A necessidade de um material que cumpra a função de reter a urina e as fezes dos bebês existia desde a Antiguidade – folhas de plantas e peles de animais eram usadas em diferentes culturas. Em algumas regiões de clima mais quente, ao longo dos séculos posteriores, era comum deixar os filhos passearem nus enquanto as mães ficavam assistindo de perto, na tentativa de antecipar os movimentos do intestino, para evitar a sujeira. No século XIX, após a Revolução Industrial, a fralda de pano nasceu e se popularizou no ocidente, confeccionada com material de algodão.
As fraldas descartáveis surgiram apenas em meados da década de 40 do século XX, quando, ao final da Segunda Guerra Mundial, o algodão se tornara um produto escasso, levando uma empresa sueca de papel a criar fraldas usando folhas de papel tissue colocadas dentro de uma película plástica. Na mesma década, uma moradora dos Estados Unidos utilizou restos de cortina de banheiro para criar uma capa protetora impermeável que, colocada dentro da fralda convencional de pano, impedia o vazamento do xixi da fralda do seu filho.
Nos anos 50, grandes empresas começaram a entrar no ramo das fraldas descartáveis e foram aperfeiçoando-as, porém as fraldas produzidas eram muito caras e sua distribuição estava limitada a poucos países. Nas décadas sequentes as fraldas descartáveis foram aprimoradas e se tornaram um pouco mais acessíveis. O papel tissue foi substituído por fibra de celulose e a descoberta do polímero superabsorvente (PSA), nos anos 80, deixou as fraldas mais finas e diminuiu problemas relacionados a vazamentos e assaduras.
Nas últimas décadas, a praticidade da fralda descartável (infantil e geriátrica) fez com que ela se tornasse essencial na vida da maioria das famílias. O produto, entretanto, passou a gerar discussões sobre seus perigos e impactos ambientais da fabricação ao descarte, e começou-se a falar sobre o renascimento das fraldas de pano e nas mais nova opções, que são as fraldas híbridas e as fraldas descartáveis biodegradáveis.
Um estudo publicado pela Agência Nacional de Segurança Sanitária da Alimentação, do Meio Ambiente e do Trabalho (Anses) da França analisou fraldas descartáveis e encontrou 60 substâncias tóxicas, incluindo glifosato, o agrotóxico mais usado no mundo.
Entre as substâncias encontradas, há também disruptores endócrinos e cancerígenos. Além do glifosato, que é usado durante a plantação da matéria-prima das fraldas, há outras substâncias adicionadas intencionalmente, para dar aroma.
Outras substâncias perigosas oriundas da matéria-prima das fraldas encontradas nas amostras foram os PCB-DL (um derivado do cloro), furanos (altamente inflamáveis e tóxicos), dioxinas (potencialmente cancerígenas) e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP). Esses componentes nocivos são resultado da combustão a altas temperaturas, normalmente oriundos da queima de diesel durante a plantação da matéria-prima das fraldas.
No total, 23 marcas do mercado francês foram analisadas e o relatório aponta que, na presença de urina, os químicos entram em contato direto e prolongado com a pele dos bebês. Diante desse quadro, a Anses recomendou fortemente que os fabricantes reduzissem ou eliminassem ao máximo a presença dessas substâncias nas fraldas descartáveis. O problema é que ainda não se tem estudos significativos quanto aos perigos das fraldas não descartáveis. Não se sabe se elas, sendo de algodão, apresentam os mesmo riscos das descartáveis.
Em média, seis mil fraldas são utilizadas e descartadas nos três primeiros anos de vida de um bebê e cada uma delas leva cerca de 450 anos para se decompor no meio ambiente. No Brasil, o consumo de fraldas descartáveis vem aumentando nos últimos anos. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), foram 5,6 bilhões de fraldas vendidas ao consumidor no mercado brasileiro no ano de 2009 e 7,9 bilhões no ano de 2014, o que levou o país ao patamar de terceiro maior consumidor de fraldas descartáveis do mundo.
Tendo em vista o ciclo de vida da fralda descartável, além da sua persistência no meu ambiente pós-uso, o produto tem diferentes impactos relacionados a sua produção. Esse ciclo pode ser dividido nas seguintes fases: extração da matéria-prima, fabricação dos materiais, manufatura do produto e disposição final.
A composição de uma fralda descartável pode ser de aproximadamente 43% de polpa de celulose (celulose fluff), 27% de polímero superabsorvente (PSA), 10% de polipropileno (PP), 13% de polietileno (PE), e 7% de fitas, elásticos e adesivos. Tendo para isso, em sua fabricação, a utilização de recursos como árvores, petróleo, água e produtos químicos.
