A gordofobia é um preconceito que pessoas gordas podem sofrer, que surge de atitudes onde o acusador inicia uma série de argumentações e chacotas na tentativa de ridicularizar e causar mal-estar naquelas pessoas que possam estar acima do peso.
Nos últimos tempos, a obesidade vem sendo amplamente discutida nas redes sociais, conversas em família e grupos de amigos. Afinal, ser obeso é sinal de doença? Ser gordo é sinônimo de feiura? Esse tipo de pensamento ganhou força na década de 90 e início dos anos 2000, quando ser magra tornou-se o principal objetivo das mulheres, o padrão de beleza, graças à expansão da comunicação e do corpo “ideal”.
Na década de 90, a obesidade passou a ser vista como um mal a ser combatido pela medicina e o corpo magro começou a ser reconhecido como sinônimo de beleza e saúde, pensamento que perdura até os dias atuais. A ditadura da magreza trouxe consigo um preconceito contra as pessoas gordas, causando, inclusive, exclusão social.
A expressão gordofobia e a temática ganharam força no Brasil em 2009, quando surgiu a personagem gorda Perséfone, interpretada pela atriz Fabiana Karla, na novela “Amor à Vida”. O objetivo da personagem na trama era perder a virgindade já na fase adulta. Perséfone tinha uma vida financeira e profissional estável, mas para se manter incluída na sociedade e conseguir um relacionamento amoroso, ela tinha o objetivo de emagrecer.
Uma situação parecida aconteceu na vida real com a modelo plus size, Bia Gremion. Antes de se aceitar como gorda, Bia conta que tentou fazer várias dietas, inclusive a dieta do TIC TAC. “A minha vida inteira eu fiz dieta. Teve uma dieta que eu só comia TIC TAC, outra dieta que eu só comia sopa, a dieta para fazer a cirurgia bariátrica, que eu comia apenas bolacha e chazinho”, comentou.
O fato ocorre em todas as partes do mundo e nas mais diversas esferas. Em 2016, Dani Mathers, modelo da revista Playboy, envolveu-se em uma polêmica após fotografar uma mulher nua em uma academia e ter compartilhado a foto nas redes sociais, ridicularizando-a por ser gorda.
Por meio de dietas, cirurgias, procedimentos estéticos, muitas vezes, o ser humano tenta se incluir na sociedade e encontrar sua identidade, entretanto, ao mesmo tempo, pode entrar em uma ditadura pelo peso ideal.
O preconceito em relação às pessoas gordas acaba sendo frequentemente alimentado pela mídia, que entra como contribuinte e agravante da gordofobia. Ao associar magreza à vida saudável, os meios de comunicação se referem ao corpo magro como sinônimo de perfeição. Diversas revistas fazem, frequentemente, matérias com mulheres magras e musculosas, e, dessa maneira, contribuem para que as pessoas com corpos gordos se sintam obrigadas a mudar seu estilo de vida para se encaixarem nos padrões de beleza impostos.
Esses canais comunicativos também estimulam o emagrecimento quando citam dicas de dieta para emagrecer rapidamente e exercícios de academia buscando a diminuição de peso. Muitos filmes também alimentam um ponto de vista deturpado das mulheres gordas, colocando-as em situações humilhantes e criando uma imagem pejorativa destas. Um exemplo disso é a trama ‘O Amor É Cego’, em que o personagem principal Jack Black é visto como herói por ter escolhido namorar com Rosemary, uma mulher gorda.
Durante todo o filme, ele a enxerga como uma mulher magra. Além do título e da história serem completamente ofensivos para com a figura feminina da mulher gorda, em diversas situações a personagem passa por situações constrangedoras – como o episódio em que ela quebra uma cadeira por conta do seu peso – que solidificam ainda mais o preconceito da gordofobia na sociedade.
Para a filósofa Márcia Tiburi, vivemos em um mundo que considera o corpo sem gorduras como ideal. As mulheres estão fazendo exercícios para eliminar as gorduras do corpo, a fim de ter o corpo magro e musculoso. Os padrões atuais se aproximam do padrão geométrico da racionalidade da Grécia Antiga.
