Na manhã de hoje (19), em que se celebra nacionalmente o “Dia do Índio”, o Greenpeace Brasil e a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) inauguraram uma usina de produção de oxigênio medicinal em São Gabriel da Cachoeira, região do Alto Rio Negro, no Amazonas. Doada pelo Greenpeace à Foirn, a usina, instalada na Unidade Básica de Saúde (UBS) Miguel Quirino, será gerida pela prefeitura municipal através de um Acordo de Cooperação Técnica consensuado entre organizações da sociedade civil e o poder público local. O evento respeitou todos os protocolos e medidas sanitárias de prevenção e segurança.
Trata-se de uma iniciativa inédita, que irá contribuir com as estratégias de controle da contaminação da Covid-19 justamente no primeiro município que teve seu estoque de oxigênio colapsado no Brasil, no início de maio de 2020. Em janeiro deste ano, houve outra preocupante crise no suprimento de oxigênio em São Gabriel que, apesar de ser um polo regional, fica a 990 km da capital Manaus, a única cidade no estado que possui leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
A instalação dessa usina de oxigênio foi promovida pelo projeto Asas da Emergência, do Greenpeace, que integra uma ampla rede de solidariedade e desde maio de 2020 já transportou 107 toneladas de alimentos e materiais de saúde e proteção para mais de 70 povos indígenas de cinco estados da Amazônia – Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Acre.
“O Greenpeace acredita e trabalha pela defesa da vida, e com a chegada da pandemia no Brasil no ano passado, entendemos que não tínhamos outra opção senão agir somando forças a quem estava precisando. Foram milhares de quilômetros percorridos e mais de 100 toneladas de insumos entregues às populações indígenas na Amazônia até chegar na inauguração desta usina hoje. É admirável pensar que organizações indígenas serão responsáveis pela produção de oxigênio que irá salvar vidas na cidade que tem a maior população indígena do país. Este protagonismo assume um papel ainda mais relevante porque ocorre no momento em que o Brasil enfrenta o pior pico da Covid-19. Certamente, toda essa região estará mais preparada para o enfrentamento da pandemia daqui pra frente, especialmente se ocorrer uma terceira onda”, avaliou André Freitas, coordenador da Campanha Amazônia do Greenpeace Brasil.
Além da Foirn, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e o Instituto Socioambiental (ISA) são outros parceiros que compõem essa ampla articulação de apoio a indígenas que vivem em áreas remotas da Amazônia, em que a logística é um desafio permanente e o acesso à saúde é bastante limitado.
“A Covid mostra que ou a gente trabalha juntos ou tem um massacre, de mortes, de perdas. Diante das limitações e dos poucos recursos, é fundamental trabalhar juntos. Dizem que as ongs têm interesse minerário, internacional, aqui… O que há é interesse de compromisso com a vida, com a causa da população indígena que vive neste território. E a gente mostrou isso. Quem trabalha com a gente são organizações sérias. Se não fosse por estas parcerias, a gente não estaria com esta usina aqui instalada, que beneficiará a saúde na cidade e no interior. A gente não precisa voltar às manchetes dizendo que estamos no caos ou no calvário de um desastre da saúde no Alto Rio Negro. Esta é uma conquista coletiva, resultado de um esforço conjunto do movimento indígena, sociedade civil e poder público”, ressaltou o cacique Marivelton Barroso, do povo Baré, presidente da Foirn, antes de puxar o laço da faixa de inauguração, juntamente com representantes de outras instituições.
A usina de oxigênio vai operar com alta performance, envasando até 12 cilindros de 50 litros diariamente, com oxigênio a 95% de pureza. Toda a região de abrangência da Foirn que, além de São Gabriel da Cachoeira, também engloba os municípios de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, irá se beneficiar do oxigênio produzido.
A definição do local de instalação da usina é resultado de um diálogo iniciado em dezembro de 2020 e sua implantação, após avaliar um amplo mapeamento, é estratégica pela abrangência da área que será atendida. Lar de 23 povos indígenas, que vivem em cerca de 750 comunidades, a população do Baixo, Médio e Alto Rio Negro totaliza aproximadamente 100 mil habitantes. Segundo um estudo da Coiab, a taxa de mortalidade pelo coronavírus entre indígenas (o número de óbitos por 100 mil habitantes) é 150% mais alta do que a média brasileira, e 19% mais alta do que a registrada somente na região Norte – a mais elevada entre as cinco regiões do país.
No atual cenário desolador e sem saber quando, de fato, estaremos todos vacinados e protegidos, o desafio de ajudar quem precisa continua extremamente necessário. Não temos poupado esforços na defesa da vida e o Asas da Emergência, mais uma vez, demonstra que juntos somos mais fortes.
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