Na configuração da fralda, o polipropileno compõe a camada que entra em contato direto com o bebê, e sua função é facilitar o escoamento do líquido para a camada absorvente. Os polímeros superabsorventes possuem grande afinidade pela água; estes, junto com a polpa de celulose, formam a manta de gel superabsorvente, que é colocada no recheio da fralda com a finalidade de absorver os líquidos. O revestimento do produto é composto por polietileno, um polímero hidrofóbico (tem aversão a água) que é colocado na parte exterior e nas laterais, a fim de evitar o vazamento de líquido para fora da fralda.
O processo de produção de fraldas descartáveis requer a extração de árvores para a obtenção da celulose e extração de petróleo para a produção dos polímeros sintéticos, além do consumo de água e energia. Veja a seguir como são esses processos:
A celulose é uma substância que existe dentro das células da planta, e, por suas características, pode ser usada para diversos fins industriais. O Brasil é um dos grandes produtores de derivados de celulose, e no país a plantação de eucalipto é uma das principais fontes de alimentação da indústria de celulose para a obtenção de fibra curta, utilizada na fabricação do papel. O manejo dessas florestas contribui para abastecer o mercado, antes atendido por espécies nativas.
Para a produção das fraldas descartáveis, a matéria-prima é a celulose de fibra longa, originada de plantas gimnospermas (pinus, principalmente) e caracterizada por ter um alto poder de absorção. De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), as plantações de pinus cobrem 1,8 milhão de hectares do território nacional (concentram-se na região sul), e se destinam a diversas utilidades industriais. Segundo o BNDES, a produção nacional dessa fibra é insuficiente para atender à demanda interna, e o país precisa recorrer a importações, que ficam em torno de 400 mil toneladas anuais.
Plantações de eucalipto e pinus, por serem espécies de crescimento rápido, absorvem altas taxas de CO2 da atmosfera durante seu crescimento, mas, por outro lado, consomem bastante água. Essas plantações se apresentam, geralmente, em sistemas de monocultura (apenas uma espécie) e seus impactos ambientais, segundo um estudo do BNDES, dependem, fundamentalmente, das condições prévias ao plantio. Quando implementados em locais que tinham anteriormente um bioma nativo (veja um caso), ocorre perda da biodiversidade local, porém, quando o reflorestamento é realizado em áreas de pastagens degradadas ou locais anteriormente utilizados pela agricultura de forma intensiva, pode haver ganhos ambientais. Visando minimizar efeitos negativos dessas plantações, é importante que as empresas de papel e celulose estejam certificadas pelos sistemas de garantia de qualidade ambiental, como o sistema IS0 14001 e pelas certificações florestais FSC e Cerflor.
O polímero superabsorvente (PSA), o polipropileno (PP), o polietileno (PE) e partes dos materiais utilizados para a produção das fitas, elásticos e adesivos, têm em comum o fato de serem polímeros sintéticos produzidos a partir da nafta. A nafta é uma fração do petróleo, um recurso não renovável, obtida por meio do refinamento deste, e destinada em grande medida para a produção dos polímeros sintéticos (plásticos).
Os processos de extração, separação, refino e transporte da nafta já têm uma elevada pegada ambiental, porque nesses processos se queimam combustíveis fósseis emitindo gases do efeito estufa.
A madeira passa por alguns processos para que seja obtido o rolo de celulose (material que será efetivamente utilizado nas fábricas de manufatura das fraldas descartáveis). O processo envolve: lavagem, cozimento (kraft), depuração, deslignificação, branqueamento, secagem, embalagem e transporte para a fábrica de fraldas.
Para o processo de branqueamento, utilizam-se produtos químicos e são gerados subprodutos que podem ser tóxicos ou não, dependendo de quais produtos foram utilizados no processo. Quando utilizado cloro, por exemplo, é possível que dioxinas sejam liberadas.
A nafta líquida passa por um craqueamento térmico para produzir os petroquímicos básicos (etileno, propileno, etc.), que são polimerizados para se chegar nos polímeros (polietilenos, polipropilenos, etc.).
No caso dos polímeros superabsorventes, na sua fabricação, petroquímicos básicos (propileno ou propeno) são oxidados a ácido acrílico e purificados a ácido acrílico glacial. Neste último produto é acrescentado soda cáustica para produzir o poliacrilato de sódio (flocgel ou gel superabsorvente), que é uma substância capaz de absorver água por osmose.
Ambos processos de fabricação (da celulose e do plástico) incluem adição de produtos químicos, geração de subprodutos e consumo de água e energia.
O produto e a embalagem são, na maioria das empresas fabricantes de fraldas, manufaturados através de maquinários, havendo, assim, gasto de energia em todo o processo de manufatura e embalagem. Por serem embalagens plásticas, polímeros sintéticos também são utilizados nesse processo.
Podem ainda ser adicionadas fragrâncias sintéticas, que, dependendo do material utilizado, podem causar dermatite de contato (alergia) no bebê.
Quando descartada no meio ambiente, a parte da fralda composta por celulose pode se decompor em alguns meses, porém os polímeros superabsorventes e os componentes de plástico não podem, o que resulta na persistência desses resíduos no ambiente por longo período de tempo, possibilitando, quando dispostos em lixões (a céu aberto e sem preparação anterior do solo), a atração de insetos vetores de doenças e a contaminação das águas subterrâneas por micro-organismos presentes nas fezes que foram descartadas com as fraldas (recomenda-se que as fezes sejam jogadas no vaso sanitário antes de descartar a fralda, mas que se evite jogar a fralda toda no vaso sanitário, para não causar poluição das águas superficiais).
Uma alternativa para diminuição do volume de resíduos sólidos em aterros sanitários (e recomendada pela lei 12.305/2010) é priorizar a não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e posterior disposição dos rejeitos em aterros sanitários. As tecnologias conhecidas são:
Reciclagem: é possível reciclar fraldas descartáveis com a trituração do resíduo, a separação em plástico e fibras e com a reutilização desses materiais para novas confecções. A medida já existe em alguns países, porém ainda não é realidade no Brasil.
Incineração com recuperação energética: a incineração e a posterior recuperação de energia é uma possível opção para as fraldas descartáveis, pelo seu teor de umidade e valor térmico de alguns materiais pelos quais é composta, mas deve ser comprovada a sua viabilidade técnica, econômica e ambiental, além de necessitar de um monitoramento de emissão de gases tóxicos (como a dioxina), aprovado pelo órgão ambiental. Alguns países já fazem incineração de uma parte dos materiais das fraldas.
Compostagem em nível comercial (usina de compostagem): é o processo de degradação biológica da matéria orgânica sob condições aeróbicas (com presença de oxigênio), gerando como produto final um composto que pode ser utilizado como adubo. Porém plásticos comuns – à base de petróleo -, não são biodegradáveis, o que pode dificultar essa opção para as fraldas descartáveis tradicionais, mas uma iniciativa na Nova Zelândia transformou essa alternativa em realidade.
Para se ter uma visão do que ocorre com o resíduo gerado no Brasil, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico (SNIS), 78% dos resíduos sólidos urbanos gerados em 2013, dos que se tem informação, são destinados à unidades de disposição no solo (50,2% em aterros sanitários, 17% em aterros controlados e 11,03% em lixões – entenda a diferença entre os três). Unidades de compostagem respondem por somente 0,02% da destinação total e a incineração é utilizada, principalmente, como destinação para resíduos hospitalares.
Segundo a PwC, o Brasil deve entrar, em 2025, em um período de envelhecimento da população, com um número crescente de idosos. Nesse cenário, pode-se aumentar a demanda por produtos de incontinência, como as fraldas geriátricas, e o aumento na geração desse resíduo sem solução efetiva até o momento.
Elas são ótimas alternativas para fraldas já que há uma enorme variedade de modelos de fraldas de pano disponíveis no mercado. Elas são modernas, formadas por várias camadas de tecido que aumentam a capacidade de absorção, adquiriram formas e tamanhos variados para as diferentes idades do bebê, utilizam capinhas com função de barrar o vazamento e há velcros e botões no lugar dos alfinetes.
Existem opções de fraldas com revestimento interno que pode ser trocado, não precisando colocar toda a fralda para lavar assim que sujar, pode-se apenas trocar esse revestimento e separar em um balde para serem lavados ao final do dia. Algumas pessoas afirmam que, com elas, as assaduras são menos recorrentes, pois a pele respira melhor.
Saiba um pouco mais sobre as fraldas de pano modernas nesse vídeo.
Um estudo de avaliação de ciclo de vida da fralda descartável e da fralda de pano, realizado pela Agência Ambiental do Reino Unido em 2008, calculou que a pegada de carbono associada a um bebê usando fraldas descartáveis ao longo de dois anos é de 550 kg de CO2 equivalente, enquanto que as emissões associadas com um bebê usando fraldas de pano reutilizáveis foi de 570 kg de CO2 equivalente.
