Imagem de Rosina Kaiser, está disponível no Pixabay
Um novo estudo publicado na revista científica Nature Climate Change e disponível no Global Forest Watch concluiu que as florestas do mundo sequestraram cerca de duas vezes mais dióxido de carbono do que emitiram entre 2001 e 2019. Em outras palavras, as florestas fornecem um “sumidouro de carbono” com uma absorção líquida de 7,6 bilhões de toneladas de CO2 por ano, 1,5 vez mais carbono do que os Estados Unidos, segundo maior emissor do mundo, emitem anualmente.
Diferentemente de outros setores, onde o carbono faz uma viagem apenas de ida par a atmosfera, as florestas funcionam como uma via de mão dupla, absorvendo carbono enquanto crescem ou se mantêm, e soltando quando degradadas ou desmatadas.
Antes deste estudo, cientistas estimavam esses “fluxos de carbono” a partir de dados reportados pelos países, criando uma imagem distorcida do papel das florestas. Com os novos dados, que combinam medições em campo com observações de satélites, nós podemos agora quantificar os fluxos de carbono com consistência em uma área, desde pequenas florestas locais até continentes inteiros.
Usando essa informação granular, descobrimos que as florestas do mundo emitem em média 8,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera todos os anos por conta de desmatamento e degradação, e absorvem 16 bilhões de toneladas de CO2 por ano.
Confira abaixo outros resultados interessantes que esses novos mapas de florestas e carbono mostram:
Florestas tropicais são de longe os ecossistemas mais importantes para mitigar as mudanças do clima. Coletivamente, elas sequestram mais carbono da atmosfera do que as florestas temperadas ou boreais, mas elas estão enfrentando crescente desmatamento por conta da expansão agrícola no mundo. As três maiores florestas tropicais estão localizadas na Amazônia, Bacia do Rio Congo e Sudeste Asiático.
Nos últimos 20 anos, florestas do Sudeste Asiático se transformaram numa fonte líquida de carbono por conta do desmatamento para plantações, incêndios descontrolados e drenagem dos solos turfosos.
A bacia do Rio Amazonas, que compreende nove países na América do Sul, segue sendo um sumidouro líquido de carbono, mas está próxima de se tornar uma fonte de emissões líquidas se o desmatamento continuar nas mesmas taxas. A bacia do Rio Amazonas vem enfrentando aumento do desmatamento nos últimos quatro anos por conta da abertura de áreas para pastagens e da degradação por fogo.
Das três grandes florestas tropicais, apenas no Congo há floresta em pé o suficiente para continuar como um grande sumidouro de carbono. A floresta tropical do Congo sequestra 600 milhões de toneladas de CO2 a mais por ano do que emite, o equivalente a um terço das emissões de transporte dos Estados Unidos inteiro.
Proteger os remanescentes florestais nas três regiões é crítico para mitigar as mudanças climáticas.
O estado precário do papel da bacia do Rio Amazonas como sumidouro de carbono demonstra a necessidade de proteger as florestas que restam na região e no mundo. Áreas protegidas e terras indígenas são algumas das mais valiosas ferramentas para ação climática, combinadas com políticas de comando e controle do desmatamento.
O novo mapa revela que 27% da cobertura florestal do planeta que atua como sumidouro líquido de carbono está em áreas protegidas. Observações de áreas individuais mostram o quão efetivo essas áreas podem ser para manter o CO2 nas florestas.
Por exemplo, no Brasil há um contraste evidente entre as emissões da Terra Indígena Menkragnotí e as áreas desprotegidas ao redor. As árvores na área protegida continuam a absorver aproximadamente 10 milhões de toneladas de CO2 a mais do que emitem por ano – o equivalente a emissões de 2 milhões de carros. A área ao redor da terra indígena, no entanto, se tornou uma fonte de emissões por meio da abertura de áreas para mineração, pecuária e plantio de soja.
Reconhecer Terras Indígenas e áreas protegidas, e garantir a aplicação da lei nessas terras, é uma estratégia reconhecida na proteção da floresta em pé e do carbono estocado nessas florestas.
Em nenhum setor a natureza de duas dimensões do fluxo de carbono da floresta é tão aparente quanto nas florestas manejadas, que são cortadas e replantadas para produzir madeira e se concentram principalmente nos Estados Unidos, Canadá, China, Europa e Rússia. Nessas áreas de manejo florestal, algumas porções de árvores são colhidas em intervalos planejados, resultando em emissões de carbono, enquanto outras são deixadas para crescer, absorvendo carbono.
No fim, o que define se essas florestas serão fonte ou sumidouro de carbono é como elas são manejadas – quanto tempo entre cada ciclo de colheita, quanto da floresta é cortada, a idade das árvores e a área total a ser calculada.
Olhando de perto no mapa as áreas individuais recentemente colhidas, podemos ver o aumento das emissões pela redução abrupta de árvores. Mas ao avaliar a paisagem em que essas colheitas estão inseridas, é possível ver que a silvicultura também absorve carbono de áreas previamente colhidas. Quando se analisa o todo, uma floresta bem manejada se mostra um sumidouro de carbono.
Retirar madeira de florestas primárias, no entanto, ainda representa uma preocupação, tanto para o clima quanto para a biodiversidade. Diferentemente de florestas secundárias ou plantadas, como eucalipto e pinus, colher de florestas antigas solta na atmosfera o CO2 que levou séculos para se acumular. Uma vez perdido, esse carbono é irrecuperável em nosso tempo de vida.
Em geral, o estudo mostra que preservar as florestas existentes em pé é nossa melhor esperança para manter vastas quantidades de carbono no solo e continuar a absorver carbono. Se essa absorção parar, os efeitos das mudanças climáticas poderão ser ainda piores.
Além de mostrar que plantar nossas árvores (do jeito certo ou deixá-las crescer naturalmente tem um papel vital na mitigação das mudanças climáticas (ajudando comunidades a se adaptarem), o estudo indica que as florestas que surgiram nos últimos 19 anos representam menos de 5% dos atuais sumidouros florestais de carbono existentes.
Apesar de ser importante permitir que essas florestas jovens cresçam e se consolidem, proteger florestas primárias e florestas secundárias maduras hoje é o mais importante para combater as mudanças do clima.
Com esses novos mapas, podemos identificar com detalhes sem precedentes as florestas que estão capturando ou emitindo mais carbono. Esses mapas podem também ser aprimorados quando dados melhores surgirem. Isso nos coloca um passo a frente para monitorar o progresso na redução das emissões do desmatamento e identificar quais florestas estão sendo manejadas com sucesso – e quais precisam de mais proteção.
Este blog foi publicado originalmente no Insights. Fonte: Wri Brasil
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