O uso de produtos de higiene absorventes está aumentando em todo o mundo. Infelizmente, o crescimento da utilização traz consigo o aumento de resíduos de tais produtos, que vão parar em lixões e aterros sanitários, onde demoram séculos para se decompor. Foi pensando nesse cenário que Karen e Karl Upston, donos de um negócio de venda de fraldas (descartáveis e de pano) na Nova Zelândia e pais de dois filhos, começaram a estudar uma maneira ambientalmente adequada para o descarte desse resíduo.
Em 2007, eles decidiram tentar compostar fraldas descartáveis em escala comercial. Fizeram um experimento de cinco meses que envolveu mais de 200 famílias, seis pré-escolas, a maternidade local, uma residência de idosos e uma IHC (local que trata pessoas com deficiência intelectual). Ao total, foram aproximadamente 250 mil fraldas compostadas, o que correspondeu a 56 toneladas de resíduos não destinados aos aterros sanitários.
Após o sucesso do experimento, o casal passou a construir instalações de compostagem comercial. A primeira central de compostagem começou a operar em North Canterbury, Nova Zelândia, em 2009. A iniciativa levou à criação da empresa neozelandesa Envirocomp, da qual Karen é diretora. Hoje, a empresa composta fraldas descartáveis, produtos de higiene e incontinência de qualquer marca.
Compostagem é uma técnica que transforma lixo orgânico em adubo por meio do processo de decomposição da matéria orgânica na presença de oxigênio. Em usinas de compostagem, o resíduo orgânico é compostado em larga escala, onde há uma aceleração do processo de decomposição através do controle do pH, da taxa de umidade, entre outras variáveis, resultando no aumento da atividade bacteriana (para entender melhor o processo de compostagem e suas etapas acesse: “O que é compostagem e como fazer“).
Enquanto uma parte das fraldas e outros resíduos de higiene absorvente contêm plástico e outros materiais não compostáveis, uma outra parte é feita de material orgânico. O polímero superabsorvente (PSA), que compõe em média 27% da fralda descartável, foi inicialmente desenvolvido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos como um aditivo para melhorar a capacidade de solos na retenção de umidade (entenda melhor como funciona esse processo neste vídeo, em inglês). Esse polímero, apesar de ser inerte e não se decompor no processo de compostagem, não é removido do composto gerado na Envirocomp pela sua utilidade na composição do adubo. Já os outros plásticos, como fitas adesivas e o revestimento de polietileno, serão retirados ao final do processo de compostagem.
Segundo a empresa, a duração e a temperatura do processo de compostagem asseguram que agentes patogênicos (micro-organismos capazes de produzir doenças) sejam eliminados, e que o processo de compostagem seja completo. O composto final é testado pelo controle de qualidade da empresa antes de estar pronto para uso; ele pode servir para adubar agricultura não alimentar e jardins.
O processo pode ser visualizado nesse vídeo:
1° passo
Recebimento e classificação do resíduo (as sacolas são abertas manualmente e verifica-se se há algum material que não deveria estar lá, que é então retirado do processo).
2° passo
Os resíduos alimentam uma dupla trituradora.
3° passo
Os resíduos são misturados com lixo verde (restos de poda ou corte de árvores e planta), o que ajuda a oxigenar a pilha de resíduos.
4° passo
O resíduo é colocado em unidades de compostagem.
5° passo
O resíduo é misturado e movido através da unidade de compostagem.
6° passo
O composto gerado é deixado para amadurecer.
7° passo
O resíduo está agora compostado e pronto para ser utilizado.
O processo todo demora de 17 a 18 dias. O plástico é retirado ao final do processo, o qual pode ser levado para reciclagem.
Em 2011, a Outsourced Client Solutions (OCS) assinou um acordo de patrocínio com a Kimberly-Clark Corporation que dá à fabricante estadunidense, dona da marca Huggies, o direito de preferência para patrocinar instalações de compostagem da Envirocomp, a medida em que elas forem sendo instaladas pelo mundo. O vice-presidente de sustentabilidade da Kimberly-Clark, Suhas Apte, disse que esse relacionamento vai ajudar a empresa a atingir suas metas de sustentabilidade.
A Kimberly-Clark tem apoiado a Envirocomp desde o início, trabalhando com a fundadora, Karen Upston, para construir o modelo de negócio e crescer relações com a indústria e o governo.
Mais de 95% das fraldas utilizadas na Nova Zelândia são descartáveis, com uma estimativa de 575 milhões de fraldas descartáveis consumidas e despejadas a cada ano (no Brasil, esse número chegou a sete bilhões no ano de 2014, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos – Abihpec). O aterro sanitário ainda é a maneira mais barata de disposição de resíduos sólidos (sem considerar os lixões), por isso, muitas vezes, novas tecnologias têm que ser subsidiadas pelo governo.
No serviço oferecido pela empresa neozelandesa, o consumidor se registra no site da empresa que presta o serviço de compostagem das fraldas, faz uma pré-compra de um pacote de sacos para acondicionar as fraldas usadas, e, quando esses estiverem cheios, deixa-os em pontos de coleta informados pela empresa. O serviço também foi disponibilizado à clientes comerciais, como hospitais, creches e casas de repouso.
O preço para os consumidores que querem ter seu resíduo compostado era, em 2009, de um pouco mais de cinco dólares neozelandeses por semana. Alguns conselhos distritais ofereceram aos seus contribuintes um subsídio para incentivar a compra do serviço.
Fontes: Envirocomp, Idealog, HotRot, Stuff
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