O estudo salienta que o maior impacto (em geração de gases de efeito estufa – saiba mais sobre pegada de carbono) das fraldas de pano laváveis pode ser minimizado dependendo da maneira como ela é lavada, podendo diminuir bastante se algumas medidas forem aplicadas, como colocar as peças para lavar em carga plena (maquina cheia), não lavar em temperaturas de lavagem muito altas, colocá-las para secar ao ar livre, optar por maquinas de lavar mais eficientes energeticamente (etiqueta energética A+ ou superior), entre outras medidas.
O estudo concluiu que as fraldas de pano têm maior pegada hídrica e um maior gasto de energia do que as descartáveis, e as descartáveis geram mais resíduos sólidos e consomem mais matérias-primas, tendo assim intensidades diferentes de pegadas deixadas no meio ambiente.
As fraldas híbridas são fraldas de algodão revestidas no seu interior por uma película absorvente descartável, ou seja, o exterior da fralda é lavável e reutilizável e o seu interior é descartável. Há a opção também deste refil interno ser feito de material biodegradável. Saiba mais sobre essas fraldas.
Outra opção já disponível no mercado são as fraldas biodegradáveis (ou seja, que podem, após o descarte, serem consumidos por micro-organismos como fontes de alimento e de energia). Elas são confeccionadas principalmente a partir de materiais de origem vegetal, como manta de celulose revestida por um bioplástico.
A diferença do bioplástico para o plástico tradicional está na matéria-prima da sua produção. Enquanto o tradicional contém carbono derivado de petróleo, os bioplásticos contêm carbono derivado de materiais naturais, ou seja, são fabricados a partir de matérias-primas renováveis (milho, batata, etc.). Ainda não existem estudos que comparem o ciclo de vida da fralda descartável convencional com o da biodegradável.
A fralda biodegradável vai se degradar em maior ou menor velocidade dependendo do tipo de material do qual é composto e a destinação dada a ele. Em usinas de compostagem (com temperatura, umidade, luz, oxigenação e micro-organismos) o produto sofrerá degradação com maior facilidade (bioplásticos biodegradam em alguns meses nessas usinas, segundo relatório do INP). No aterro sanitário, produtos biodegradáveis necessitam de um período mais longo para se degradarem, devido à baixa quantidade de oxigênio e umidade, necessários no processo de fragmentação. As condições oferecidas nesses locais propiciam uma biodegradação anaeróbica (em ausência de oxigênio), que é uma degradação mais lenta. As normas americana (ASTM D-6400) e européia (EM-13432) comprovam a biodegradabilidade de um material em condições de compostagem, mas ainda não existem normas para os plásticos que entram no meio ambiente por outros meios.
As fraldas que vão parar no lixão (alternativa que deve estar em processo de extinção, pelos problemas inerentes a essa prática, porém ainda ocorre em quantidade significativa), por estarem dispostas a céu aberto, na presença de oxigênio e umidade, sofrem inicialmente um processo de decomposição aeróbica, e, nesses ambientes, as fraldas biodegradáveis podem se degradar com maior rapidez do que as fraldas descartáveis tradicionais, pois as tradicionais possuem muitos materiais plásticos que persistem no meio ambiente. O resultado dessa degradação completa é a produção de CO2, água e sais minerais na forma de lixiviados, que podem percolar e contaminar as águas subterrâneas, dependendo da sua composição e do nível do lençol freático.
As fraldas biodegradáveis ainda não são fabricadas no Brasil, mas existem revendedoras. Uma delas é da fabricante alemã Wiona, que produz uma fralda biodegradável, hipoalergênica, sem fragrâncias sintéticas e sem utilização de cloro no branqueamento da celulose. Sua composição a deixa com um pouco mais de espessura do que as fraldas descartáveis tradicionais, mas, por outro lado, o fabricante diz ter maior durabilidade.
Antes da maternidade já é hora de decidir quais são os tipos de fraldas que serão pedidos no chá de bebê do seu menino ou da sua menina, estando no centro da atenção dos futuros pais as questões de saúde e higiene (evitar dermatites) do bebê, conforto, preços, e, para alguns pais mais ecológicos, a pegada ambiental do produto.
Não existe nenhuma alternativa de impacto ambiental zero, porém algumas coisas podem ser levadas em consideração na hora de escolher quais fraldas infantis ou geriátricas comprar, e como agir como consumidor:
Levando tudo isso em consideração, basta fazer a sua escolha.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais