Greta Thunberg defende cessar-fogo como parte da justiça climática no contexto palestino-israelense

Compartilhar

A ativista sueca Greta Thunberg, uma das vozes proeminentes na luta contra a crise climática, fez nesta segunda-feira (23) um discurso contundente, relacionando a devastação ambiental com os conflitos humanos em Gaza e outras áreas palestinas. Em suas redes sociais, a ativista climática destacou a Chevron, uma das maiores empresas de petróleo e gás do mundo, como exemplo de uma corporação que contribui para a crise climática e para a opressão de populações vulneráveis

Segundo a ativista, “o que está acontecendo em Gaza e em outras áreas não é apenas uma questão de direitos humanos, mas também uma questão de justiça climática”. Ela denunciou a exploração de recursos naturais palestinos e a destruição ambiental que ocorre no território, conectando isso à opressão dos palestinos e aos impactos devastadores da crise climática, como a contaminação de terras e águas.

Chevron: uma gigante dos combustíveis fósseis

A Chevron Corporation é uma empresa multinacional americana de energia, envolvida em todas as fases da indústria de petróleo e gás, desde a extração até a distribuição. Com operações em mais de 180 países, a Chevron é frequentemente acusada de práticas que desrespeitam o meio ambiente, como derramamentos de óleo, poluição de águas e solo, e contribuições significativas para o aumento de emissões de gases de efeito estufa. Essas práticas são criticadas por agravarem as mudanças climáticas e afetarem desproporcionalmente comunidades já vulneráveis, como as da Palestina.

Greta Thunberg enfatizou a necessidade de boicotar a Chevron como parte de um esforço mais amplo para responsabilizar empresas que lucram com a destruição ambiental. Ela mencionou que as operações da Chevron e outras corporações de combustíveis fósseis em áreas de conflito exacerbam tanto a degradação ambiental quanto a opressão humana, criando uma “injustiça climática”.

O que é justiça climática?

A justiça climática é um conceito que reconhece que as mudanças climáticas não afetam todas as pessoas de maneira igual. Comunidades vulneráveis, muitas vezes as menos responsáveis pela crise climática, são as mais afetadas pelos seus impactos. Além disso, países e corporações que historicamente contribuíram mais para as emissões de carbono e poluição ambiental frequentemente perpetuam sistemas que beneficiam alguns às custas de muitos.

No caso palestino, Thunberg destacou que a destruição de terras e recursos naturais sob ocupação e conflito não pode ser dissociada da questão climática. A exploração de recursos por corporações como a Chevron, em territórios ocupados, representa uma injustiça para o povo palestino e para o planeta. A ativista enfatizou que “não podemos ficar de braços cruzados e assistir à destruição do meio ambiente e das vidas humanas”, apelando para ações globais em defesa dos direitos humanos e do clima.

O papel da sociedade civil

Greta Thunberg chamou atenção para o papel da sociedade civil e dos movimentos globais em pressionar corporações e governos a tomarem medidas concretas contra as injustiças climáticas e os abusos dos direitos humanos. Ela ressaltou a importância de unir forças para boicotar empresas como a Chevron, que se beneficiam da exploração de recursos em áreas de conflito, enquanto contribuem para a destruição ambiental.

O discurso de Thunberg traz à tona uma questão fundamental: a necessidade de integrar a justiça climática nas discussões sobre paz e segurança globais. Para ela, não pode haver uma verdadeira justiça sem a proteção dos direitos humanos e do meio ambiente de forma simultânea, e o cessar-fogo em áreas de conflito deve ser visto também como uma medida de proteção climática.

Impactos ambientais da guerra

As emissões de carbono geradas por atividades militares não são obrigatoriamente relatadas pelas nações signatárias do Acordo de Paris, mas especialistas defendem que isso precisa mudar. Conflitos armados e a militarização têm impactos significativos no clima, e há crescente pressão para que as emissões militares sejam incluídas nas metas climáticas dos países.

Para se ter uma ideia, o custo climático dos primeiros 60 dias da resposta militar de Israel foi equivalente à queima de pelo menos 150 mil toneladas de carvão. Ellie Kinney, do Observatório de Conflitos e Meio Ambiente, enfatiza que a interconexão entre guerra e crise climática precisa ser abordada, especialmente nos relatórios da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).

Apesar disso, a contabilização das emissões militares apresenta desafios. Relatórios voluntários dificultam a transparência, já que poucos países divulgam dados precisos, e a natureza reservada das operações militares torna as estimativas imprecisas. Em 2022, um relatório sugeriu que as forças armadas poderiam ser responsáveis por até 5,5% das emissões globais de gases de efeito estufa, embora essa cifra possa estar subestimada. Organizações ambientais pedem maior rigor e clareza nos relatórios à ONU, argumentando que a crise climática exige ações mais transparentes e abrangentes.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais