam na província de Amhara, impedindo o avanço dos desertos.
Apesar de diversos desses locais existirem em resiliência à ação humana, muitos sofrem em consequência dos avanços econômicos de áreas circundantes. Até recentemente, estimava-se que existissem mais de 100 mil locais naturais sagrados em toda a Índia. Entretanto, o desenvolvimento econômico do país pode contribuir para o desaparecimento dessas áreas.
“As crenças espirituais não [são] mais suficientes para garantir a sua sobrevivência”, disse o ecologista indiano Madhav Gadgil, ao YaleEnvironment360.
Embora o grande potencial da religião na inspiração de ações ambientais, a distanciação da natureza com a fé ocorreu há milhares de anos atrás. Segundo Gadgil, as ações de missionários cristãos e as cruzadas contra crenças “pagãs” danificou os lugares naturais que essas crenças protegiam.
Religiões vistas como “pagãs”, ou que iam contra os ideais adotados pela igreja católica, foram sujeitas a diversos atos de violência, incluindo a perda de locais sagrados. Essas religiões, movidas pela natureza e seus espíritos, foram dominadas pelo catolicismo e forçadas à extinção, o que contribuiu para a distância da fé entre o meio ambiente.
Felizmente, muitas religiões que visam a natureza como sagrada foram preservadas e continuam atuantes em partes do mundo. Conheça algumas delas:
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