A flor de cacto apresenta uma série de benefícios, além de embelezar essa espécie, geralmente cheia de espinhos e hostil, à primeira vista. Apesar de habitar ambientes áridos e semiáridos, com temperaturas intensas, o cacto é uma planta adaptada, o que torna possível o seu desenvolvimento em regiões tão secas. Por consequência, a flor do cacto também.
Além disso, os cactos apresentam mais de 1500 espécies (família Cactaceae) espalhadas pelo mundo. Muitas delas desenvolvem flores e frutos, que são essenciais para a biodiversidade regional.
No Brasil, de acordo com a Embrapa, existem cerca de 300 espécies de cactos. Dentre elas, 160 espécies são nativas. Uma dessas espécies é o cacto mandacaru (Cereus jamacaru), famoso símbolo da Caatinga.
A flor de cacto mandacaru é também chamada de “flor da noite”, pois desabrocha ao anoitecer e murcha no início da manhã. Bem grande e branca, a flor também é tema de uma crença popular, que diz que o seu desabrochar é um sinal de que virá chuva para o sertão.
As flores de cactos são fundamentais para diversas espécies de insetos e aves, como morcegos, beija-flores, mariposas, abelhas e besouros, por quem são polinizadas e também servem como alimento. Além disso, algumas espécies de flores também são comumente utilizadas como alimento humano e trazem muitos benefícios para a saúde.
Uma equipe de pesquisadores do México analisou o poder nutricional das atividades funcionais e antioxidantes de flores de cacto. De acordo com o estudo, cerca de 700 espécies da família Cactaceae estão no México.
No país, algumas espécies são cultivadas para o uso humano de suas flores. Alguns exemplos incluem espécies suculentas, como a agave (da família Asparagaceae), que produz a “flor del maguey”, famosa na culinária mexicana.
Espécies de cactos, como o garambullo (Myrtillocactus geometrizans) também são cultivados tanto pelas propriedades terapêuticas quanto pelo uso culinário de suas flores e frutos.
As flores dessas duas espécies são conhecidas por possuírem altos teores de compostos bioativos. Entre eles, se destacam os compostos fenólicos, ácido ascórbico (vitamina C) e carotenoides, todos com princípios antioxidantes.
A pesquisa analisou as flores de outras quatro espécies de cactáceas. Foram escolhidas as espécies Cylindropuntia rosea, Opuntia oligacantha, Opuntia matudae e Echinocereus cinerascens. As quatro espécies são nativas do México e habitam também parte de desertos norte-americanos.
Seus nomes populares, por serem regionais, não têm tradução no Brasil. A espécie Cylindropuntia rosea, por exemplo, nos Estados Unidos se chama “Hudson pear”, ou pêra Hudson, em tradução livre.
Além disso, o cacto Echinocereus cinerascens é chamado de Pitaya, pela pesquisa mexicana. No entanto, a pitaya conhecida no Brasil, também chamada de “fruta-do-dragão”, é do gênero Selenicereus.
As flores foram colhidas na cidade de Tetepango, em Hidalgo, no México. As amostras de flores foram preparadas após a coleta e passaram por três etapas. Essas flores foram congeladas numa temperatura de 76ºC negativos, depois passaram por liofilização (secagem e desidratação por meio de sublimação) e, finalmente, foram moídas e armazenadas numa temperatura de 5ºC.
Por meio de experimentos bioquímicos, os pesquisadores puderam definir a composição nutricional das quatro espécies de flores, que incluem proteínas, gordura, carboidratos, fibra bruta e resíduos minerais.
As flores apresentaram uma média de pouco mais de 11g de proteínas para 100g de amostra. Em relação aos carboidratos, a média foi de cerca de 60g, enquanto as gorduras apresentadas atingiram quase 2.5g por porção. O restante ficou distribuído entre fibra bruta, com média de 10.45g e resíduos minerais, com cerca de 15.6g por porção.
O valor energético, para cada porção de 100g, não apresentou grande variação entre as espécies. A média ficou próximo a 1374 kJ/100g, um valor positivamente alto, de acordo com os pesquisadores.
