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Por Elton Alisson, da Pesquisa para Inovação – Fapesp | Os aportes de recursos de fundos de venture capital em startups brasileiras têm batido sucessivos recordes nos últimos anos. A maior parte desses fundos atuantes no Brasil, contudo, ainda não investe em deep techs, como são chamadas as startups de base científica e tecnológica que desempenham papel importante em diversos mercados, como os de saúde, agronegócio e sistemas aeroespaciais.

A constatação foi feita por meio de um mapeamento conduzido pelo programa Delta Capital, realizado pelo Sebrae for Startups e executado pela Ventiur Aceleradora.

“Há um universo importante de fundos de venture capital atuantes no Brasil, mas percebemos que eles dão muito mais prioridade para startups digitais. São poucos os que apostam em deep techs”, diz ao Pesquisa para Inovação Leonardo Augusto Garcia, gestor de acesso a investimento do Sebrae for Startups.

Foram identificados por meio do mapeamento apenas 24 fundos de deep techs no Brasil. Entre eles estão fundos de venture capital (VC), compostos por diferentes pessoas físicas e jurídicas; de corporate venture capital (CVC), formados exclusivamente por uma única empresa ou grupo empresarial; venture builder (VB), que são organizações que auxiliam no desenvolvimento de soluções inovadoras, normalmente oferecendo capital intelectual por participação (equity); e investidores com recursos oriundos ou com foco de atuação na América Latina.

“O número de fundos de deep techs que mapeamos é muito baixo frente ao potencial dessas startups para ajudar o país a crescer por meio da inovação e desenvolvimento de tecnologias que fazem a diferença”, avalia Garcia.

Um dos obstáculos apontados pelos fundos para incluir as deep techs em suas carteiras de investimentos é a dificuldade de entender a própria tecnologia que essas empresas estão desenvolvendo. Para transpor essa barreira, alguns VCs e CVCs têm formado comitês de especialistas ao constituir fundos de investimentos voltados a captar deep techs na área da saúde, por exemplo. Outros têm recorrido a parcerias com universidades e instituições de pesquisa – onde surge a maior parte dessas startups – para identificar as oportunidades de investimento.

“Nos aliamos muito à academia por entendermos que as deep techs representam um segmento de mercado que desconhecemos. Elas possuem um conhecimento técnico e científico que está muito distante do mercado de venture capital. Por isso, nos aproximamos de instituições como a Embrapa, que fomenta diversos projetos, para validar tecnologias que startups estão desenvolvendo para o setor agrícola, por exemplo. Dessa forma, conseguimos ter um pouco mais de conforto para avançar nas conversas com essas empresas”, disse Luigi Grimaldi, analista da Barn Investimentos, durante o evento de lançamento do mapeamento.

Fundado em 2012, o foco do fundo de investimentos é em startups em estágio inicial (early stage) que estejam desenvolvendo tecnologias verdes (greentechs) voltadas a reduzir emissões de CO2 ou eletrificar frotas de transporte de grandes empresas, por exemplo. Até agora, a empresa selecionou cinco deep techs.

“Nosso foco principal é em agricultura. Acreditamos muito nas vantagens competitivas do mercado brasileiro nessas áreas”, afirmou Grimaldi.

Maior tempo de maturação

A principal barreira entre as deep techs e os fundos de investimentos apontada pelos participantes do mapeamento é que elas necessitam de muito capital e tempo para desenvolver uma nova tecnologia, introduzi-la no mercado e começar a faturar. Todo esse ciclo envolve grandes riscos e pode levar até dez anos para ser concluído. Já os fundos precisam devolver o capital para os investidores em um período de cinco a sete anos. Por isso, acabam preferindo as startups digitais.

“As startups digitais tendem a ter menor necessidade de capital para ganhar escalabilidade em comparação com as deep techs em razão de terem menores custos de distribuição e não precisarem ter fábricas, maquinários e laboratórios, por exemplo. Além disso, como têm poucos ativos, são empresas com menor capacidade de dívida e estão migrando para o modelo de software como serviço, que é muito interessante do ponto de vista do investidor pela previsibilidade de receita. Isso permite entender a geração de caixa futuro, que é como calculamos o valor de uma empresa”, explicou Eduardo Sperling, head do fundo Criatec 3 na KPTL.

Uma vez que as deep techs ao requerer investimento ainda não têm a principal validação, que é o cliente final, um dos principais elementos que os fundos analisam detidamente para decidir aportar recursos é a propriedade intelectual, apontou Sperling.

“A propriedade intelectual não precisa ser necessariamente patente, mas ter um conhecimento específico de um produto, tecnologia ou meio de produção que é muito difícil o mercado copiar rapidamente”, ponderou.

Para fazer a avaliação da propriedade intelectual das candidatas a investimentos, os gestores da KPTL, que já investiu em mais de cem deep techs, têm recorrido a especialistas em universidades e instituições de pesquisa.

“Esses especialistas nos ajudam a entender a rota tecnológica, ter indicações se é relevante e os diferenciais competitivos em comparação com outras rotas concorrentes para verificarmos se estamos no caminho certo”, disse Sperling.

Segundo o especialista, alguns elementos que ajudam os fundos a avaliar as propostas de investimentos em deep techs são credenciais como a formação acadêmica e a experiência dos pesquisadores responsáveis pelo projeto com a tecnologia que estão desenvolvendo. Outro fator de credibilidade é já ter tido apoio de instituições como a FAPESP, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) no desenvolvimento do projeto.

“Ao pleitear investimento de um fundo, as deep techs – principalmente as que ainda não estão no mercado – precisam apresentar tudo o que dá credibilidade. Como representamos o dinheiro de terceiros, precisamos ter elementos para corroborar o investimento em oportunidades que não são óbvias para ninguém”, afirmou Sperling.

Momento certo

Outra dica dada pelos especialistas para os empreendedores em deep techs é avaliar o momento certo para pleitear investimentos de fundos de venture capital.

Durante a fase de desenvolvimento tecnológico é mais interessante para as startups de base tecnológica recorrerem a recursos a fundo perdido, como os disponibilizados pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, do que investimentos de fundos de venture capital, sublinhou Sperling.

“O venture capital entra para colocar uma centelha e promover um incêndio, mas a deep tech precisa já ter o combustível, ou seja, o produto pronto, para receber um investimento desse tipo. Se um fundo de investimento entra antes desse estágio, acaba matando a iniciativa porque exercerá uma pressão muito forte por resultado de mercado”, explicou.

“O dinheiro a fundo perdido da FAPESP ou da Finep permite apoiar o desenvolvimento tecnológico dessas empresas até que as tecnologias que estão criando estejam maduras o suficiente para serem transformadas em um produto e receberem investimento de venture capital”, avaliou.

O especialista também ressalta que normalmente os fundos de investimentos não conseguem apoiar as deep techs em toda a sua jornada. Como sofrem uma forte pressão de tempo de retorno para os investidores, passam entre quatro e seis anos com as startups investidas e, em seguida, precisam vender suas participações.

“As empresas candidatas a receber investimentos de fundos de venture capital precisam ter liquidez no mercado e se valorizar diversas vezes nesse período”, afirmou.

O mapeamento dos fundos de deep techs pode ser acessado pelo site Ventiur.net/mapeamento-deeptech/.

Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa Para Inovação – Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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