Flygskam: por que ter vergonha de voar?

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O termo sueco flygskam indica a vergonha de viajar de avião por conta de seus impactos ambientais, principalmente em meio à crise climática. Criada em 2017, a tradução da palavra é “vergonha de voo”. Entretanto, ela só ficou conhecida por volta de 2019, quando a ativista Greta Thunberg popularizou o conceito e se abriu para o público sobre o seu desejo de diminuir suas viagens aéreas para reduzir a própria pegada de carbono.

Na Suécia, o termo já conseguiu mudar os hábitos de viagem dos habitantes. Além de participar do flygskam, suecos agora tiram “férias de trem” e usam a hashtag #jagstannarpåmarken, ou “eu fico no chão”. Após a popularização do termo, foi possível observar um aumento em 17% no número de pessoas que preferem andar de trem em vez de aviões. Por outro lado, o número de passageiros domésticos da operadora Swedavia caiu em 15% em abril de 2019, quando comparado com o mesmo período do ano anterior. 

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O impacto dos aviões 

As emissões de carbono resultantes da aviação representam cerca de 2% das emissões globais anuais provocadas pelo homem. Apesar de parecer um número pequeno, as emissões dos aviões têm a capacidade de agravar o aquecimento global rapidamente. Isso acontece porque, em altas temperaturas, os gases, como o carbono e o óxido de nitrogênio, e outras substâncias liberadas pelas aeronaves na atmosfera aceleram o processo do aquecimento global. Por isso, é estimado que até 2050, a aviação seja responsável por até 22% de todas as emissões de carbono do mundo.

Entretanto, esses meios de transporte contribuem muito mais para o aquecimento global.

A prática também consome cerca de 5 milhões de barris de petróleo por dia, o que indica outro problema da aviação. A extração de petróleo, além de contribuir diretamente para a degradação do meio ambiente, também está se tornando uma prática inviável. De acordo com um relatório do American Petroleum Institute (APA), as reservas de petróleo da Terra secariam entre 2062 e 2094. Porém, um estudo divulgado pela Stanford University’s Millennium Alliance for Humanity and the Biosphere (MAHB) acredita que essa falta de óleo ocorrerá mais cedo. 

Alcance do movimento

Embora os números de viagens aéreas tenham diminuído na Europa, outros países têm ainda de rever seus hábitos. Porém, é importante notar que o continente conta com linhas ferroviárias extensas, que transitam entre países.

Em frente às mudanças na Suécia derivadas do flygskam, o governo sueco criou um plano para reintroduzir serviços de trem noturno para outros países europeus. Assim como na Suécia, a Alemanha também passou por uma transição similar, onde os habitantes preferem viajar de trens. 

Figuras públicas 

A participação de figuras públicas no flygskam é importante. Mesmo sendo divulgado em 2017 pelo medalhista olímpico sueco Bjorn Ferry, o movimento só ficou conhecido nos anos seguintes. Greta Thunberg, por exemplo, foi uma das primeiras figuras públicas a abraçar o termo. Em 2019, a ativista preferiu viajar de barco até os Estados Unidos para cortar suas emissões. 

Após a participação de Greta, outras pessoas também compartilharam dessa preocupação. A cantora de ópera e mãe de Greta, Malena Ernman, também desistiu de voar. 

Porém, algumas figuras públicas passam longe do flygskam. Celebridades, conhecidas pelo uso de jatinhos particulares, podem contribuir muito mais para as emissões de carbono do que você pensa. 

Taylor Swift, Jay-Z e Blake Shelton estão entre as celebridades mais poluentes do mundo

Um relatório publicado em 2022 do site Yard divulgou uma lista de celebridades com as piores emissões de CO2 derivadas de seus jatos particulares. Contendo nomes como Taylor Swift, Jay-Z e Blake Shelton, a lista criou uma enorme discussão nas redes sociais, onde o público se dividiu entre incriminar e defender os artistas. 

De acordo com o relatório, algumas das celebridades da lista são responsáveis pela emissão de milhares de toneladas de carbono na atmosfera. Isso prova, que embora o movimento do flygskam tenha ramificações fora da Europa, ele ainda não alcançou todo o seu potencial. 

Taxas de descarbonização

Em meio às buscas por uma solução sobre os impactos da aviação,  um estudo do ICCT (Conselho Internacional sobre Transporte Limpo) propõe a implantação de uma taxa sobre viajantes frequentes. De acordo com o estudo, essa taxa poderia gerar receitas necessárias para descarbonizar a aviação até meados do século, enquanto concentra a carga de custos naqueles que mais voam.

O relatório explora dois métodos para gerar esta receita: uma taxa fixa, por voo (APD) de US$ 25; e uma taxa de voo frequente (FFL) que aumenta a cada voo realizado em um ano (de US$ 9 a US$ 177). A FFL é projetada para colocar uma carga tributária crescente sobre as pessoas que voam com frequência.

O estudo concluiu que, em comparação com a APD sozinha, a taxa FFL deslocaria a carga tributária de viajantes ocasionais para os viajantes frequentes e mais ricos. Especificamente, o estudo estima que uma FFL global geraria 81% da receita necessária para a descarbonização até 2050, afetando apenas os 2% da população mundial que faz mais voos.

Estudo sugere taxar viajantes frequentes para descarbonizar aviação

Segundo o documento, sob uma taxa para viajantes frequentes, 67% da receita arrecadada viria de países desenvolvidos, em comparação com 51% sob uma taxa fixa. Ao empurrar o custo para países de alta renda, a medida apoiaria o objetivo da ICAO de fornecer apoio financeiro para alcançar uma aviação zero líquida no sul global. A FFL também seria coerente com as emissões históricas de cada país, já que os países ricos emitiram cerca de 70% das emissões de CO2 da aviação entre 1980 e 2019.

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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