Formação de rochas de plástico no ambiente marinho é mais uma prova da ação do homem no planeta

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Por Jornal da USP | Um estudo da Universidade Federal do Paraná descobriu a formação de “rochas de plástico” na Ilha da Trindade, que compõe o arquipélago brasileiro mais distante da costa – o Trindade e Martim Vaz. Essa ilha está sob a administração da Marinha do Brasil e é uma importante reserva ambiental brasileira, já que é a maior região de ninhos da tartaruga-verde e de recifes de caracóis marinhos do País.

O professor Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da USP e coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade dos Oceanos do Instituto de Estudos Avançados da USP, explica como esse tipo de formação ocorreu: “É uma nova forma de presença do plástico no ambiente marinho. A plasticidade que a gente tem nesse material dá a sua grande diversidade, os seus mais variados usos, e também tem surpreendido a gente no oceano. É uma forma que o plástico se integra com o ambiente, no caso, com o costão rochoso. Uma rocha está exposta ali, especialmente na região entre marés, onde acaba tendo o acúmulo desses resíduos e eles passam a ser intemperizados, tanto pela ação das ondas como pelo sol, que tem a ver com o derretimento e a acomodação desses resíduos na superfície das rochas”. Além disso, o professor ainda comenta que as rochas servem como materiais abrasivos para os pedaços maiores de plástico, liberando, assim, pequenos fragmentos no oceano, os famosos microplásticos.

Plástico

Um dos principais protagonistas da poluição marinha é o plástico. A pesquisa realizada pelo Blue Keepers, projeto relacionado com a Plataforma de Ação pela Água e Oceano do Pacto Global da ONU no Brasil, apontou que cada brasileiro pode ser responsável por poluir os oceanos com 16 kg de plástico por ano. “A gente pega uma amostra de sedimento lá do fundo do mar, a 3, 4 mil metros de profundidade nas camadas mais recentes, e você já vê indícios da atividade humana, não só a presença do plástico, mas de outros elementos derivados da atividade humana. Isso mostra a nossa capacidade de interferir no planeta, mostra que a gente tem um desafio muito grande para reverter essa situação”, coloca Turra.

Alexander Turra – Foto: Divulgação IEA

Um dos componentes da camada de plástico encontrados nas rochas pertence às redes de pesca, sejam perdidas ou abandonadas. O professor explica que tecnologias estão sendo desenvolvidas para que essas redes possam ser rastreadas, no primeiro caso, e maneiras de direcioná-las para a reciclagem, no segundo caso. O plástico, no geral, é um material extremamente versátil e passível de ser reutilizado para os mais diversos fins, como diz Turra: “Esse material vai ficar no oceano por muito tempo, então, a gente tem que fazer o quê? A gente tem que impedir que esse material chegue e, assim, é difícil e não é, de certa forma, porque é um material muito nobre. Ele tem energia, ele pode ser reutilizado, a gente tem tecnologias hoje no mundo que permitem evitar essa perda”.

Ações

“A gente tem todos os mecanismos em mãos, mas falta um pouco de vontade política e falta um pouco de organização desse grande movimento, que é o que a gente está fazendo no Brasil hoje. Com o diálogo retomado com o Ministério do Meio Ambiente e várias iniciativas conduzidas pela própria Cátedra Unesco para a Sustentabilidade dos Oceanos vamos criar uma cadência que vai fazer com que a gente junte os esforços para reverter a situação”, pontua o professor.

Uma iniciativa é a criação de um tratado mundial pela Organização das Nações Unidas para combater a poluição ambiental por conta do plástico, que vai ser finalizado em 2024 e assinado em 2025. “É importante entender que não é um tratado contra o plástico, é um tratado a favor de um uso racional do plástico e de forma que ele não esteja no ambiente. Isso é muito importante de dizer, porque a gente não pode também ‘vilanizar’ esse produto tão importante para a sociedade. Ele é tão importante que precisa ser usado com sabedoria”, pontua o professor.


Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Carolina Hisatomi

Graduanda em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo e protetora de abelhas nas horas vagas.

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