Com base nos resultados, as flores são uma fonte nutricional complementar. Além de apresentarem baixo teor de gordura, são compostas de proteínas, fibras, carboidratos e minerais. O estudo concluiu que as flores de cactos podem ser consideradas como importantes fontes de proteína combinada na dieta, funcionando como outros tipos de vegetais.
Em relação à ação antioxidante, as flores de cactos analisadas foram consideradas fontes ricas em compostos bioativos, como antocianinas, vitaminas, carotenoides, polifenóis e flavonóides. Flavonóides e seus derivados foram os compostos mais encontrados nas amostras.
A quercetina, um flavonóide natural, foi o principal metabólito secundário (composto natural com propriedades importantes para a saúde) encontrado nas amostras. Seus derivados têm efeitos medicinais, com ações antioxidantes, combatendo radicais livres. Esses compostos atuam na prevenção de doenças crônicas e alguns tipos de câncer.
A isorhamnetina, também da classe dos flavonóides, foi detectada nas amostras estudadas. De acordo com os pesquisadores, o componente, que tem potencial anti-inflamatório, causa efeitos preventivos contra doenças neurodegenerativas e tem propriedades terapêuticas contra doenças cardiovasculares.
Derivados de ácido protocatecuico (PCA) e apigenina também estavam presentes nas amostras estudadas. Os dois compostos trazem benefícios à saúde. O PCA e seus derivados são conhecidos por suas propriedades antioxidantes e atuam contra inflamações, infecções, diabetes e câncer.
A apigenina é um composto comprovadamente capaz de prevenir a proliferação de células cancerosas. Além disso, também tem efeitos antioxidantes e auxilia no combate a inflamações e infecções virais e microbianas. Também atua em atividades cardioprotetoras e antimutagênicas. Esse composto também apresenta propriedades antidepressivas.
Um outro estudo, publicado na Science Direct, analisou as propriedades da flor de cacto candelabro (Euphorbia candelabrum). Apesar do nome, o cacto candelabro, na verdade, é uma suculenta, da família Euphorbiaceae.
Presente em diferentes regiões do mundo, incluindo o Brasil, o Euphorbia candelabrum é uma planta de origem africana, distribuída por todo o continente. Além disso, também é encontrada abundantemente em países da Ásia.
Os pesquisadores utilizaram um extrato, feito a partir da flor de cacto candelabro, para sintetizar nanopartículas de óxido de zinco (ZnO NPs, da sigla em inglês).
O óxido de zinco (ZnO) não é classificado como um metal pesado, é biocompatível e tem propriedades antibacterianas. De acordo com pesquisadores brasileiros, as nanopartículas (materiais nanoestruturados) sintetizados com base em sais metálicos, como o ZnO, abrem novas possibilidades de inovação em diversas áreas, incluindo a área da saúde.
O ZnO, quando nanoparticulado, tem a capacidade de modificar as células de microorganismos. Isso faz com a membrana celular de bactérias, por exemplo, possam ser rompidas, causando sua morte.
No estudo com E. candelabrum, os pesquisadores sintetizaram nanopartículas de ZnO com o extrato das flores, no que chamaram de “fito” sintetização.
Os resultados do experimento mostraram que as nanopartículas foram capazes de inibir o aumento de bactérias do tipo estafilococos (Staphylococcus sp.) em 71.4%. Essas bactérias, que podem ser multirresistentes, são responsáveis por causar diferentes tipos de infecções, tanto em humanos quanto em animais.
O experimento também mostrou que a quantidade de células MCF-7, relacionadas ao câncer de mama, diminuíram com o aumento da aplicação das nanopartículas. De acordo com os cientistas, o ZnO NPs tem capacidade de induzir um processo celular chamado apoptose.
A apoptose é um processo de “morte celular programada”, essencial para a manutenção dos organismos, que elimina células supérfluas, infectadas ou danificadas. A própria célula ativa mecanismos para sua eliminação.
Com isso, além de verificar sua eficiência antibacteriana, o estudo pode comprovar que as ZnO NPs, sintetizada com compostos naturais, apresentam efeito tóxico contra células de câncer de mama.
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