Fenologia foliar: uma nova estratégia para proteger o cacau africano das mudanças climáticas

Compartilhar

Os sistemas agroflorestais despontam como aliados estratégicos para fortalecer a produção de cacau na África Ocidental, região responsável por 70% do cacau mundial. Em um cenário de secas severas provocadas pela crise climática, as árvores de sombra desempenham um papel fundamental, influenciando diretamente a produtividade e a resiliência ambiental das plantações.

Uma pesquisa conduzida por cientistas de universidades da Alemanha e Gana investigou a fenologia foliar — os ciclos sazonais das folhas das árvores — como um elemento-chave na adaptação das plantações às mudanças climáticas. Durante dois anos, no cinturão de cacau do norte de Gana, os pesquisadores monitoraram diferentes espécies de árvores de sombra, analisando suas características, como altura do dossel e interceptação de luz, em estações chuvosas e secas.

Os resultados revelaram que a escolha criteriosa das árvores de sombra pode equilibrar os impactos climáticos extremos e garantir um microclima mais estável para os cacaueiros. Árvores que perdem todas as folhas durante a estação seca, por exemplo, se destacaram por preservar a umidade do solo em períodos críticos, protegendo a produtividade. Por outro lado, árvores perenes, embora úteis em climas mais moderados, aumentaram o risco de doenças fúngicas em regiões mais úmidas.

Com base nas observações, as espécies foram agrupadas em sete categorias funcionais, cada uma com efeitos distintos sobre a produtividade do cacau e a estabilidade ambiental. Essa abordagem orienta a seleção de árvores que, além de mitigar o impacto das secas, evitam competição excessiva por água e luz.

O estudo publicado no periódico Agriculture, Ecosystems & Environment apresenta diretrizes práticas para agricultores e especialistas, enfatizando o potencial da fenologia foliar como ferramenta de manejo sustentável. O desenvolvimento de agroflorestas resilientes, que aliam preservação ambiental e manutenção dos rendimentos, surge como uma solução promissora para enfrentar os desafios climáticos.

Com o avanço dessas práticas, a África Ocidental reforça sua posição como epicentro da produção global de cacau, ao mesmo tempo em que pavimenta um caminho para uma agricultura mais sustentável e adaptada às transformações ambientais.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais