Gelo da Groenlândia pode derreter completamente após atingir ponto crítico específico

Compartilhar

A camada de gelo da Groenlândia, que cobre mais de 1,7 milhão de quilômetros quadrados, está em um caminho irreversível de derretimento. Estudos recentes apontam que, ao atingir um ponto de inflexão específico, a perda de gelo pode se tornar tão acelerada que a recuperação será impossível. Com implicações globais, desde a elevação do nível do mar até mudanças na salinidade dos oceanos, o desaparecimento dessa massa gelada representa uma ameaça direta para ecossistemas marinhos e comunidades costeiras.

Pesquisadores do Bjerknes Centre for Climate Research, na Noruega, liderados pela cientista Michele Petrini, identificaram que a perda de aproximadamente 230 gigatoneladas de gelo em um único ano pode marcar o início de um processo irreversível. Esse volume corresponde a 60% do balanço de massa da superfície em comparação com os tempos pré-industriais. A partir desse ponto, a camada de gelo da Groenlândia pode levar entre 8 mil e 40 mil anos para desaparecer completamente.

A topografia desempenha um papel fundamental nesse processo. À medida que o gelo derrete, a superfície da camada de gelo é rebaixada, e o ajuste isostático glacial — o lento levantamento do leito rochoso após a redução do peso do gelo — não consegue acompanhar o ritmo do derretimento. Isso cria um ciclo vicioso: menos gelo significa menos reflexão da radiação solar, o que aquece ainda mais o ambiente e acelera a perda de massa.

Simulações mostram que a margem ocidental da Groenlândia, com sua topografia elevada, pode ser a chave para retardar o colapso total. Durante o último período interglacial, há 130 mil anos, essa região ajudou a preservar parte da camada de gelo. No entanto, se a conexão costeira dessa área for perdida, mais de 80% da massa de gelo poderá desaparecer.

O aquecimento global, que já elevou a temperatura média do planeta em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, aproxima a humanidade desse ponto de inflexão. Caso o aumento atinja 3,4°C, o derretimento completo da Groenlândia se tornará inevitável. As consequências incluem uma elevação do nível do mar de até 7 metros, o que transformaria drasticamente o mapa mundial e deslocaria milhões de pessoas.

Apesar das incertezas, como a ausência de feedbacks gelo-atmosfera nos modelos atuais, os cientistas alertam que a ação humana continua a empurrar o planeta para além de seus limites naturais. A estabilização da camada de gelo da Groenlândia depende de esforços urgentes para conter as emissões de gases de efeito estufa e limitar o aquecimento global.

Enquanto isso, a ciência segue monitorando e buscando soluções para um dos maiores desafios ambientais do século XXI. A Groenlândia, com seu gelo milenar, é um termômetro do futuro do planeta — e o tempo para agir está se esgotando.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais