Ao menos 12 ex-funcionários da estatal assumiram funções na cúpula do clima da ONU da COP28
Uma análise de jornalismo investigativo feita pelo Center for Climate Reporting (CCR) e divulgada hoje pelo jornal The Guardian revelou que pelo menos 12 pessoas que estavam trabalhando em uma empresa estatal de petróleo dos Emirados Árabes assumiram funções na cúpula do clima da ONU da COP28.
Entre as que ocuparam cargos na COP28, estão dois ex-engenheiros da Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc) que atuarão como negociadores em nome dos Emirados Árabes Unidos na cúpula, apesar de não possuírem experiência em diplomacia climática internacional.
O cenário muito provavelmente é consequência da nomeação do sultão Ahmed al-Jaber, chefe da Abu Dhabi National Oil Company, como presidente das negociações climáticas globais.
Ativistas climáticos e alguns políticos chegaram a sugerir que Jaber desistisse do cargo na indústria de petróleo enquanto sediava a cúpula, para evitar qualquer conflito de interesses.
“Se não fizermos algumas mudanças drásticas, a COP28. será a cúpula do clima perdida”, disse, de acordo com o The Guardian, o congressista americano Jared Huffman, que em carta na semana passada pediu ao enviado especial do presidente para o clima, John Kerry, que pressione o Emirados Árabes Unidos para remover Jaber de seu cargo como presidente da COP28. “De alguma forma, fingir que todo esse pessoal de combustível fóssil e todas essas conexões não são uma ameaça massiva para toda a conferência vai além de ingênuo.”
Sami Joost, porta-voz do enviado especial para mudanças climáticas dos Emirados Árabes Unidos, disse ao The Guardian: “Os indivíduos que estão sendo contratados vêm de uma variedade de origens e setores, uma vez no cargo, essas pessoas estão totalmente focadas na COP8 e não têm obrigações para com seus antigos empregadores”.
As análises da CCR também sugerem que alguns membros da equipe COP28 ainda trabalham no mesmo prédio da petroleira.
Os Emirados Árabes Unidos disseram que a conferência sobre mudanças climáticas deste ano, durante a qual representantes de todo o mundo viajarão a Dubai para avaliar o progresso no combate à emergência climática, será uma “Cooperação inclusiva que traz todas as perspectivas para a mesa”.
É verdade que os Emirados Árabes Unidos investiram pesadamente em energia renovável, mas continuaram a aumentar a produção de petróleo.
O senador americano Sheldon Whitehouse, que co-assinou a carta a Kerry na semana passada, disse: “O tempo está ficando curto para resolver a crise climática e a COP é o único local para encontrar um acordo internacional sobre como fazê-lo. Essas conversas precisam acontecer livres da influência maligna da indústria de combustíveis fósseis.”
De acordo com o Guardian, pouco depois de Jaber ter sido anunciado como presidente da COP28 no mês passado, a agência de relações públicas dos EUA, Edelman, enviou e-mails a dezenas de jornalistas divulgando o investimento dos Emirados Árabes Unidos em energia renovável.
“No ano passado, assumimos o compromisso de ser a agência escolhida por organizações dedicadas à ação climática”, disse Michael Bush, porta-voz da Edelman. Ele disse que a agência foi contratada para trabalhar na COP28 por meio de seu envolvimento com a Masdar, empresa de energia renovável dos Emirados.
A Masdar é propriedade da Adnoc, outra empresa estatal de combustíveis fósseis chamada Taqa e um fundo soberano de Abu Dhabi.