Nos últimos quatro anos, a expansão do garimpo ilegal na Amazônia provocou centenas de mortes na maior Terra Indígena do país
Por Greenpeace Brasil | Neste exato momento, cerca de 20 mil garimpeiros ilegais estão dentro da Terra Indígena Yanomami poluindo rios, destruindo florestas e ameaçando a existência de um povo ancestral, com claros impactos sobre a saúde e o modo de vida desta população. A crise humanitária que assola a maior terra indígena do país – vitimando principalmente crianças – não é novidade e se arrasta desde a década de 70. Nos últimos anos, foram mais de 60 alertas realizados pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana.
“O avanço da malária e da desnutrição dentro do território Yanomami já foi apontado por diversos especialistas, entre eles os da Fundação Oswaldo Cruz, confirmando a relação direta com o avanço do garimpo ilegal. Além de promover a destruição das florestas e dos rios da TI Yanomami, a atividade garimpeira impacta diretamente na desorganização do modo de vida dos povos indígenas presentes no território, e assim compromete a capacidade desses grupos produzirem seus próprios alimentos”, explica o porta-voz da campanha da Amazônia do Greenpeace Brasil, Danicley de Aguiar, que acompanha a temática há mais de 20 anos na Amazônia.
O garimpo ilegal é um inimigo antigo do povo Yanomami, mas em função do discurso pró garimpo e das ações e omissões do governo Bolsonaro, a atividade se expandiu de forma devastadora. Segundo dados levantados pelo Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal da Hutukara Associação Yanomami, entre 2019 e 2021, a área garimpada irregularmente na TI Yanomami aumentou 1.963%, em comparação com os dez anos anteriores, deixando um rastro de destruição e mortes.
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Estrada e maquinários ilegais dentro da Terra Indígena Yanomami registradas pelo Greenpeace Brasil em dezembro de 2022Next
Expansão estrutural do garimpo dentro da TI Yanomami
No mês passado, em dezembro de 2022, o Greenpeace Brasil esteve na região e denunciou a abertura de uma estrada de 150 quilômetros construída pelos garimpeiros que, ao facilitar a entrada das primeiras escavadeiras hidráulicas, eleva a ilegalidade para um patamar de devastação muito mais grave e aprofunda o desespero dos Yanomami.
Na mesma ocasião também flagramos a abertura irregular de uma nova pista de pouso, com cerca de 1 km de extensão e pelo menos 30 metros de largura, e que está associada a estrada ilegal. Essa nova pista tem a função de garantir o suprimento logístico para o funcionamento dos garimpos na região do alto curso do rio Catrimani.
Alerta de genocídio
A fome, a violência e a contaminação por mercúrio acentuadas pela negligência do governo Bolsonaro têm sido fatais. Dados recentes do Ministério da Saúde apontam que, nos últimos quatros anos, 570 crianças com menos de 5 anos morreram por doenças evitáveis e pelo menos 21 ofícios com pedido de ajuda foram ignorados pela gestão do ex-presidente.
Em 2021, a preocupação com o risco de genocídio e o garimpo ilegal chegou a ser denunciada ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Penal Internacional (TPI), mas a negligência federal seguiu e a ilegalidade também, o que fez crescer as facções criminosas e conflitos graves contra indígenas, como assassinatos, estupros e aliciamento de vulneráveis.
Emergência decretada
No último sábado (21), o presidente Lula esteve no território Yanomami e declarou Situação de Emergência na saúde pública do povo Yanomami. Além do aumento da mortalidade infantil, foram registrados 11.530 casos confirmados de malária só no ano passado.
O atual governo também se comprometeu publicamente a acabar com o garimpo ilegal que já atinge 273 das 371 comunidades do território Yanomami. A Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, disse que o Ibama e a Polícia Federal, com auxílio do Ministério da Defesa, vão atuar em conjunto para retirar os garimpeiros e desmobilizar suas estruturas. Seguiremos acompanhando e cobrando para que as devidas providências sejam tomadas.
Fim do garimpo e a proteção dos direitos indígenas
Considerando a disposição do Presidente da República em reverter o avanço do garimpo ilegal na Floresta Amazônica, é fundamental que o atual governo vá além das ações de combate e controle. Para isso, será necessário um conjunto amplo de políticas socioeconômicas estruturantes e inovadoras, com mais investimentos em tecnologia e ciência alinhados aos conhecimentos tradicionais da região. Somente com essas políticas teremos alguma chance de superar o garimpo e constituir uma nova ordem econômica capaz de conviver com a floresta e garantir os direitos fundamentais dos mais de 28 milhões de brasileiros que habitam a Amazônia.
Se quiser saber mais e ajudar com doações, acesse os portais e as redes sociais das organizações indígenas:
- APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil);
- Coiab (Coordenação das Organizações dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileiras);
- Hutukara (Associação Yanomami).
- Urihi Associação Yanomami
Este texto foi originalmente publicado por Greenpeace Brasil de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.