Outra vertente a ser discutida é a moda. Isso porque o corpo também é influenciado pelas tendências da moda. Antigamente, as mulheres gordas precisavam vestir maiô na praia, roupas pretas que “escondessem as gorduras” ou roupas que as deixassem mais magras. Na atualidade, com base na moral da boa forma, são ditadas as noções do que é decente e indecente ou do que é considerado apropriado ou não com relação ao vestuário, com isso o ser humano assume como parâmetro a adequação física aos padrões estéticos.
Em outras palavras, o Coletivo Gordas Livres explica o que a gordofobia significa na visão da mulher gorda. Gordofobia é o sentimento de medo, não só do indivíduo gordo, mas da gordura, o medo irracional de se tornar gordo, isso é lipofobia. A gordofobia é o nojo, o asco, o sentimento de raiva e necessidade de afastamento do indivíduo gordo, da gordura e de tudo que a cerca.
Ainda existem poucos coletivos de mulheres gordas no Brasil, apesar de estar em crescente ascensão e as vertentes políticas como o feminismo ainda não conseguem administrar muito bem a problemática.
Infelizmente, a gordofobia não está presente apenas nas redes sociais e nem é feita somente por desconhecidos. Na maioria das vezes, até os próprios familiares contribuem para essa prática do preconceito, quando obrigam seus filhos a fazerem dietas, quando reproduzem frases do tipo “você é muito bonita de rosto filha, mas deveria emagrecer para ficar mais bonita ainda”.
Todo esse preconceito pode gerar vários danos psicológicos irreparáveis à vítima. No caso de crianças, são descritas alterações no comportamento, gerando transtornos alimentares como bulimia e comportamentos de risco como tabagismo, alcoolismo, e práticas nutricionais erradas, a fim de obter o emagrecimento. Além disso, o bullying também pode influenciar no desempenho de crianças na escola.
Os danos se estendem para a vida adulta. Muitas pessoas acima do peso preferem se esconder em casa para evitar olhares estranhos e não gostam de comprar roupa porque se sentem mal ao pedir os tamanhos necessários. Outro fato relatado é ter vergonha de ir a restaurantes, de comer em público porque se sentem vigiados e julgados. Esses fatos podem provocar problemas de saúde mental, como depressão, crise do pânico ou crise de ansiedade.
De acordo com estudos, há uma ligação entre o padrão social baseado no peso corporal, estresse psicológico e desenvolvimento de transtornos alimentares em adultos obesos. Pesquisadores analisaram que o preconceito possui um significativo potencial para estimular problemas alimentares e psicológicos, demonstrando que os aparecimentos destas questões estão vinculados a negativos pensamentos psicológicos provocados por comportamentos gordofóbicos.
As pessoas gordas também sofrem para conseguir emprego. O preconceito também está enraizado no mercado de trabalho, mesmo que este não tenha relação nenhuma com a moda, os empregadores também fazem suas escolhas com base na aparência física. Uma pesquisa chamada Profissionais Brasileiros – Um Panorama sobre Contratação, Demissão e Carreira, mostra que 6,2% dos empregadores assumiram não contratar obesos.
Uma das justificativas das empresas é que os obesos não conseguem se equiparar na agilidade motora dos magros em cargos que exigem isso, bem como profissionais obesos têm maiores índices de comorbidade ao trabalho relacionadas a problemas de saúde e maiores índices de licenças médicas. Toda essa perseguição com pessoas obesas faz com que elas se sintam culpadas e, muitas vezes, ao invés de se unirem e buscarem direitos, essas pessoas tentam fazer cirurgias e dietas perigosas para se livrarem dos traumas que a obesidade traz.
Para se encaixar nos padrões de beleza impostos pela sociedade, mulheres se submetem a procedimentos estéticos que podem custar a própria vida. As mulheres gordas são mais afetadas por esse tipo de preconceito do que os homens.
Além do machismo já enfrentado diariamente, há homens que ainda praticam a gordofobia. Muitos homens – até mesmo homens gordos – deixam de se relacionar com mulheres gordas porque estas estão fora dos padrões de beleza impostos pela sociedade. Alguns fazem chacota e ridicularização da mulher gorda, entre os amigos e até mesmo familiares.
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