Cientistas alertam que humanidade tem apenas 11 anos para alterar modelo econômico baseado em combustíveis fósseis, antes que seja tarde demais
Fumaça e vapor sobem das torres da usina térmica a carvão de Urumqi, na região oeste da China, em 21 de abril de 2021. A poluição global de carbono este ano voltou aos níveis de 2019, após uma queda durante os confinamentos da pandemia de Covid-19. Um novo estudo realizado por cientistas do clima no Global Carbon Project descobriu que o mundo está prestes a emitir 36,4 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono na atmosfera.
Um grupo de cientistas que rastreia os gases responsáveis pelas mudanças climáticas constatou que os primeiros nove meses deste ano foram marcados por emissões mundiais um pouco abaixo dos níveis de 2019. Eles estimam que em 2021 o mundo terá emitido 36,4 bilhões de toneladas de dióxido de carbono métricas, em comparação com 36,7 bilhões de toneladas métricas de dois anos atrás.
No auge da pandemia no ano passado, as emissões caíram para 34,8 bilhões de toneladas métricas, então o salto deste ano é de 4,9%, de acordo com cálculos atualizados do Global Carbon Project.
Embora a maioria dos países tenha voltado aos níveis de emissão de gases-estufa pré-pandemia, o aumento da poluição na China foi o principal responsável pelo aumento do nível mundial semelhante às emissões de 2019, disse a coautora do estudo Corinne LeQuere, cientista do clima da Universidade de East Anglia, no Reino Unido.
Com a atmosfera mais limpa em 2020 em países como Índia e Itália, algumas pessoas podem ter esperado que o mundo estivesse no caminho certo para reduzir a poluição por carbono, mas os cientistas dizem que não é esse o caso.
De acordo com LeQuere, não podemos esperar por uma próxima pandemia para adequar os níveis de emissão de carbono a padrões aceitáveis e mudar a natureza da nossa economia, é preciso pressionar por decisões políticas assertivas na COP26, antes que seja tarde demais.
Gráfico que mostra a evolução das emissões globais de CO2, segundo dados do Global Carbon Project 2021.
A cientista alerta que temos apenas 11 anos para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius, como era nos tempos pré-industriais.
“O que os números mostram é que as emissões (considerando a queda durante a pandemia de Covid19) se mantiveram estáveis até agora. Essa é a boa notícia”, disse o cientista climático da Universidade Estadual da Pensilvânia, Michael Mann, que não fez parte do relatório. “A má notícia é que isso não é suficiente. Precisamos começar a reduzir (as emissões).”
As emissões na China foram 7% maiores em 2021 em comparação com 2019, revelou o estudo. Em comparação, as emissões da Índia foram apenas 3% maiores. Em contraste, os Estados Unidos, União Europeia e o resto do mundo poluíram menos este ano do que em 2019.
LeQuere disse que o salto das emissões da China se deve à queima de carvão e gás natural, e é parte de um enorme estímulo econômico para se recuperar do lockdown. Além disso, a China encerrou os bloqueios da pandemia muito mais cedo do que o resto do mundo, então o país teve mais tempo para se recuperar economicamente e emitir mais carbono para a atmosfera.
A “recuperação verde” sobre a qual muitos países falaram em seus pacotes de estímulo leva mais tempo para aparecer nas reduções de emissões porque as economias em recuperação usam primeiro a matriz energética que já possuem, disse LeQuere.
Os números são baseados em dados de governos sobre uso de energia, viagens, produção industrial e outros fatores. As emissões de dióxido de carbono neste ano foram de 115 toneladas por segundo.
O diretor climático do Breakthrough Institute, Zeke Hausfather, que não fez parte do estudo, prevê que “há uma boa chance de que 2022 estabeleça um novo recorde de emissões globais de CO2 oriundo de combustíveis fósseis”.