Fertilizantes revestidos de plástico: inovação que esconde riscos ao solo e à saúde

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A busca por métodos mais eficientes na agricultura levou ao desenvolvimento de fertilizantes de liberação controlada revestidos com polímeros (PC-CRFs), uma tecnologia que promete entregar nutrientes de forma gradual às plantas, reduzindo o desperdício e aumentando a produtividade. No entanto, um estudo recente da Universidade do Missouri, liderado pela pesquisadora Maryam Salehi, revela que esses avanços podem ter um custo ambiental alto: a liberação de microplásticos no solo, com impactos ainda pouco compreendidos para ecossistemas e saúde humana.

Os fertilizantes revestidos com polímeros funcionam como microcápsulas que liberam nutrientes lentamente, garantindo que as plantas recebam o necessário ao longo do tempo. O problema está no revestimento plástico que sobra após o processo. Esses resíduos, que não se biodegradam, transformam-se em microplásticos, contaminando o solo e, potencialmente, chegando a fontes de água próximas. A pesquisa de Salehi destaca que, embora a tecnologia aumente a eficiência das colheitas, sua contribuição para a poluição por microplásticos é uma preocupação crescente.

Estudos anteriores já haviam detectado a presença de microplásticos em terras agrícolas, mas a equipe da Universidade do Missouri busca entender a quantidade e os tipos de plásticos liberados por esses fertilizantes. Enquanto respostas definitivas não são encontradas, os pesquisadores sugerem alternativas mais sustentáveis, como o uso de revestimentos biodegradáveis. Além disso, recomendam que os agricultores adotem sistemas eficazes de gerenciamento de águas pluviais para evitar que os microplásticos se espalhem para rios, lagos e outros corpos d’água.

A complexidade do problema é ampliada pela variedade de condições do solo, níveis de umidade e organismos presentes, que podem influenciar a decomposição das microcápsulas de formas diferentes. Além disso, diferentes tipos de plásticos são utilizados nos revestimentos, o que exige mais investigações para compreender os impactos específicos de cada material.

O estudo, intitulado “Mecanismos de geração de microplásticos a partir de fertilizantes de liberação controlada revestidos com polímeros (PC-CRFs)”, foi publicado no Journal of Hazardous Materials. A pesquisa contou com a colaboração de Anandu Nair Gopakumar, Arghavan Beheshtimaal, Alexander Ccanccapa-Cartagena, Linkon Bhattacharjee e Farhad Jazaei, reforçando a necessidade de mais estudos para avaliar os efeitos a longo prazo desses fertilizantes no meio ambiente.

A inovação agrícola, embora essencial para atender à demanda global por alimentos, não pode ignorar os riscos ambientais. A poluição por microplásticos já é um desafio global, e a adoção de tecnologias que ampliam esse problema exige cautela. Enquanto a ciência busca soluções, a transição para práticas mais sustentáveis parece ser o caminho mais seguro para proteger o solo, a água e a saúde de todos.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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