Gentrificação afasta moradores do centro histórico de Tiradentes

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Por Luana Macieira, da UFMG | Estudantes do quarto período do curso de Turismo realizaram um diagnóstico acerca do desenvolvimento e do potencial de marketing para o turismo em Tiradentes, cidade histórica mineira. O trabalho, que faz parte das atividades da disciplina Marketing de serviços e destinos turísticos, obrigatória no curso de Turismo, mostrou que o município vem sofrendo com a gentrificação, fenômeno que transforma e valoriza determinada área urbana, afastando moradores locais mais antigos e de menor renda.

O diagnóstico indicou que Tiradentes passa por um processo intenso de gentrificação, “uma vez que o aumento da presença de turistas ocorre ao mesmo tempo que a população do município se distancia do centro histórico da cidade e das atividades culturais. É como se tudo ali fosse dos visitantes, dos turistas, e não deles também”, explica a professora Ana Paula Guimarães, do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências (IGC), responsável pela disciplina.

De acordo com Ana Paula, a pesquisa de campo mostrou que esse afastamento do morador local do centro histórico de Tiradentes não alcançou a dimensão religiosa, visto que o tiradentino continua frequentando a região para participar de atividades nesse campo. “Ele pode ter deixado de morar no centro histórico, mas continua presente ali para participar dos eventos religiosos. A gentrificação é complexa porque o tiradentino não pode achar que a cidade é do turista. Além disso, o turismo não deve servir apenas para gerar empregos e renda. O morador precisa estar integrado às atividades locais”, diz.

Além da gentrificação, os estudantes também perceberam a força cultural do município, materializada nos projetos que vêm sendo desenvolvidos em diversos campos, como o da gastronomia. O Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes, por exemplo, atraiu cerca de 60 mil pessoas ao centro histórico do município em sua última edição, em agosto deste ano.

Estudantes do curso de Turismo se reúnem com profissionais da Prefeitura de Tiradentes. Foto por Muriel Bernardo Cabral

Propostas geram mudanças

Para a produção do diagnóstico, os estudantes passaram três dias em Tiradentes, coletando dados e conversando com a comunidade, gestores públicos municipais, empreendedores e turistas. “A intenção era buscar informações para pensar ações para o marketing do destino, considerando que nossa abordagem no curso de graduação em Turismo é preocupada com o social e com a comunidade local. Todo o trabalho foi feito de forma a conceber propostas para que o turismo proporcione retornos à comunidade”, conta Ana Paula Guimarães.

Depois da coleta de dados e entrevistas, os alunos elaboraram as propostas de ações de marketing que serão apresentadas nesta quinta-feira. Segundo a professora, as propostas podem servir de ferramenta para que o município de Tiradentes revise o plano de marketing que a cidade acabou de contratar. “Durante todo o trabalho, contamos com o apoio da prefeitura. Eles terão acesso a todo o material que os alunos produziram e poderão utilizá-lo para a elaboração de ações na cidade.”

Os estudantes do curso de Turismo já produziram diagnósticos semelhantes em várias cidades mineiras, como Cordisburgo, Sete Lagoas, Lagoa Santa e São José da Lapa. Nesta última, cidade sem muita expressão turística, o trabalho de campo dos estudantes inspirou mudanças.

“Estive com o secretário municipal de turismo de São José da Lapa, e ele contou que o trabalho realizado pelos estudantes em 2019 deu origem a projetos relacionados ao turismo. Além disso, o trabalho gerou parcerias como a firmada com a empresa júnior do curso de Turismo, que está em tratativas com a prefeitura para desenvolver o inventário turístico da cidade, instrumento básico para dar início ao processo de planejamento territorial com foco nessa área”, conclui Ana Paula Guimarães.

O diagnóstico sobre Tiradentes será apresentado nesta quinta-feira, dia 15, a partir das 9h, no auditório do Instituto de Geociências, no campus Pampulha.

Este texto foi originalmente publicado pela UFMG de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Thaís Niero

Bióloga marinha formada pela Unesp e graduanda de gestão ambiental. Tentando consumir menos e melhor e agir para alcançar as mudanças que desejo ver na sociedade.

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