Solventes da gasolina podem ser a causa de problemas visuais, como a dificuldade em distinguir cores
Quando pensamos em profissões arriscadas, certos empregos insalubres vem à mente, como adestrador de circo, bombeiro, perfurador de poços submarinos e outros. Alguns trabalhos têm de ser regulados e possuem uma carga horária reduzida, devido à exposição do trabalhador a elementos radioativos (como o césio). Os técnicos em radiologia – que trabalham 20 horas semanais – são um exemplo típico.
Mas, você sabia que a profissão de frentista também pode oferecer riscos à saúde? Um dos riscos da exposição à gasolina, de acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), que analisou um grupo de 25 frentistas, foram observadas perdas visuais significativas nesses profissionais. As deficiências detectadas estão relacionadas à incapacidade de distinguir cores.
Para que se chegasse a tal conclusão, os frentistas foram submetidos a uma nova metodologia capaz de detectar problemas que um exame oftalmológico não conseguiria. Os testes também já foram aplicados em pacientes que sofreram exposição ao mercúrio e em portadores de doenças como diabetes, glaucoma e esclerose múltipla.
A razão pela qual os frentistas apresentaram tais problemas é a exposição diária a solventes da gasolina, como benzeno, tolueno e xileno. Não existe um controle normativo (como é o caso dos técnicos em radiologia) sobre isso, apesar da existência de estudos que recomendam limites de segurança relativos à exposição a solventes (porém, de forma isolada).
Resultados
Qualquer alteração estrutural na córnea dos voluntários foi descartada por exames oftalmológicos. Contudo, nos testes psicofísicos, o desempenho dos frentistas foi inferior aos do grupo de controle analisado. Para os pesquisadores, o impacto na visão pode ser consequência do dano neurológico provocado pelas substâncias tóxicas do combustível. Isso é preocupante, pois se os solventes estão de fato afetando o cérebro dessas pessoas, não é apenas a visão que será prejudicada.
O responsável pela pesquisa, o mestrando Thiago Costa, alerta que outras categorias de trabalhadores podem sofrer perdas visuais pela exposição crônica a solventes orgânicos, como funcionários da indústria gráfica e de tintas.
Por isso, faz-se necessário o debate a respeito da utilização de materiais alternativos que não contenham química tão pesada e também a discussão da efetivação de outras matrizes energéticas, como a elétrica, para automóveis.