O fogão a gás é a escolha mais popular na cozinha dos brasileiros. E não é à toa: esse tipo de fogão consome muito menos energia do que os fogões elétricos tradicionais, é acessível e funciona com gás natural encanado ou botijão de gás (GLP – Gás Liquefeito de Petróleo), fontes de baixo impacto ambiental.
O gás natural, por exemplo, não sofre nenhum processo de transformação e é retirado de camadas profundas do subsolo. Já o GLP, embora seja derivado do petróleo – e, portanto, um combustível fóssil –, apresenta menor índice de emissão de gases do efeito estufa responsáveis pelas mudanças climáticas.
Além disso, os modelos de fogão a gás disponíveis no mercado têm baixo custo em comparação com modelos elétricos tradicionais ou por indução.
Para fechar com chave de ouro, você pode utilizar qualquer tipo de panela no fogão a gás, diferentemente dos fogões elétricos comuns, que exigem panelas de fundo chato. Por sua vez, os fogões por indução, embora sejam mais seguros e práticos, consomem bastante energia e só funcionam com panelas adaptadas, de aço, alguns tipos de inox ou ferro fundido.
Com tantos benefícios, o fogão a gás parece ser a escolha mais acertada para garantir uma cozinha econômica e sustentável. Mas você deve ficar de olho nos riscos.
Usar fogão a gás pode deixar as pessoas doentes, pois aumenta a poluição presente no ar do interior das residências. Essa é uma das principais conclusões de um relatório divulgado pelo Rocky Mountain Institute, dos Estados Unidos, que afirma que o ar interno de casas que usam esse tipo de fogão pode ficar de duas a cinco vezes mais poluído do que o ar externo.
Junto com grupos de defesa do meio ambiente, o Rocky Mountain Institute realizou uma ampla revisão de estudos sobre o tema e concluiu que fogões que queimam combustíveis fósseis (como é o caso do gás encanado usado no Brasil e do GLP) provavelmente estão expondo dezenas de milhões de norte-americanos a níveis de poluição do ar interno que seriam considerados ilegais se estivessem do lado de fora.
Cerca de um terço das famílias americanas cozinham principalmente com gás, que emite dióxido de nitrogênio e monóxido de carbono, além da poluição por partículas que todos os tipos de fogões produzem. Fogões mais antigos e com pouca manutenção poluem ainda mais, incluindo os riscos do monóxido de carbono.
Mesmo pequenos aumentos na exposição a curto prazo ao dióxido de nitrogênio podem aumentar os riscos de asma em crianças. Uma análise constatou que crianças em lares com fogões a gás têm uma chance 42% maior de apresentar sintomas de asma. Outro, na Austrália, atribuiu 12,3% de toda a carga de asma infantil a fogões a gás.
O dióxido de nitrogênio também piora a doença pulmonar obstrutiva crônica e pode estar relacionado a problemas cardíacos, diabetes e câncer. O envenenamento por monóxido de carbono pode causar dor de cabeça, náusea, batimento cardíaco acelerado, parada cardíaca e morte.
Em 2020, Alex Huffman, professor da Universidade de Denver, fez um experimento em sua própria casa, equipando-a com monitores de dióxido de carbono, para verificar como diferentes espaços eram ventilados. Os resultados surpreenderam: ao cozinhar com fogão a gás, os níveis de CO2 dispararam – e não apenas na cozinha, mas na casa toda. Ao portal Fast Company, ele disse ter se assustado com os níveis de CO2 que se acumularam muito rapidamente no espaço interno e, durante horas, permaneceram altos – até que as janelas fossem abertas.
Altos níveis de CO2 ainda elevam a frequência cardíaca e causam dor de cabeça, fadiga, tontura e náusea.
As emissões de cozimento também contêm pequenas partículas conhecidas como PM2.5 (material particulado menor que 2,5 micrômetros). Essas partículas, que também prevalecem na fumaça de um incêndio florestal, podem penetrar em nossos pulmões e até mesmo entrar em nossa corrente sanguínea. Eles podem tornar a asma mais grave e piorar condições pulmonares crônicas, como DPOC e enfisema.
Também há evidências de que essas partículas podem aumentar ataques cardíacos, provocar derrames e levar a mortes prematuras.
Em Londres, as emissões de cozimento são responsáveis por 10% da poluição particulada. Em megacidades como a China, essa participação pode chegar a 22%. Um estudo recente da Universidade de Birmingham descobriu que essas emissões permanecem na atmosfera por vários dias, contribuindo para a má qualidade do ar e impactando a saúde humana.
Quanto mais tempo as pessoas passam em casa, mais elas cozinham e, consequentemente, mais são afetadas pela poluição do ar provocada pelos fogões a gás. Além disso, diferentes tipos de cozimento no fogão a gás produzem diferentes níveis de emissões. Sempre que fritar ou refogar com óleo em uma frigideira, você vai gerar uma grande porção de partículas poluentes. Já ferver e cozinhar arroz, por exemplo, produzem menos poluentes. Ao assar os alimentos, no entanto, você certamente libera um número enorme de gases e partículas.
A ciência ainda não sabe dizer qual é, de fato, a intensidade dos impactos e efeitos nocivos dos poluentes internos para a saúde humana. No entanto, especialistas recomendam precaução. Para minimizar o problema, é importante manter a casa bem ventilada, abrindo janelas, usando um exaustor ou um purificador de ar com filtro. Se possível, também é recomendado instalar um detector de monóxido de carbono.
No entanto, a melhor opção para evitar a poluição e contaminação é adquirir um modelo de fogão que não use GLP.
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